Zé Povinho celebra 135 anos e está “mais actual do que nunca”

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“Zé Povinho de Volta às Caldas da Rainha” é como se designa a mostra que pode ser apreciada no CCC durante todo o mês de Junho e que abriu portas no passado Domingo, 6 de Junho e que conta com peças de vários coleccionadores locais.
Esta é apenas uma primeira iniciativa que está prevista no programa comemorativo dos 135 anos desta importante personagem que caracteriza o povo português. Gazeta das Caldas foi a primeira entidade a aderir a esta celebração proposta por Isabel Castanheira da Livraria Loja 107 e publicará nas suas páginas um suplemento em homenagem a esta especial figura e a Bordalo Pinheiro.

Rafael Bordalo Pinheiro não poderia imaginar, a 12 de Junho de 1875, enquanto desenhava o seu primeiro Zé Povinho –  na edição de “A Lanterna Mágica” – que estava a criar uma figura cimeira da representação popular do povo português. Não poderia supor que, em pleno século XXI, esta sua criação não tinha perdido a actualidade pois ainda hoje é usada e retratada por vários caricaturistas destes tempos.
“135 anos de existência e de permanente adaptação à sociedade portuguesa é um feito invulgar, só possível aos génios”. Palavras de Carlos Mota, director do CCC que, em conjunto com a livreira Isabel Castanheira, com pouco tempo de antecedência e sem qualquer programação anterior, levaram a bom porto a concretização desta mostra integralmente dedicada a Zé Povinho. E sobre esta personagem ainda acrescentou que  “é de uma intemporalidades sedutora porque se adapta e recria elementos que constituem a base da nossa portugalidade”.
A livreira Isabel Castanheira, fã confessa da obra de Bordalo Pinheiro e coleccionadora da sua obra, contou como surgiu esta especial personagem que nasceu com os bolsos virados, mostrando que não tem um tostão, pois Zé Povinho acabara de dar as suas duas últimas moedas ao então ministro das Finanças do governo da época.
É esta caracterização que marca o início de uma personagem que Bordalo vai caracterizar na sua obra gráfica e só mais tarde a vai materializar em cerâmica. Para aquela responsável a imagem de Zé Povinho mantém-se com grande actualidade pois é usada, regularmente, pelos caricaturistas contemporâneos.
Para a livreira, Caldas da Rainha só ficaria a ganhar “se projectasse e associasse a si o nome de Bordalo Pinheiro e de Zé Povinho”. Na sua opinião seria útil para guindar mais alto o nome da cidade e, por isso, sugeriu à Câmara “que se realizasse um acontecimento em grande sobre este imaginário”, rematou.
Fernando Costa, o responsável pelo repto à exposição, sabendo da iniciativa que havia sido tomada, referiu a generosidade dos coleccionadores que contribuíram para esta realização e  fez questão de mencionar alguns nomes da cerâmica contemporânea caldense que também retrataram o “Zé”.
O edil acha que as Caldas deverá adoptar Bordalo Pinheiro pois, apesar de ele ser lisboeta, “viveu por cá uma parte importante da sua vida e foi por cá que criou Zé Povinho que é o seu alter ego”.
Segundo Fernando Costa daqui a cinco anos, quando se assinalar o 140º aniversário “deverá ser feita uma grande exposição”. Zé Povinho é uma figura muito actual e na sua opinião faz muita falta a crítica política e social de Bordalo. “Tenho a certeza que ele retrataria com traço negro alguns políticos e politicas (actividades) que agora estão aí no ar e em dia”, rematou.

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“Agora é que estamos mesmo com a albarda em cima”

Joaquim Saloio é um grande coleccionador de temáticas relacionadas com as Caldas, entre elas, os Zé Povinhos. “Colecciono Zés há cerca de 15 anos e possuo 170 peças desta figura”, disse. Nesta mostra estão presentes 25 peças da sua colecção. Na sua opinião este “é um óptimo evento pois permite divulgar as nossas colecções. As peças escondidas não servem ninguém”, disse aquele coleccionador.
João Maria Ferreira, outros importante coleccionador de cerâmica caldense, trouxe para esta mostra algumas das peças mais antigas de cerâmica e acha que se deve continuar a apostar em eventos do género pois estes permitem a  divulgação da obra de Bordalo e ajudam a promover a própria cidade.
Há mais de 20 anos que Joaquim Ladeira Baptista colecciona cerâmica antiga das Caldas. Começou por adquirir a colecção de Francisco Elias, importante miniaturista caldense e acabou por continuar a  coleccionar, indo com frequência aos leilões a Lisboa.
“Para mim as miniaturas são mais importantes”, disse o coleccionador que, no entanto, contribuiu com algumas peças sobre Zé Povinho para esta mostra. Estes eventos são “bons” pois evitam que as coisas “caiam no esquecimento”. Ainda acrescentou que o Zé Povinho não podia ser mais actual, pois “agora é que estamos mesmo com a albarda em cima”. Para Ladeira Baptista a aposta na divulgação da obra de Bordalo Pinheiro “só beneficiaria a promoção desta cidade”, rematou.
Da exposição, além das obras do criador Bordalo, fazem parte obras de vários autores desde Avelino Soares Belo até a Fernando Miguel ou aos actuais irmãos Constantino e mesmo ao galego Xohan Viqueira.
Muitos autores quiseram reproduzir esta figura que apresenta contradições conforme os acontecimentos que personifica. Às vezes é um Zé boquiaberto que coça a cabeça e não sabe o que fazer, outras vezes prefere revoltar-se e exibir o manguito pró-activo, manifestando a sua insolência e a sua revolta.
Apesar de tudo o Zé Povinho de ontem, tal como o de hoje, continua a identificar o povo português, que convive mal perante o abandono a que é votado pela classe politica e pelas oligarquias do poder bem como pela sua permanente característica de viver em permanente revolta, embora não fazendo nada para mudar a sua sorte.
A mostra integra ainda caricaturas actuais de António (cartoonista do Expresso) que foram reproduzidas em grande escala e vários livros que acolhem desenhos de Zé Povinho ao longo dos tempos. Além de muitas representações do seu criador estão presentes versões do “Zé” contemporâneas como aqueles de João Abel Manta em que o representante do povo surge ao lado de figuras da Revolução dos Cravos.
Até ao final de Junho está prevista a realização de um colóquio sobre Zé Povinho e Bordalo Pinheiro. A mostra poderá ser vista até ao fim de Junho.

Gazeta das Caldas associa-se ao aniversário de Zé Povinho
A Gazeta das Caldas foi o primeiro dos parceiros de Isabel Castanheira nas comemorações do 135º aniversário de Zé Povinho, tendo respondido de imediato ao desafio de voltar a publicar um suplemento dedicado a Bordalo Pinheiro.
Nas suas páginas, que virão a público no final do mês, serão publicados testemunhos de inúmeros autores nacionais e um galego, especialistas de várias áreas, que vão referir-se a Zé Povinho e à obra sem igual do seu criador Rafael Bordalo Pinheiro.  Ao todo serão mais de 40 os colaboradores neste suplemento de homenagem que contará com muitas contribuições inéditas.
Numa iniciativa inovadora, este suplemento terá uma edição em papel especial que será vendida nesse dia e será re-publicado nas semanas seguintes em quatro páginas em cada edição do jornal para que os leitores a possam coleccionar.

 

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