Armanda Santos e Jessica Silva, de 73 e 24 anos, respectivamente, integram o projecto de combate à solidão que decorre em Óbidos

Lançada no início de Maio, esta iniciativa consiste num telefonema regular de jovens a idosos do concelho de Óbidos, com o objectivo de tornar a vida destes seniores menos solitária. Actualmente quatro jovens voluntários comunicam com vinte seniores

Armanda Santos, de 73 anos, mora sozinha com a cadela, no centro da localidade do Vau, em Óbidos. De manhã ainda sai para ir tomar o pequeno-almoço ou fazer as compras no supermercado, mas as tardes são sempre passadas em casa. Viúva, a septuagenária não esconde o gosto que tem em conversar e como este projecto se revelou uma lufada de ar fresco na sua vida.
“A Joana [Conceição] telefonou-me ontem. Falámos da vida, do que eu passei, dos programas que vemos na televisão, mas não dizemos mal de ninguém!”, conta Armanda Santos sobre as conversas que mantém com a jovem voluntária.
Falam ao telefone uma vez por semana e já se consideram amigas. No entanto, nunca se viram pessoalmente. A idosa soube do projecto através da Junta de Freguesia e mostrou-se desde logo receptiva. “Claro que aceitei, gosto de conversar”, conta, acrescentando que os seus momentos de solidão são também esbatidos pelo contacto das amigas de mantém em S. Marcos (Oeiras), onde morou vários anos.
Alfacinha, Armanda Santos reside no Vau desde 2006 e, desde que enviuvou, está sozinha, pois os quatro filhos residem no estrangeiro. As conversas são por Skype, apesar da septuagenária garantir que não percebe nada das novas tecnologias.
Também residente no Vau, Jessica Silva, de 24 anos, é voluntária neste projecto intergeracional. Contudo, não é ela quem conversa com Armanda Santos, pois quando esta se inscreveu a jovem já tinha iniciado o processo com quatro idosos, das freguesias da Amoreira, Usseira e Vau.
A finalista da licenciatura em Turismo foi convidada a participar no projecto pelo Serviço da Juventude do município, que se começou a perceber que na altura da pandemia alguns idosos estavam muito solitários. “Ainda é uma faixa etária um bocadinho desprotegida e eu, e outros jovens, achámos que era oportuno e uma forma de nos sentirmos úteis”, conta à Gazeta das Caldas. Para além disso, também estavam confinados em casa e era uma forma de “ajudar e poder fazer a diferença na vida dos idosos”, concretiza.

“AS CHAMADAS FORAM SEMPRE A ESCALAR”

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Uma vez por semana os quatro jovens voluntários ligam aos idosos para esclarecer dúvidas que possam ter e conversar. Também tentam identificar se estes estão bem, qual o estado de espírito e a tentar melhorar-lhes o dia. Quando se apercebem que o idoso precisa de algo, comunicam com as juntas de freguesia, que depois dão seguimento para a concretização do que seja necessário. São elas que tem ajudado na distribuição de alimentos, medicamentos e também no aconselhamento dos serviços públicos.
“Alguns deles têm necessidade de falar e partilhar as suas histórias, vivências e conseguimos identificar a diferença de vida de uma geração para a outra”, conta Jessica Silva, que considera que o projecto também é muito importante para os jovens, pois permite-lhes fazer uma comparação entre a realidade actual e a de outros tempos. “Na minha opinião, em certos aspectos, os idosos tiveram uma vida muito mais rica e livre, porque não cresceram tão agarrados às redes sociais e não havia a protecção dos pais que se verifica hoje em dia”, refere.
E, para partilhar as histórias de vida, é preciso tempo. “As chamadas foram sempre a escalar”, conta a voluntária, recordando que, na primeira semana não ultrapassaram os 10 a 15 minutos, e limitaram-se às apresentações e a perguntar se precisavam de alguma coisa. Já nas semanas seguintes, os telefonemas têm demorado até duas horas. “Há sempre conversa, resultado da evolução da confiança que se foi ganhando”, diz a jovem, que não conhece pessoalmente algumas das pessoas com quem fala.
Também houve o objectivo de saber se os idosos tinham algum gosto especial por leitura ou poesia e, no caso de Jessica, uma das suas novas amigas escreve poemas, que lê durante a chamada telefónica e depois falam sobre eles.

ENCONTRO PARA SE CONHECEREM

O passo que se segue consiste em conhecerem-se pessoalmente – jovens e idosos – quando a pandemia assim o permitir, num encontro que estão a planear.
Este projecto resulta de uma parceria entre o município de Óbidos e a Associação Rizoma Colony e teve a aprovação da sua candidatura junto do IPDJ, através do Programa Geração Z. A vereadora Margarida Reis sublinha que, nesta fase de desconfinamento, torna-se essencial dar-lhe continuidade, esclarecer todas estas pessoas sobre esta nova fase e ajudá-las no seu dia-a-dia. Realça que o voluntariado jovem faz parte da estratégia de desenvolvimento do município e que estas acções dão aos jovens a oportunidade de mostrar solidariedade, compromisso e ajudar a resolver situações desafiadoras. “É também através destas experiências que desenvolvem as suas habilidades e obtêm uma experiência pessoal inestimável”, conclui.

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