O desporto caldense tem sido pródigo nos últimos anos em dar títulos distritais, nacionais e até internacionais à cidade, mas há um clube que o tem feito de forma constante ao longo dos seus mais de duas décadas. No início de uma nova época, Gazeta das Caldas foi perceber como funciona esta autêntica fábrica de campeões do Acrotramp Clube das Caldas.
A Acrotramp Clube das Caldas está a iniciar uma nova época após uma das temporadas de maior sucesso na história do clube. “Foi uma época de excelência, com títulos coletivos em todos os aparelhos da ginástica e títulos individuais em cama elástica e tumbling”, realça Stélio Lage, presidente do clube e também técnico.
Além dos títulos, o clube conseguiu inscrever o ginasta Miguel Faria, do tumbling, como ginasta de elite sénior, “o que não é fácil, existem três ou quatro no país”. Miguel Faria conseguiu-o devido à dificuldade das marcas que atingiu e que o apuraram para o Campeonato do Mundo por Idades, que vai disputar em Novembro na Bulgária. Também Henrique Lino voltou a apurar-se para os campeonatos do mundo, mas não irá estar presente.
Em relação a essa participação de Miguel Faria, Stélio Lage acrescenta que o ginasta caldense terá em Outubro uma prova internacional em Loulé que será uma antecâmera dos mundiais e permitirá aferir o nível de dificuldade que poderá atingir na Bulgária.
Para a nova época, Stélio Lage acredita que não será fácil manter o nível de resultados obtido em 2017, mas mesmo assim as perspectivas são boas, não só para o futuro próximo, como a médio prazo. “Temos um conjunto de atletas com 9 a 11 anos que estamos a preparar para estarem num patamar idêntico aos que estão agora em competição”, revela, acrescentando que desde a fundação, em 1991, o clube tem conseguido títulos nacionais em praticamente todas as épocas. Um ritmo que se vai tornando cada vez mais valoroso tendo em conta que “cada vez há mais clubes e mais ginastas federados”.
A sustentação para o clube se manter no topo é a base de recrutamento que existe e que não tem sido afectada pela oferta desportiva que existe nas Caldas da Rainha. De resto, os ginastas de competição representam menos de um terço do total de ginastas que têm actividade no clube, num total que ultrapassa os 170. Stélio Lage recorda que o clube foi fundado para promover prática orientada de ginástica ao maior número possível de crianças. “É uma atividade que faz bem à saúde tem ganhos como disciplina de método e regras que são fundamentais para a vida”.
É a forma como o clube está estruturado, de modo a que exista uma sequência de transferes de nível técnico entre classes, que permite “ter ginastas da competição com bom nível”.
E para que os atletas brilhem é necessária uma conjugação de factores, que vai além do talento. “As capacidades motoras são importantes, mas significam entre 10 e 20%, o resto é o esforço trabalho e dedicação”, diz Stélio Lage, acrescentando que por vezes quando pega num grupo de atletas, “é a que parece que tem menos jeito que acaba por ser a que tem melhores resultados, porque trabalha mais”.
COMEÇAR CEDO E VARIAR ESCOLHAS
O técnico conta que para as hipóteses de se obter bons resultados em competição nacional sejam maiores, o ideal é que as crianças comecem com entre os 4 e os 5 anos. “Tivemos duas ginásticas de top, a Ana Filipa Conde e a Nádia Lopes, uma foi terceira da Europa e outra quinta, ambas começaram com essa idade e dedicaram-se em exclusivo à ginástica”, recorda.
Nessa idade, a criança começa por ganhar noções do ritmo. A partir dos 5 anos adquirem os primeiros movimentos gímnicos e a partir dos 9 podem entrar em pré-competição. “Se a criança não entrou com os 4 anos, não teve essas vivências, já perdeu algum espaço de tempo. Mas já tive ginastas, como o Ricardo Luzio e outros que vieram tardíssimo e vieram a ter resultados muito bons”.
O clube mantém uma quota de 25 euros há mais de 10 anos para proporcionar a prática a muita gente, realça o presidente do clube, enquanto clubes com estrutura semelhante praticam preços acima dos 40 euros mensais. Com estes valores, gerir a secção de competição torna-se “difícil”, pelo que o apoio dos pais tem sido “fundamental”.
A oferta desportiva no concelho tem crescido bastante nos últimos anos, no entanto Stélio Lage diz que isso não tem dificultado o recrutamento de jovens. E a complementaridade que existe só beneficia os próprios jovens. “Quando as crianças são novas têm aqui experimentar muitas coisas, quanto mais vivências tiverem mais opções correctas fazem no futuro”, defende.
Na ginástica, no caso do Acrotramp, são sobretudo raparigas que procuram. “Há muito mais raparigas, também temos rapazes, mas a proporção deve andar à volta dos 80%”.
O DESPORTO NA ESCOLA
A acção desportiva dos clubes e colectividades assume grande importância no plano social, uma vez que na escola não é dada à disciplina de educação física o relevo que deveria ter.
Enquanto professor desta disciplina, são vários os reparos que Stélio Lage faz nesta área. Se por um lado houve uma grande evolução quer em termos de formação dos professores, quer em infraestruturas, no entanto, as políticas não acompanham essa evolução.
E tudo começa com os horários para a prática desportiva no programa curricular, que tem mais horas semanais para os alunos do secundário, num total de quatro, e apenas uma para os do primeiro ciclo. “A pirâmide está invertida”, considera. “O ideal era ter horas para toda a gente. Não tendo, é preciso inverter a pirâmide, quanto mais novos os alunos, mais horas de prática física, porque só assim se mantém hábitos de prática desportiva durante a vida inteira”, acrescenta.
E depois há também uma inversão em relação aos professores que são direccionados para os diferentes ciclos. “Os professores mais experientes deveriam trabalhar com os alunos mais novos, porque esses é que têm necessidade de ter professores com maior conhecimento, mas o que acontece é precisamente o contrário”.
Alargando a análise ao desporto escolar, Stélio Lage considera também que este programa deveria, pelo menos, separar os alunos que praticam desporto federado dos não federados. O que se verifica actualmente é que os alunos que chegam às fases finais são, na maioria, federados, “isso faz com que todos os outros não o são não tenham hipóteses”, concluiu.































