Campo da Mata
Árbitro: Vítor Ferreira (AF Braga)
Auxiliares: Valdemar Maia e Pedro Fernandes
CALDAS 1
Luís Paulo [5]; Juvenal [4] (Rony [4] 69’), Militão [5], Rui Almeida (C) [4] e Clemente [5]; Paulo Inácio [4] e Simões [5]; Farinha [3], Felipe Ryan [4] (Cruz [3] 90’+4) e João Tarzan [5]; Pedro Emanuel [4] (Januário [3] 74’)
Não utilizados: Natalino, Cascão, Marcelo, Vítor Tarzan
Treinador: José Vala
ACADÉMICA 1
Ricardo Ribeiro; Mike, Yuri (Ki 64’), João Real e Nelson Pedroso; Ricardo Dias e Guima (Harramiz 46’); Marinho (C), Chiquinho e Luisinho; Djoussé (Tozé Marreco 91’)
Não utilizados:
Treinador: Ricardo Soares *4-2 PEN
Ao intervalo: 1-0
Marcadores: João Tarzan (19’), Mike (68’)
Penáltis: 1-0 João Tarzan, Nelson Pedroso (falhou), 2-0 Clemente, Chiquinho (falhou), 3-0 Cruz, 3-1 Ki, Januário (falhou), 3-2 Harramiz, 4-2 Simões
Disciplina: amarelo a João Tarzan (20’), Guima (36’), Clemente (36’), Farinha (42’ e 45’+1), Nelson Pedroso (65’), Ricardo Dias (81’), Januário (90’+1), Paulo Inácio (105’), Simões (107’), Chiquinho (113’), Militão (115’), Harramiz (115’). Vermelho por acumulação a Farinha (45’+1). Ricardo Soares foi expulso do banco aos 45’
A história e os números diziam que o Caldas tinha boas perspectivas de afastar a Académica. Os caldenses acreditaram, encheram por completo a parte do Campo da Mata que lhes estava destinada e deram a força extra para que os jogadores se agigantassem dentro das quatro linhas. O que à partida podia parecer difícil, foi-se tornando cada vez mais real com o desenrolar do jogo. E o triunfo conquistado nas grandes penalidades só elevou a carga emocional de uma vitória histórica e estoica de uma equipa até jogou 75 minutos com menos um jogador.
O Caldas começou o jogo ao ataque e aos três minutos de jogo já tinha criado duas oportunidades junto da baliza de Ricardo, com um centro de João Tarzan para Farinha que se estatelou na área, aparentemente sem falta, e um remate de longe de Simões. Era um Caldas a dizer claramente que estava ali para discutir o jogo de forma destemida.
A Académica respondeu e foi subindo as linhas, mas não contaria com um tão forte acerto do Caldas no posicionamento defensivo. Com as equipas em esquemas idênticos, os capas negras não conseguiam criar desequilíbrios pela zona central e eram obrigados a utilizar os flancos para atacar, quase sempre com os laterais Mike e Nelson Pedroso a assumirem o protagonismo, mas incapazes de criar grande embaraço à baliza de Luís Paulo.
O adiantamento da Académica era um convite ao Caldas para atacar, com Pedro Emanuel a fazer um excelente trabalho entre os centrais a proporcionar a integração dos companheiros nas acções de ataque.
E ao minuto 19 tudo se conjugou para o golo aparecer. Farinha colocou a bola na área logo à saída do meio campo, João Real ganhou no ar mas Tarzan, que estava ‘escondido’ a actuar pela esquerda, apareceu no meio, recolheu a bola com o peito, ajeitou para o remate e colocou em delírio os cerca de seis mil caldenses na bancada. O Caldas e o seu goleador voltavam a marcar 440 minutos depois do golo ao Arouca, interrompendo a seca de golos que se instalou desde então.
A passagem estava à mercê do Caldas, mas havia ainda muito para jogar e apesar do Caldas controlar as jogadas de bola corrida, o perigo vinha das bolas paradas. Guima e Ricardo Dias visaram com perigo a baliza de Luís Paulo, mas o guardião mostrou que estava em mais um grande dia.
No entanto, a terminar o primeiro tempo parecia que o céu caía sobre o Caldas. Farinha, que há quatro minutos tinha visto amarelo, viu o segundo no primeiro minuto do tempo de compensação. O Caldas ia jogar, pelo menos, toda a segunda parte com menos um jogador.
SOFRER COM MENOS DOIS
Mas a Académica não mostrava grandes melhorias. O Caldas mantinha uma organização a toda a prova e só ao minuto 60 os estudantes chegavam perto do golo, num lance de insistência com Djoussé a passar Militão já na área, Luís Paulo afastou a bola e Harramiz cabeceou na recarga por cima.
Ricardo Soares, já a ver o jogo da bancada, não gostava do que via e lançava o sul coreano Ki para organizar jogo, abdicando de um central. Três minutos depois, o Caldas ficava sem Juvenal, que ficou magoado após um corte arrojado no chão. O Caldas não conseguiu operar a substituição rapidamente e com menos dois jogadores sofreu o empate. Luisinho cruzou largo, o lateral Mike finalizou com sorte, com a bola a raspar-lhe da cabeça para o ombro para fazer um chapéu a Luís Paulo.
José Vala refrescou o ataque e Januário quase marcou momentos depois de entrar, com um remate na ressaca de um canto que obrigou Ricardo a uma grande defesa. O lance mostrava que, além de concentrado na defesa, o Caldas estava vivo no ataque.
Até ao final dos 90 o Caldas manteve-se focado e a sensação de perigo do ataque da Académica não passava disso mesmo.
No entanto, no prolongamento não foi bem assim. João Real, Luisinho, Marinho e Nelson Pedroso obrigaram Luís Paulo a defesas de elevado grau de dificuldade, quase sempre na sequência de lances de bola parada.
Mas a segunda parte do prolongamento começou com o Caldas à beira do golo. Num lance de saída de bola que os alvinegros têm ensaiado várias vezes, Cruz isolou-se e bateu Ricardo Ribeiro, mas Ricardo Dias leu bem o lance e substituiu o guarda-redes. O Caldas continuava a acreditar e aguentou mais aqueles 15 minutos finais com apenas mais um sobressalto, no qual valeu a coragem de Luís Paulo no um para um com Harramiz.
Faltavam as grandes penalidades, mas ali não havia desvantagem numérica, não havia diferença no cansaço, não havia diferença de escalões. O Caldas foi quase perfeito da marca dos 11 metros, na Académica falharam os especialistas das bolas paradas. O Caldas ganhou, com justiça, com mérito, com muito trabalho e dedicação.
|J.R.
MELHOR DO CALDAS Luís Paulo 5
|J.R.
O Caldas não teria passado mais esta eliminatória, que teve um grau de dificuldade superior à anterior com o Arouca, se apenas um dos seus jogadores tivesse tido uma exibição a roçar a perfeição e o título de melhor em campo também ficaria bem atribuído a Simões, que preencheu de forma sobre-humana o meio campo, com especial ênfase a partir da expulsão de Farinha, mantendo a classe habitual com a bola nos pés e teve a frieza para bater de forma sublime o penálti decisivo. No entanto, como última barreira Luís Paulo foi chamado muitas vezes à acção e aguentou o barco com intervenções por vezes inacreditáveis. Quem diria que esteve até à última em dúvida para o jogo…
João Tarzan, jogador do Caldas Um arrepio e uma lágrima
| D.R.
Estivemos bem. Temos um espírito combativo muito forte, que empregamos em todos os jogos. Fizemos um golo. Foi uma boa jogada, o Farinha colocou a bola, o Pedro trabalha muito bem a bola e tentei aproveitar, correu bem e deu para tranquilizarmos as coisas. Depois sofremos um golo em que temos que lhes dar mérito, foi um bom cruzamento. E nos penáltis fomos frios o suficiente para fazer os nossos golos. Sabe muito bem jogar assim com as bancadas cheias. Quando começou o jogo as bancadas não estavam ainda cheias, lembro-me a dada altura em que houve uma paragem de olhar para cima e vi o estádio cheio e foi só mais um arrepio e uma lagrimazinha que caiu, foi muito bom. Contra o Farense a dificuldade é a mesma, o que nós queremos é ganhar, mas primeiro tempos que pensar no campeonato.
José Vala, treinador do Caldas Jogadores são heróis
Se fosse a Académica a fazer isto a um grande os jornais iam dizer que os jogadores seriam os heróis, espero que digam o mesmo de nós. O sentimento que tenho é que os jogadores foram uns heróis, é um marco grande para o clube, uma história bonita, mas jogar tanto tempo com 10 elementos, suportar jogar com linhas muito baixas com um adversário com muita qualidade. E nos penáltis não é só sorte, também uma grande confiança e tivemos tudo. Ao intervalo disse que estávamos a dar uma excelente imagem, que o público de certeza que estava orgulhoso do que estávamos a fazer, que tínhamos que dedicar a vitória ao Farinha, que tinha sido expulso. Essa expulsão tinha que ser um tónico para nos tornar mais fortes e coesos.
A taça tem que servir como um tónico para a nossa realidade, que é o campeonato. Quem faz isto contra a Académica e contra o Arouca tem que fazer mais no nosso campeonato.
Tiago Aguiar, tr. adjunto da Académica Sete oportunidades flagrantes
A Taça de Portugal é uma competição em que as equipas mais pequenas se transcendem, estávamos preparados, estudámos muito bem o Caldas. Não entrámos muito bem no jogo, mas a partir dos 15 fomos melhores, muito superiores. Tivemos seis ou sete oportunidades flagrantes, o Luís Paulo é o melhor jogador em campo. Foi meramente falta de eficácia.
Lutámos sempre, tentámos por fora, por dentro, não conseguimos marcar.