Emigrante aprendeu a ler Português através da Gazeta

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Mathias Isidoro com o pai Francisco e a mãe Paula, que vivem em Saint-Brice-sous-Forêt, nos arredores de Paris | DR

Mathias Isidoro nasceu em França e desde sempre se habituou a ter o jornal em casa, através da assinatura dos avós e, depois, dos pais, que são da Dagorda. Para comunicar com os amigos pelo Messenger, decidiu ler a Gazeta e aprender a escrever a língua de Camões

A presença da Gazeta das Caldas foi sempre uma constante na vida de Mathias Isidoro, que se habituou a folhear as páginas do jornal em casa dos avós e, mais tarde, em casa dos pais, em Saint-Brice-sous-Forêt, nos arredores de Paris. Quando era criança, aproveitava para “olhar para as fotografias” e tentava “reconhecer pessoas conhecidas” da aldeia da A-da-Gorda. Já adolescente, tirou ainda mais partido do jornal, para… aprender a escrever a língua de Camões.
“Queria falar com os meus amigos no Messenger e, como não tinha Português na escola, sentia dificuldades em comunicar. Não me percebiam. Então, passei a pesquisar nas páginas do jornal as palavras que precisava para que me entendessem melhor”, recorda.
Ao contrário do que sucedeu durante muitas décadas, hoje em dia, Mathias Isidoro reconhece que “é mais fácil” acompanhar a realidade de Óbidos e das Caldas à distância. “Temos informação ao minuto, com os sites e as redes sociais. Estamos mais próximos do que antigamente”, observa. Porém, recorda, com nostalgia, os tempos em que ler a Gazeta motivava uma reunião familiar.
“Creio que recebíamos o jornal pelo correio na semana seguinte, mas era sempre motivo de um encontro. Todos queríamos saber o que se passava na terra”, nota o gaulês, de 25 anos, que continua a ler a Gazeta das Caldas, mas através da assinatura on-line, tal como muitos milhares de emigrantes espalhados pelos quatro cantos do mundo.
De resto, como colabora numa rádio local, o jovem dá particular importância aos media e acredita que, “mesmo hoje em dia, com tantas fontes de informação disponíveis, as pessoas gostam de ler o jornal da terra, para saber o que se passa”.
“Há sempre uma ligação forte entre a comunidade emigrante e as nossas origens. E mesmo que a tecnologia aproxime as pessoas, o jornal tem muita credibilidade e procura”, sublinha.

ORGULHO NAS RAÍZES

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Além de trabalhar como responsável num supermercado, Mathias Isidoro é radialista e responsável pelo programa Luso Mundo, na IDFM Radio Enghien, e com frequência faz intercâmbios com rádios locais portuguesas.
“Há dois anos fizemos o directo com o João Carlos Costa [na 91FM] no Carnaval das Caldas. As pessoas apreciam muito esses conteúdos”, nota o também dirigente da Associação Portugal de Norte a Sul, que ajudou a fundar em 2012.
Apesar de ter nascido em França, Mathias Isidoro é um ferrenho adepto do Caldas e tem “muito orgulho” nas raízes familiares no concelho de Óbidos.
Os avós emigraram ainda na década de 1960, à procura de uma vida melhor, e fazem questão de voltar regularmente à aldeia. O pai, Francisco, nasceu em Óbidos e foi para França com ano e meio e a mãe, Paula, já nasceu em terras gaulesas.
Este ano, por causa da pandemia, “ainda não foi possível voltar”, mas viajam “várias vezes por ano. Precisamos de ir aí para ganhar energia. Até o ar que se respira é diferente”, graceja o jovem francês, que tinha seis meses quando visitou “a aldeia” pela primeira vez e, apesar de “adorar” A-da-Gorda, pretende ficar por França. De preferência, a ler as páginas da Gazeta.

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