A caldense Carolina Santos é um dos valores emergentes do surf nacional

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Aos 17 anos Carolina Santos já é uma das melhores surfistas portuguesas. Este ano é a 11ª na liga profissional e 216ª no ranking mundial, mas quer ir mais longe e sonha fazer o circuito mundial.

 

GAZETA DAS CALDAS: Como é que começou o surf para ti?
CAROLINA SANTOS: Foi no Verão de 2010, tinha oito anos. Eu e o meu primo não tínhamos muito para fazer e os meus pais decidiram inscrever-me numa escola de surf, para experimentarmos. Ele acabou por se assustar e eu fiquei com o resto das aulas dele. A partir daí foi sempre a melhorar.
G.C.: E já tinhas antes vontade de experimentar?
C.S.: Mais ou menos. Por um lado, não me tinha chamado muito a atenção, mas por outro sempre gostei muito da água e do mar, por isso as duas coisas acabaram por se conjugar.

É difícil começar

G.C.: Depois de começares, como foi a evolução?
C.S.: A primeira aula foi difícil. Acho que me consegui pôr de pé uma vez e aguentar um bocadinho, mas é difícil começar. Depois o meu pai começou a levar-me para a praia mais vezes e foi alimentando o bichinho. O surf é um desporto muito minucioso, os detalhes são muito importantes, por isso a evolução é progressiva. Lentamente vamos melhorando aqueles detalhes que fazem a diferença.
G.C.: Como é a tua rotina de treino?
C.S.: Ao fim-de-semana vou de manhã, surfo duas vezes ou três e volto para casa. Nos dias de escola tenho aulas de manhã, mas tenho as tardes livres e vou praticamente todos os dias à praia.
G.C.: E com que idade fizeste a primeira prova?
C.S.: Devia ter 12, ou 13 anos. Também parei um pouco até aos 10 anos. Depois demorei mais ou menos dois anos até ter algum nível para começar a competir.
G.C.: E os resultados, começaram logo a surgir?
C.S.: Não. Os resultados dependem muito do trabalho que fazemos antes. Se trabalhas menos, tens menos resultados. E como é uma aprendizagem constante é difícil ganhar logo. Cada praia é diferente, também depende se o mar está mais favorável às nossas características ou não, é sempre um desafio.

O melhor são as pessoas que vou conhecendo

G.C.: Tens algum momento que te tenha marcado mais?
C.S.: Sim, o melhor de tudo são as pessoas que vou conhecendo à medida que vou viajando e surfando mais vezes. Viajar também é uma parte muito boa, conhecemos outras partes do mundo, contactamos com outras culturas e vemos que há realidades diferentes, o que até permite percebermos e apreciarmos aquilo que temos no nosso país.
G.C.: Quando começaste a surfar já havia a prova em Peniche. Tens acompanhado?
C.S.: Sim, comecei a ir com o meu treinador anterior. Tínhamos as tardes livres na escola e íamos para lá todos os dias. Ficávamos a observar. É muito útil ter oportunidade de ver os melhores do mundo a surfar. Mesmo para a região é muito bom termos cá a prova, porque traz muita gente.
G.C.: Este ano o Meo Rip Curl Pro Portugal vai ter prova feminina. É importante poder ver as melhores do mundo na água?
C.S.: Sim, já estive em Supertubos a treinar e elas estavam na água, é muito bom surfar com elas, têm muito ritmo e experiência, aprende-se muito só de as ver.
G.C.: Sonhas fazer o circuito com elas, no futuro?
C.S.: Claro que sim. Mantendo sempre os pés na terra, mas quero tentar chegar lá.

O importante é tirar ensinamentos do que fizemos mal

G.C.: Como é lidar com a competição quando há a escola e uma juventude para viver?
C.S.: Acho que a melhor maneira é não criar muitas expectativas, tentar fazer sempre o melhor e não ficar muito “chateada” quando não corre bem. Claro que se fica sempre um bocado, mas o importante é tirar ensinamentos do que fizemos mal e não sermos demasiado duros connosco. Na escola penso que as pessoas que fazem desporto organizam melhor o seu tempo. É difícil porque há muitos treinos, muitas horas para estudar, mas também consigo passear com os meus amigos. Tem que ser em alturas muito específicas, para não atrapalhar os estudos ou as provas, mas tudo se consegue.
G.C.: O que têm de especial as ondas da região e de Supertubos em particular?
C.S.: O palco do campeonato do mundo, Supertubos, é uma onda muito difícil de surfar, mas também é muito boa quando a consegues dominar. Os competidores conseguem fazer o melhor possível e mesmo assim para eles é complicados. Peniche é o melhor campo de treinos da Europa, tem sempre ondas boas porque é uma península, se não der de um lado dá do outro. É um privilégio termos mesmo aqui ao pé de nós.
G.C.: Quais são os teus objectivos próximos?
C.S.: Vai haver o mundial de juniores por selecções, na Califórnia. É um campeonato importante e queremos fazer um bom resultado. Este ano não fui aos nacionais porque me lesionei, no próximo quero ser campeã nacional. E na liga profissional tentar entrar num top 5 ou mesmo num top 3.
G.C.: É importante ter um bom suporte familiar para competir?
C.S.: Os meus pais são fantásticos, andam sempre comigo de um lado para o outro. Vou treinar a Lisboa e eles vão-me lá levar. Andam sempre comigo. O meu pai também me apoia muito em termos psicológicos e passa horas a ver vídeos de surf para assimilar as técnicas e passá-las para mim. Era difícil ter pais melhores.
G.C.: O que torna o surf especial?
C.S.: O surf proporciona um ambiente muito descontraído e relaxante, não na competição, mas para quem faz free surf. Estar em sintonia com o mar é muito bom e divertido, é um bom desporto para praticar.
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