Foi apresentado plano com o qual o município pretende catapultar a atividade desportiva desde o lazer ao alto rendimento. Aposta ampla visa desde as instalações desportivas ao apoio aos clubes e tem como uma das bandeiras a candidatura a Cidade Europeia do Desporto em 2028
O Município das Caldas da Rainha apresentou no passado dia 20 de março o Plano Estratégico do Desporto e Atividade Física 2025-2030. Destacando a importância do investimento da autarquia no desporto não apenas pela promoção da saúde e bem-estar, mas também pelo impacto na economia local, na coesão social, na diplomacia e na igualdade de oportunidades, o plano projeta um concelho que se quer tornar uma referência nacional no campo do desporto.
A construção do plano iniciou-se em março de 2023 e envolveu um amplo processo de auscultação de diferentes agentes do setor. Após recolher toda a informação, a equipa consolidou os dados e estruturou um plano com ações concretas para o futuro.
O Plano traça o panorama da prática desportiva no concelho. De acordo com Tiago Sousa, que coordenou o estudo, cerca de 43% da população caldense pratica desporto ou atividade física, um valor acima da média nacional, mas ainda abaixo dos 55% registados na União Europeia.
O concelho regista mais de 6 mil pessoas a frequentar ginásios, representando uma taxa de penetração de 12%, muito superior à média nacional, que se situa nos 6,9%. Entre os praticantes, 2.596 são atletas federados, número que tem vindo a crescer, embora as mulheres representem apenas 30% do total.
No desporto escolar, há cerca de mil alunos envolvidos, incluindo 20 na Unidade de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE) e 45 estudantes-atletas inscritos na Federação Académica do Desporto Universitário (FADU). No desporto adaptado, foram identificados 138 praticantes, dos quais apenas oito estão federados. Já no âmbito do INATEL, há 75 atletas em duas modalidades, futebol e tiro.
Os eventos desportivos também ganham destaque, com 30 competições anuais, dos quais cinco têm carácter internacional, movimentando mais de 12 mil participantes. Para 2025, está prevista a realização de 38 eventos. O investimento municipal no desporto foi de 2,7 milhões de euros em 2023, representando 6,44% do orçamento total, o dobro da média nacional, indica o estudo.
Ao nível das instalações desportivas, o documento identificou 141 infraestruturas artificiais no concelho e ainda percursos pedestres e cicláveis, além do plano de água da Lagoa, que oferecem oferta natural “que pode ser potenciada”, sublinhou Tiago Sousa. Um questionário realizado junto da população revelou que 52% dos inquiridos consideram fundamental a criação de um espaço indoor acessível para a prática desportiva informal, que está a ser estudado pelo município. Outras sugestões apontadas incluem a criação de infraestruturas para modalidades como escalada, mini golfe, padel, corrida de obstáculos, pickleball e uma pista de BMX.
Seis eixos e 67 objetivos para 2030
A segunda parte do Plano visa projetar o futuro do desporto e atividade física nas Caldas da Rainha e, para tal, fixa seis eixos alinhados com sete dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. O plano conta com 67 objetivos, alguns deles já em marcha.
O primeiro eixo é a sustentabilidade e inovação. Entre as propostas está o Green Sport, um projeto que incentiva os clubes a adotarem estratégias sustentáveis. Outra será a criação do Caldas Sports Lab, um laboratório que pretende apoiar os clubes com ferramentas para melhorarem o rendimento dos seus atletas.
Um dos desafios atuais dos clubes é a captação de financiamento, e para isso será criada uma equipa especializada no apoio à elaboração de candidaturas a fundos nacionais e internacionais, com o propósito de ajudar a identificar oportunidades e a estruturar candidaturas, reduzindo a dependência dos subsídios autárquicos.
No que toca à diversificação da oferta, está prevista a criação de um Hub de Desportos de Raquete, reunindo modalidades como ténis, padel, ténis de mesa e pickleball. O projeto das Rotas Verdes propõe a criação de percursos pedestres e cicláveis que unam as várias freguesias do concelho. Paralelamente, será promovido o ciclismo como desporto e meio de transporte. “Temos atletas de referência no ciclismo e um evento planeado para capitalizar o potencial turístico desta modalidade”, apontou o autor do estudo.
O termalismo no contexto desportivo é visto como uma forma de promover o território como um centro de recuperação de atletas, tirando partido das propriedades terapêuticas das águas termais. E a vertente da saúde será reforçada com o programa Exercise is Medicine, que prevê a implementação de iniciativas específicas para problemas de saúde diagnosticados nas Unidades de Saúde Familiar, como hipertensão, obesidade e diabetes.
O Plano define uma forte aposta na modernização e criação de instalações desportivas e espaços ativos, procurando responder às necessidades atuais e futuras da população.
Entre as principais requalificações previstas estão a do skatepark, do Centro Náutico da Foz do Arelho, dos Pavilhões Rainha D. Leonor e da Mata, assim como intervenções nas instalações do tiro do Arco Clube das Caldas e no Complexo Desportivo do Campo.
Outras das prioridades passam por criar um mini Complexo Desportivo de Praia na Foz do Arelho, a expansão das infraestruturas para modalidades emergentes, como o Hub de Desportos de Combate e Artes Marciais e a valorização das paredes de escalada da Serra do Bouro.
A identificação de espaços públicos com potencial desportivo também faz parte do plano, com destaque para o Parque D. Carlos I, onde podem nascer novas zonas para atividade física e lazer, mas também em zonas urbanas, como becos ou zonas degradadas que podem ganhar nova vida com equipamentos desportivos.
Por fim, um dos estudos em curso diz respeito ao incremento do número de campos de futebol. “Sabemos que a necessidade existe, mas é preciso quantificá-la, perceber quantos atletas cada clube tem, qual a previsão de crescimento e onde faz sentido construir novos espaços”, explicou Tiago Sousa.
A estratégia assenta ainda em eixos como a Coesão social e inclusão, garantindo igualdade de acesso ao desporto para todos, a Prática desportiva, incentivando a diversidade e a qualidade da oferta desportiva, a Governança e cooperação, fomentando um trabalho articulado entre entidades públicas e privadas, e a Comunicação, com vista a melhorar a divulgação das iniciativas e criar uma imagem distinta e agregadora para a oferta e as infraestruturas desportivas.
O objetivo é consolidar as Caldas da Rainha como um território onde o desporto desempenha um papel central na vida da comunidade, refletindo-se não só na saúde e bem-estar da população, mas também na dinamização da economia local e na projeção da cidade a nível nacional.
Uma das grandes apostas do município para cimentar Caldas da Rainha como um centro desportivo de referência é a candidatura a Cidade Europeia do Desporto em 2028. Tiago Sousa sublinhou que esta será uma das iniciativas mais exigentes do plano, mas também uma oportunidade única para dinamizar o desporto no concelho. “Ser Cidade Europeia do Desporto implica ter um evento por dia, 365 eventos ao longo do ano. É um desafio grande, mas que nos coloca pressão para elevar a fasquia e melhorar progressivamente o nosso desenvolvimento desportivo”, afirmou.
O presidente da Câmara, Vítor Marques, sublinhou a importância do desporto como um motor de desenvolvimento para o concelho, tanto a nível social como económico. O autarca destacou o papel das associações desportivas locais e reafirmou o compromisso da autarquia na criação de condições para o crescimento do setor e sublinhou a importância da complementaridade com outros municípios vizinhos, como Óbidos e Rio Maior, apontando a aposta no turismo desportivo como uma estratégia essencial. “Temos entidades interessadas em investir, na hotelaria e em infraestruturas, porque aquilo que oferecemos aqui é único”, concluiu.

































