“Portugal é provavelmente o segredo mais bem guardado da Europa”, diz autor de “Os Portugueses”

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notícias das Caldas“Portugal é um grande país, com um grande povo e cheio de qualidades”, mas os portugueses precisam de “acabar com a passividade e participar mais civicamente e democraticamente”. Quem o diz é o jornalista britânico Barry Hatton, que trabalha em Portugal há quase 25 anos, e que a 23 de Julho apresentou o seu livro “Os Portugueses” em mais uma conferência do ciclo “21 às 21”, organizado pelo Movimento Viver o Concelho.

“Os portugueses têm muito aquela passividade de refilar sem fazer nada. É preciso saber refilar de uma forma construtiva”, afirmou.
Numa sessão muito participada, que se realizou na Quinta da Foz (Foz do Arelho), sublinhou que “instalou-se a ideia de que tudo lá fora é melhor do que cá, mas isso não é verdade”. No livro apresenta vários exemplos de como Portugal é “tão bom, senão melhor, que os outros países”.
Harry Batton, que fala correctamente o português, casou-se com uma portuguesa e tem três filhos nascidos em Portugal. “Estou cá para sempre. É um país que tem um grande futuro. Só tem que dar algum ‘jeitinho’ em certas coisas para conseguir dar um salto para a frente”, garantiu.
O jornalista aproveita a figura dos forcados para demonstrar o que é necessário. “Os forcados, como os portugueses, têm coragem, resistência e lutam até ao fim. Mas têm uma coisa que falta aos portugueses geral: unem-se para vencer um adversário mais forte”, afirmou.
Sem querer fazer juízos de valor no livro, Barry Hatton procura explanar suas as observações e a sua visão de estrangeiro sobre o país onde vive desde há 25 anos.
O britânico chegou a Portugal em 1986, um ano depois de ter terminado a sua licenciatura. O seu desejo foi sempre ser jornalista e estava para iniciar a sua carreira num jornal regional da sua terra, no norte de Inglaterra, quando este foi à falência.
“Isto foi em 1985, no auge do governo de Margaret Tatcher. Havia quatro milhões de pessoas no desemprego na Inglaterra” e a possibilidade de arranjar emprego naquela área pareceu-lhe nula.
Na véspera do ano novo, estava com um antigo colega de curso num pub, que também não conseguia arranjar emprego, quando surgiu a ideia  de emigrarem. “Vamos embora deste país, que não tem futuro”, terão dito nessa altura.
A primeira sugestão era ir para a Austrália, mas acharam que era longe demais. Barry Hatton já tinha estado de férias na zona de Cascais e Sintra, tendo gostado de Portugal. Para além disso, a libra valia muito do mais que o escudo e ficava mais em conta viver no pequeno rectângulo luso.
Nessa primeira madrugada de 1986 decidiram que a 1 de Abril (dia dos estúpidos na Inglaterra) iriam mudar-se para Portugal para começar uma nova vida, o que veio a acontecer.
Começou por trabalhar como repórter no jornal Anglo-Portuguese News, no Estoril, mas em 1992 tornou-se correspondente em Lisboa da agência de notícias United Press International e desde 1997 é correspondente da Associated Press.

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Dos Descobrimentos à modernidade

O livro “Os Portugueses” relembra os principais momentos históricos que marcaram a nação, desde o período áureo dos Descobrimentos aos anos governados por Oliveira Salazar, sem esquecer a relação com Espanha, e termina com uma análise sobre a modernidade.
Barry Hatton escreveu o livro principalmente pelo facto de estarem sempre a perguntar-lhe como é que um país como Portugal, “que teve tanto há 500 anos”, está agora nesta situação. A pergunta era feita tanto por estrangeiros, como pelos próprios portugueses. “Para explicar isso precisava de um livro inteiro. Não dá para explicar numa conversa de café”, adiantou.
O livro faz um relato histórico sobre Portugal, mas não só. São 13 capítulos onde se fala de tudo um pouco “e é na narrativa que se faz da História que se vai percebendo coisas de trás que explicam como se chegou a este ponto”, explicou.
Com subtítulos como “Gastar, Gastar, Gastar” e “Uma Pátria Partida: O Longo Declínio e Queda de Portugal”, o livro tenta contar como em quatro séculos o país deixou de ser uma das principais nações do mundo.
Como não poderia deixar de ser, o britânico fala também da figura de Zé Povinho, num sub-capítulo que termina escrevendo: “cada país tem o governo que merece e as pessoas são o Estado”.
Para escrever esta obra, Barry Hatton fez uma leitura dos principais autores portugueses, mas também estrangeiros que escreveram sobre Portugal. “Ao mesmo tempo, andava sempre com um bloco de apontamentos no bolso, onde ia escrevendo episódios que demonstram a personalidade dos portugueses”, referiu.
Outra das razões principais para escrever o livro foi o de apresentar Portugal noutros países. Por isso, há capítulos dedicado ao que de melhor existe no país, desde a simpatia do seu povo à variedade da sua paisagem, gastronomia e vinhos. “Portugal é pouco conhecido lá fora”, referiu o autor, embora tenha adiantado que as vendas em Inglaterra não tenham sido boas. “Está a despertar mais atenção nos Estados Unidos”, disse. Para Harry Hatton, “Portugal é provavelmente o segredo mais bem guardado da Europa”.
O próprio jornalista admite que o interesse por notícias de Portugal é pouco e só depois da crise da dívida pública é que começou a ter mais trabalho. “Não se escrevia tanto sobre Portugal desde o 25 de Abril”, comentou.
A maior parte das notícias que escreve são relativas ao futebol “sobre o qual o país tem algum renome lá fora”. Quanto às questões políticas e sociais, “normalmente há muito pouco interesse, o que me deu tempo para escrever este livro”.

 

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