Carminda Costa, uma caldense ciclista de outros tempos

Etapa final da primeira Volta a Portugal feminina liga a cidade termal a Lisboa. A propósito, recordamos a vencedora da Volta aos Plátanos em 1950

A primeira Volta a Portugal em Bicicleta Feminina está na estrada até 5 de setembro. E a 4ª e última etapa da prova rainha do ciclismo português, agora no feminino, parte das Caldas e termina em Lisboa, recriando, desse modo, a última etapa da primeira Volta masculina, em 1927.
A propósito deste momento alto do ciclismo no feminino, recordamos Carminda Costa, uma caldense por adoção que se destacou no mundo do ciclismo, e fora dele, pela apetência para pedalar.
Nascida em Santarém, em 1915, casou com Orlando Neves, natural de Sintra, e escolheram Caldas da Rainha para morar em 1943. Vendiam roupas e enxovais e chegaram a vender no terreno do Borlão, onde hoje está a Praça 25 de Abril. Em meados do século passado abriram um estabelecimento na Praça 5 de Outubro. Nessa época, funcionava ali o mercado do peixe e aproveitavam para montar uma banca no mercado. Mais tarde tiveram o seu estabelecimento na Rua Heróis da Grande Guerra, onde ficou por quase 50 anos.
O filho, Albertino Neves recorda que a mãe tinha uma grande desenvoltura física. Aliado ao gosto por pedalar, surgiu a necessidade, uma vez que a bicicleta era um veículo importante na atividade profissional.
“Faziam uma trouxa de roupa para vender, colocavam na bicicleta e iam carregados por estradas e caminhos de terra batida e pedras, para vender”, recorda o herdeiro, revelando, ainda, um pormenor interessante: é que Carminda Costa passou a usar uma espécie de saia-calça, o que lhe permitia pedalar sem dificuldade…
Em 1950, na Volta aos Plátanos, no Parque D. Carlos I, a caldense foi a primeira a completar as várias voltas ao percurso, batendo uma equipa de três mulheres que chegava de Barcelos, que surgia rotulada como a grande favorita à vitória.
Carminda Costa andou de bicicleta até perto do final da sua vida e preservou uma coleção com diversas bicicletas, todas com quadro de homem, como gostava. “Uma vez, os meus pais foram à Foz vender nas quintas e a GNR soube que vendiam perfumes espanhóis contrabandeados que iam buscar perto da Guarda. Foi tudo confiscado e perguntaram se não tinham mais nada em casa. A minha mãe veio andando, de bicicleta, até ao Largo da Feira Velha e escondeu tudo debaixo da palha do vizinho. Quando a GNR chegou com o meu pai os guardas ficaram surpreendidos de ela já lá estar e só diziam: já nos enganaram!”, conta o filho.

Percurso da Volta
A etapa que liga Caldas da Rainha a Lisboa, na extensão de 94,7 kms, é a maior tirada da primeira edição da Volta a Portugal Feminina e inclui uma meta volante em A-dos-Francos, terra de onde é natural o ciclista João Almeida.
A Volta feminina conta com cerca de uma centena de participantes, num trajeto com um total de 259,3 kms.
O evento começa hoje com a apresentação das equipas no Marquês de Pombal, em Lisboa. Do Marquês o pelotão seguirá em desfile até ao Cais do Sodré, onde irá apanhar um barco para Cacilhas, recordando os acontecimentos históricos de há 94 anos, na primeira Volta.
A 1ª etapa corre-se de Cacilhas até Setúbal, terra de Oceana Zarco, pioneira no velocipedismo feminino na segunda década do século passado. Serão 81,5 quilómetros no primeiro dia. Seguem-se 72 kms entre Mafra e Loures, com um prémio de montanha, no segundo dia e um contrarrelógio individual de 11,1 kms em Vila Franca de Xira, no terceiro. Isto antes, claro, da viagem entre a cidade termal e a capital do país. ■