“Zeca Afonso deveria ter algo que o relembrasse nas Caldas”

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Gazeta das Caldas

zeca-AfonsoO Casal da Eira Branca organizou no sábado, 19 de Setembro, uma homenagem à Festa da Amizade, um evento realizado nas Caldas em 1983 e que reuniu 2500 pessoas em solidariedade para com o cantor Zeca Afonso, que já então sofria de uma doença degenerativa.

É essa memória que agora é recordada nos Infantes (Salir de Matos) numa exposição de fotografias de José Nascimento. A Festa da Amizade realizou-se em 5 de Fevereiro de 1983 no Pavilhão da Mata e juntou, entre outras figuras, Sérgio Godinho, Júlio Pereira, Natália Correia, Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco e Carlos Paredes.

Trinta e dois anos depois, recordou-se a Festa da Amizade no concelho das Caldas. A 5  de Fevereiro de 1983 decorreu no Pavilhão da Mata uma festa solidária que reuniu 2500 pessoas. Visou reunir fundos para Zeca Afonso e sua família e foi organizada por Renato e Élia Mendonça e José Nascimento.

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A Câmara Municipal colaborou e só exigiu que tinha que haver desporto na iniciativa. E assim se fez.  Realizou-se um enorme espectáculo musical com os grandes nomes da música de então, mas sem esquecer uma primeira parte de Karaté, de Judo e de dança.

“O espectáculo era para ter público só nas bancadas“, disse Élia Mendonça, lembrando que a procura foi de tal ordem que foi preciso comprar uma alcatifa para forrar todo o chão e assim permitir o triplo da lotação. “A alcatifa chegou de camião in extremis, mesmo em cima da hora”.

Resolvido este problema, havia que pensar no seguinte. Onde acolher e alimentar os artistas. Os organizadores contaram com a colaboração do Centro de Educação Especial que abriu as portas das suas instalações na Rua dos Loureiros.

Os cantores comiam uma bucha antes do espectáculo e depois regressavam ao refeitório para cear”, contou. Digno de destaque foi também a solidariedade dos caldenses que quiseram contribuir para a “festa do sr. dr. Zeca Afonso”. Foi uma coisa espectacular e espontânea”, recordou Élia Mendonça recordando que não faltou quem oferecesse rissóis ou frango assado.

A festa, essa, não podia ter corrido melhor. Gente que veio de Lisboa, de Coimbra ficou do lado de fora a ouvir o espectáculo na rua porque dentro do pavilhão, “não cabia nem uma agulha“.

José Nascimento que ficou encarregue de fotografar aquele espectáculo mostra agora na Eira Branca momento preciosos. A partilha do palco pelos músicos poetas e cantores de renome, unidos por Zeca.

Amigo do cantor, fotografou-o nas mais variadas ocasiões. Inclusive durante os tratamentos termais que o cantautor realizou nas Caldas. “É pois com muita pena que constato que não há nada que lembre a passagem do Zeca pelas Caldas. Gostava que houvesse“, rematou.

Manuel Freire foi um dos músicos que participou na Festa da Amizade. Este autor, que partilhou o palco com Sérgio Godinho, Júlio Pereira, Janita e manos, Manuel Alegre, Natália Correia, Carlos Paredes, Vitorino, Fernando Alvim, Grupo de Guitarras de Coimbra e Zeca, escreveu no seu diário que nesta actuação na Mata estava cerca de 2500 pessoas. O excerto diarístico, que foi lido na Eira Branca deu a conhecer que os músicos depois da ceia foram para o Café Central que abriu de propósito só para eles. Naquele espaço “comemos, bebemos e cantámos até às três e meia da manhã“, escreveu.

Na sessão foi lido um texto de Sérgio Godinho que relembrou Zeca e o que sentiu quando contactou com a desbravada canção “Os Vampiros”. José Ramalho leu poemas de Zeca Afonso, tendo usado para tal um megafone.

Quem também apreciou este momento foi a viúva Zélia Afonso.

“É sempre muito emocionante recordá-lo”, disse acrescentando que  a Festa da Amizade nas Caldas da Rainha “foi uma festa imensa, muito alargada e com uma grande dose de amizade“. Dos amigos das Caldas, que continua a visitar, diz que são “de longa data e mesmo do coração“.

Helena Carlos, da Associação José Afonso, afirmou que pelo país há muitos sítios que têm nomes de ruas e estátuas, “maseu prefiro estes encontros dos amigos do Zeca a que se juntam muitos mais cinco e que são  capazes de preservar a sua memória de cidadão permanente e interventivo“.

O anfitrião da Eira Branca, Jacinto Gameiro, referiu que esta festa pretendeu homenagear a Festa da Amizade, com a realização da exposição de fotografia daquele espectáculo. Sabia que o Zeca Afonso tinha uma grande ligação às Caldas e “acho que tinha lógica prestar-lhe homenagem pois independentemente de opiniões politicas, ele é uma referência cultural“, disse. Além do mais salientou que as novas gerações continuam a gostar muito de Zeca Afonso. O responsável deu ainda a conhecer uma peça de cerâmica que assinalou este momento e que foi criada pelo ceramista Carlos Enxuto.

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