Nos 95 anos da Gazeta das Caldas

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Marcelo Rebelo de Sousa | DR

Marcelo Rebelo de Sousa

Fundada em 1925 por um grupo da elite local de Caldas da Rainha – «uma plêiade brilhante de mocidade», como o próprio jornal o designou –, a Gazeta das Caldas assumiu, logo no primeiro número, um marcado pendor regional.
Na verdade, desde o seu primeiro número, e até hoje, a Gazeta das Caldas ostenta o subtítulo de «jornal regionalista», o que bem define o perfil desta publicação – e o seu carácter.
A Gazeta das Caldas proclamou-se ainda «livre em absoluto de toda a política de partidarismo» e, de facto, só um arreigado espírito de independência, aliado a um incansável trabalho pela qualidade da informação e da opinião, permitem que um periódico consiga alcançar 95 anos de existência sem nunca perder o interesse de muitas gerações de leitores.
A imprensa regional e local encontra-se em crise, como bem sabemos, situação exponenciada pela actual pandemia.
Como leitor atento de jornais, onde colaborei durante várias décadas, mas, acima de tudo, como Presidente da República, tenho sérias preocupações quanto ao futuro da imprensa local. Sem ela, sem o seu contributo diário ou semanal, sempre insubstituível, a qualidade da democracia em Portugal irá ressentir-se de forma acentuada, seja por dificuldade de acesso a informação de proximidade, isenta e credível, seja por escassez de meios alternativos de difusão de opinião esclarecida e de qualidade. Jornais como a Gazeta das Caldas têm um papel absolutamente essencial na informação das populações e na promoção de uma cidadania activa e empenhada.
A imprensa regional constitui uma dimensão do poder autárquico a que por vezes não se dá o devido relevo, mas que tem uma importância tão crucial como foi a consagração, na Constituição de 1976, do princípio do autogoverno local, uma das mais felizes realizações do Portugal democrático.
A imprensa local desempenha também uma acção decisiva na ligação entre as populações e a suas terras, contributo tão mais valioso quanto é através dos jornais regionais que milhares de Portugueses que se encontram longe do lugar onde nasceram e cresceram, vivendo inclusive no estrangeiro, mantêm a sua admirável fidelidade às raízes, que procuram legar às gerações vindouras.
É disso que se forja o espírito da portugalidade.
É isso que mantém viva a chama do patriotismo democrático. Por estas e muitas outras razões, felicito calorosamente a imprensa regional e, em particular, a Gazeta das Caldas e todos quantos nela colaboram. E estou certo de que, apesar das adversidades do presente, o talento dos jornalistas, a liderança das direcções e, sobretudo, a fidelidade dos leitores permitirão à Gazeta das Caldas vencer mais um sobressalto de um percurso longo, longo de quase um século.
Parabéns, Gazeta das Caldas!

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