
A época de 2012/13 foi a primeira grande demonstração que o A-dos-Francos fez no futebol feminino de que era possível fazer muito com muito pouco. Um plantel com média de idades abaixo dos 19 anos, quase todas ilustres desconhecidas até então, subiu à 1ª Divisão nacional, esteve muito perto de chegar à final da Taça de Portugal e foi a última equipa nacional a perder a invencibilidade
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt
Tinha cinco anos o projecto do futebol feminino do Grupo Desportivo e Cultural de A-dos-Francos quando na temporada 2012/13, mas vinha com um ritmo ascendente que era difícil passar despercebido.
Formada em 2007 porque uma menina de 14 anos, irmã de um atleta do futebol masculino do clube, desafiou os dirigentes a fazer uma equipa feminina.
O arranque foi nos escalões jovens, mas cresceu de forma considerável quando o treinador Paulo Sousa chamou à sua responsabilidade a equipa.
O projecto não tinha muitos fundos, mas isso não impediu que se compusesse uma equipa muito competitiva, que deu a segurança necessária para inscrever o clube nas competições nacionais em 2009, no Campeonato de Promoção, a antecâmara da 1ª Divisão nacional.
O projecto foi crescendo e ganhando consistência ao reunir jovens jogadoras da região que se iam destacando. O raio de recrutamento foi alargado aos concelhos vizinhos: Óbidos, Peniche, Alcobaça e Cadaval.
Jogadoras com notável valia técnica mas que não tinham onde dar seguimento à paixão pelo futebol quando deixavam de poder jogar em equipas mistas – o que acontecia nos iniciados – ou tinham que optar pelo futsal.
As constantes chamadas às selecções nacionais, jovens e principal, eram uma constante e provavam o conceito: havia na região matéria humana para construir uma grande equipa.
Nomes como Catarina Lopes, Cristiana Garcia, Matilde Figueiras, Carolina Ferreira e Maria Jesus começavam a ganhar dimensão e a dá-la ao jogo da equipa do concelho das Caldas da Rainha.
“A” TEMPORADA
Até que na temporada 2012/13 a equipa deu o passo que faltava para crescer também ao nível dos objectivos desportivos. O técnico Paulo Sousa conseguiu recrutar duas atletas de fora da região, Catarina Sousa e Luciana Garcia, que vinham do Belenenses, da Marinha grande, com experiência de 1ª Divisão.
À irreverência da juventude juntava-se, então experiência. Com 26 e 28 anos, as duas eram, de facto, as mais velhas de um plantel com média de idades, no final da época, de 18,8 anos.
A qualidade de jogo trouxe vitórias com muita frequência. A equipa foi absolutamente avassaladora no Campeonato de Promoção. Dezoito vitórias em outros tantos jogos na primeira fase e um score de 127 golos marcados contra 11 sofridos. Na segunda fase, em 10 jogos só não venceu os jogos fora com o Viseu 2001 e com o Valadares Gaia. Uma caminhada triunfal, verdadeiramente imparável, levava a equipa ao título nacional e a uma ambicionada e muito merecida subida à 1ª Divisão Nacional. Coroar mais essa temporada só com a final da Taça de Portugal, que não se concretizou por muito pouco.
O TÍTULO ALI TÃO PERTO
A temporada seguinte abria novas perspectivas. A manutenção era apontada como o objectivo a atingir no arranque da época. Mas o campeonato feminino daquela época era uma verdadeira oportunidade.
Ainda sem clubes grandes à vista nem uma referência muito clara entre os favoritos, o A-dos-Francos manteve a sua estrutura e reforçou-a com três atletas internacionais: Patrícia Morais, Solange Carvalhas e Lara Matos.
Os resultados não se fizeram esperar. Com uma primeira fase absolutamente incrível, as caldenses terminaram em primeiro lugar. Nos 18 jogos, somaram 16 vitórias e duas derrotas. Se o campeonato fosse numa só fase,, o A-dos-Francos teria sido campeão nacional. Contudo, na segunda fase só venceu por uma vez e viu o título fugir para o At. Ouriense.
A última equipa das competições nacionais a perder a invencibilidade na época 2012/13
A época 2012/13 foi um autêntico conto de fadas para a equipa feminina do GDC A-dos-Francos. E só não o foi mais porque a única derrota em toda a temporada custou uma presença na final da Taça de Portugal, que seria disputada contra o histórico Boavista.
A equipa comandada por Paulo Sousa fez um percurso exemplar até esse dia 25 de Abril de 2013. Pela frente estava o Valadares Gaia, equipa do distrito do Porto, que nas suas fileiras tinha Edite Fernandes, uma das figuras de proa do futebol português de então.
O adversário não era estranho, nem inacessível. Semana e meia antes as caldenses tinham vencido aquele mesmo adversário para o campeonato por 3-2. No entanto, o equilíbrio de forças era muito grande. O jogo foi intenso, mas a maior experiência da equipa nortenha acabou por fazer a diferença e o Valadares Gaia.
O resultado final foi 3-4, o que diz do equilíbrio da partida entre as duas equipas que seriam, no final da época, promovidas à 1ª Divisão nacional no final da época.
Essa foi a única derrota do A-dos-Francos nessa época, mas a há mais para contar. Até então a época da equipa de A-dos-Francos ia longa, somadas já 40 partidas disputadas, entre o Campeonato de Promoção (uma 2ª Divisão nacional) e o campeonato distrital. Em todas elas o resultado era o mesmo: vitória para o A-dos-Francos, que àquela data seguia com impressionantes 333 golos marcados e 33 sofridos. Nenhuma equipa das competições nacionais de futebol, masculino e feminino, dos seniores ou dos escalões de formação, chegou àquela fase da época sem registar derrotas, só o A-dos-Francos.
O pecúlio já vinha, de resto, em acumulado da época anterior. Eram 14 meses sem conhecer o sabor amargo da derrota, num total de 58 partidas. Dessas, apenas numa as comandadas por Paulo Sousa perderam pontos, devido a um empate.
Até ao final dessa época de 2012/13, o A-dos-Francos não voltou a perder, terminando a temporada com 44 vitórias, dois empates e uma derrota em 47 jogos.
A “vingança” sobre o Valadares Gaia serviu-se fria, já que o A-dos-Francos acabou por se sagrar campeão.






























