Caldenses destacam-se nos bastidores da F1H2O

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Luís Miguel Ribeiro, à esquerda, durante o briefing com os pilotos no Grande Prémio da Sardenha

Após uma carreira de sucesso como piloto, Luís Miguel Ribeiro é, desde o final da época de 2010, responsável pelas decisões difíceis nas provas

O Campeonato do Mundo de Fórmula 1 de Motonáutica (F1H2O) chega este fim de semana ao fim com a realização do grande prémio de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos. Em competição no mundial não há portugueses, mas há caldenses com papel de destaque. É que o diretor de prova é o caldense Luís Miguel Ribeiro e um dos comissários técnicos é também das Caldas, Rui Xavier, que tem papel fundamental na arbitragem da competição.
Luís Miguel Ribeiro construiu uma carreira de grande nível na competição como piloto e é, há cerca de 13 anos, diretor de prova da F1H2O. “Comecei a correr com 15 anos e pilotei dos 15 aos 50”, lembra o múltiplas vezes campeão nacional. A experiência internacional levou-o a integrar a estrutura da União Internacional de Motonáutica (UIM) na F1H2O, mas não pensava chegar ao topo. “Eu era comissário técnico, via o desafio que era ser diretor de prova e dizia que não queria pisar naqueles terrenos”. Na direção estavam dois norte-americanos, que saíram e foi convidado a fazer as três provas remanescentes no mundial de 2010. “Não estava inclinado a aceitar, mas o meu pai convenceu-me a experimentar, e as três provas já vão em 67…” conta.

Rui Xavier procede à vistoria do motor de uma embarcação

A figura do diretor de prova de uma competição motorizada é a de maior responsabilidade na garantia do cumprimento de todos os regulamentos. “É um trabalho de responsabilidade, o meu trabalho é fazer cumprir as regras, fazer com que a prova seja segura para os pilotos e que seja justa em termos de decisões, porque qualquer piloto deve ter as mesmas condições para fazer uma boa prova”, descreve. O cargo também é “extremamente desafiante”, acrescenta, “porque há ali muito dinheiro em jogo, muitos egos, e há decisões que têm que ser tomadas e que, por vezes, agradam mais a uns e nada a outros”.
Entre as decisões mais difíceis que já tomou estão o cancelamento de duas corridas. Se numa delas, na Ucrânia, ainda foi possível correr no dia seguinte, a outra, na Arábia Saudita, ficou mesmo sem efeito. “É preciso ter a percepção de até onde podemos ir para que a prova seja segura, mas é aí que surge o confronto, porque depois há um promotor que quer efetivamente que a prova seja feita, porque estão em jogo investimentos de milhões de euros”, explica Luís Miguel Ribeiro. A prova da Arábia Saudita era a primeira de um contrato de cinco anos, que acabou por ser cancelado.
O trabalho que tem feito na direção de provas já conduziu a que fosse nomeado para ser presidente do Comité da Fórmula 1, posição na qual tem sob a sua alçada tudo o que é de relacionado com a disciplina.

O mundial de F1H2O é o topo da competição da motonáutica. Os barcos têm cerca de 400 cavalos e atingem velocidades superiores a 200 kmh
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Luís Miguel Ribeiro divide o mérito do seu trabalho com a equipa que o rodeia. “São cerca de 30 pessoas, de muitas nacionalidades, que dependem de mim e eu deles”, realça. Nestes já estão, além do diretor de prova, mais três portugueses, um deles caldense, Rui Xavier, que surge neste contexto um pouco como o próprio Luís Miguel Ribeiro. Os dois já se conheciam há muito tempo, da motonáutica. “Eu tinha 18 anos e o Rui 9, ele era o filho do amigo do meu pai, acabou a fazer comigo o campeonato nacional durante muitos anos e trabalhámos juntos profissionalmente durante muito tempo”, conta.
Quando começou a guerra na Ucrânia, um dos comissários técnicos era de nacionalidade russa e foi proibido de exercer funções pela federação internacional. “Era preciso alguém para o substituir, convidei o Rui para fazer uma prova e aconteceu-lhe o mesmo que aconteceu comigo. Convidei-o porque achava que ele efetivamente conseguia fazer o que era pedido e a partir daí acabou a minha influência, fez um bom trabalho e foi convidado a ficar”, conta Luís Miguel Ribeiro. Como comissário técnico, Rui Xavier tem a responsabilidade de vistoriar todos os aspetos de segurança dos equipamentos e garantir que os barcos cumprem as especificações técnicas, durante todo o fim de semana de prova.
Apesar de sentir falta de pilotar, Luís Miguel Ribeiro já não considera voltar aos barcos, mas, quando a sua missão como diretor de prova da F1H2O estiver concluída, tem outra que gostava de abraçar. “Gostava muito de trabalhar com a formação, na federação nacional, tentar que o meu entusiasmo contagiasse jovens pilotos”, diz, acrescentando que é um trabalho que está por fazer na motonáutica portuguesa. ■

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