Experiência na Final 8 da Taça de Portugal de voleibol que durou apenas dia e meio e foi marcada por restrições que não foram iguais para todos

O Sp. Caldas partiu sem nada a perder rumo a Santo Tirso, ainda cedo, na manhã de sexta-feira. A viagem até ao norte do país foi tranquila. Os jogadores aproveitaram as cerca de três horas de viagem para descansar. Staff à frente, sempre de máscara, jogadores mais atrás no autocarro a respirar livremente.
A comitiva chegou a Santo Tirso perto das 11h30. Seguiu direto para o pavilhão do Ginásio Clube de Santo Tirso para realizar um curt treino de ambientação à nave onde, à noite, defrontaria a Fonte do Bastardo.
À chegada, alguma desilusão com o que encontram. Salta à vista que é uma nave com pouca altura da cobertura em relação ao piso, mas os técnicos da Federação Portuguesa de Voleibol que recebem a equipa garantem que cumpre o regulamento. O ar envelhecido do recinto do equipamento é indisfarçável. Vários elementos da equipa técnica recordam ter ali jogado nos tempos de jogadores “e já na altura não era novo”, garantem.
O que mais preocupa jogadores e técnicos é o estado do piso, que apresenta desníveis nas juntas dos painéis de madeira que o compõem. “É uma vergonha jogar uma final-8 nestas condições”, é uma frase que se ouve repetidas vezes, até mais tarde, durante o jogo.
Quanto a isso há pouco a fazer. A equipa foca-se no treino, que tem meia hora de duração. Ao meio-dia já os açorianos aguardam vez para treinar e não pode haver contacto, por causa da pandemia.

Almoço no quarto e… sapatilhas
Terminado o treino, o autocarro da Câmara das Caldas leva a comitiva até à unidade hoteleira onde vai ficar até perto da hora do jogo. No transporte para o hotel há boa disposição entre os jogadores e a música brasileira marca o ritmo. Humberto Silva e Vítor Amorim são os mais extrovertidos e puxam pelo grupo.
Se, até aqui, tudo foi mais ou menos dentro do que é normal em dia de jogo neste tipo de competição, a partir daqui as coisas mudam de figura.
À chegada ao hotel, agrupados dois a dois, os elementos do grupo seguem para o respetivo quarto. Não há mais contacto. O almoço, sempre um momento de partilha em grupo, é servido nos quartos. Também não há lugar a momentos de descontração, como os habituais jogos ou passeios a pé. Tudo seria parte do “novo normal”, se tivesse sido igual para todos. Só no dia seguinte a comitiva caldense percebeu que, pelo menos Benfica e Sporting, que viriam a disputar a final, não tiveram as mesmas restrições…
O grupo volta a reunir-se pelas 18h00, a três horas do jogo, para a palestra na qual é analisada a equipa da Fonte, através de vídeos preparados horas antes pelo técnico de análise estatística, Bruno Cunha. Esta análise permite identificar os movimentos mais fortes, e também os menos fortes, de cada elemento da equipa adversária, assim como a melhor forma de os defender e controlar. É um momento interativo, no qual os jogadores também apresentam as suas ideias.
Frederico Santos, Miguel Agapito e Humberto Silva são os jogadores mais intervenientes.
Traçam-se cenários. Há quem vaticine que a Fonte se vai poupar para o jogo do dia seguinte, o que pode abrir uma janela de oportunidade. Mas também há quem atire que os açorianos vão “entrar com tudo para tentar resolver o jogo depressa”. Seja qual for o cenário, só uma coisa é certa: terá que ser um Sp. Caldas no seu melhor para ultrapassar a eliminatória.
Finda a palestra, é hora de rumar novamente ao pavilhão, onde já se joga a outra partida dos quartos-de-final que se disputa no mesmo pavilhão, entre o Benfica e a Ac. Espinho, mas que a equipa caldense não está autorizada a assistir, devido à pandemia de covid-19.
A deslocação até ao pavilhão é feita… a pé. O autocarro que levou a equipa ao norte voltou para as Caldas. Tal como na viagem de autocarro, o grupo vai alegre e descontraído, ao som dos ritmos do Brasil que saem do smartphone de Humberto Silva.
À chegada ao pavilhão, há um problema. O oposto Vítor Amorim esqueceu-se das sapatilhas no hotel. Cabe aos diretores Mário Pedro e António Ferreira voltarem para resgatar o acessório imprescindível para o jogo. O jogador, que é dos mais influentes na equipa, não pode cumprir todo o aquecimento, mas as sapatilhas chegam a tempo do camisola 19 iniciar a partida.
Terminado o aquecimento, cabe ao técnico Frederico Casimiro lançar as últimas palavras ao grupo. Numa partida e numa competição nas quais o clube caldense não é favorito, a mensagem principal é “dar tudo” para fazer história.
É verdade que o jogo não correu bem e isso pesou no resto da viagem da equipa, que voltou com ambiente pesado para o hotel, mas não deixa de ter sido positivo para a equipa ter terminado as duas principais competições do voleibol português entre os oito melhores. ■

Primeiro set para esquecer…

- publicidade -

Podia ter sido bem mais amigável o sorteio para o Sporting das Caldas nesta final-8 da Taça de Portugal, que colocou no caminho dos caldenses uma equipa fortemente moralizada pelo bom momento que atravessa no campeonato.
Um bom início dos caldenses era fundamental para fazer duvidar a Fonte do Bastardo, mas tal não aconteceu. O primeiro ponto caiu para o lado dos insulares, que rapidamente ganharam uma vantagem demasiado elevada para que os caldenses pudessem discutir a vitória nesse primeiro parcial.

O primeiro set decidido a 25-9 foi um golpe duro do qual os caldenses não conseguiram recuperar

A contribuir para isso, esteve o empenho da equipa da Terceira, mas também o forte desacerto dos caldenses em todas as ações de jogo, que levaram a parcial de 9-25.
Para o segundo set a formação de Frederico Casimiro tinha que melhorar e conseguiu-o a espaços. A primeira parte do parcial foi taco a taco até aos 8-8. Depois, a Fonte cavou um fosso de seis pontos que os caldenses conseguiram reduzir a dois (19-17), mas só para verem os adversários fugir na fase final do set, fechado a 20-25, muito graças às ações de bloco.
No terceiro set, os leões das Caldas voltaram a entrar bem no set, desta vez até liderando nos pontos iniciais (4-2). A Fonte acabou por chegar à frente, mas os leões das Caldas mantiveram-se sempre por perto e, depois de anularem o primeiro match point para empatar o jogo a 24, a formação dos Açores acabou mesmo por selar a vitória em três sets.
Vítor Amorim foi o melhor pontuador dos caldenses, com 15 pontos, dos quais três no bloco. Apenas Gabriel Santos superou o jovem brasileiro e por um ponto.
Nas ações de jogo, de destacar particularmente as dificuldades do Sp. Caldas na receção, com uma eficácia de apenas 49%. Os açorianos foram igualmente superiores no bloco, conseguindo 27 pontos contra 9 dos leões, enquanto a eficácia do ataque foi de 41% contra os 58% do adversário. ■

Os leões das Caldas melhoraram no segundo e no terceiro sets, mas foram afastados pelos açorianos
- publicidade -