Exposição do WPC está patente no CCC e pode ser apreciada até ao próximo domingo
Até ao próximo domingo, 28 de agosto, podem ser apreciados, no CCC, os melhores cartoons que foram publicados em vários jornais, impressos e on line, ao longo do ano transato.
Nesta que foi a 17ª edição do World Press Cartoon (WPC), salão internacional dedicado ao humor gráfico de imprensa nas áreas de cartoon editorial, caricatura e do desenho de humor, apenas foram expostos alguns dos melhores trabalhos, cerca de 300. Concorreram ao certame 181 autores de 70 países de todo o mundo.
Este ano, o WPC realizou-se em modelo “low cost”: sem a habitual gala e sem a presença de premiados.
Na inauguração da mostra, que decorreu a 28 de maio, o presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, justificou que o WPC foi alvo de um corte financeiro, assim como outras iniciativas e apoios a entidades da cidade, por causa dos tempos que se vivem, ensombrados pela covid-19 e pela guerra. “Foi preciso restabelecer equilíbrios financeiros”, afirmou o autarca. O diretor do salão internacional, António Antunes, afirmou, na abertura da mostra que estava “contente por poder fazer o evento”, mas “triste, pois há uma parte que foi amputada”. António referiu-se à falta da gala que dá o ambiente festivo ao evento e também à impossibilidade de ter nas Caldas os autores premiados.
“Mantém-se a qualidade na escolha dos desenhos e espero poder encontrar-vos para o ano na gala do costume”, acrescentou o cartoonista do Expresso. O chefe do executivo municipal ainda salientou que o WPC é um evento “em que os caldenses se revêem” e, por isso, voltaram “a apoiá-lo num formato diferente”.
Merkel, Bolsonaro e talibans
A caricatura de Angela Merkel, algo desalentada, da autoria do argentino Matias Montedoro, foi o trabalho vencedor desta edição. O desenho de Merkel foi, em simultâneo, considerado o melhor proposta, na categoria de caricatura.
A proposta vencedora do Cartoon Editorial foi a do colombiano Jaime Poveda. Designa-se “Terror” e refere-se ao regresso dos talibans ao poder e o não respeitar os direitos das mulheres. O 1º lugar do Gag Cartoon é a proposta “TV”, desenhada pelo cubano Michele Moro Gomez.
Entre muitos outros temas, até ao próximo domingo podem ser apreciados trabalhos sobre as saídas de Angela Merkel e de Donald Trump da cena política, sobre o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o vírus da covid-19 e o drama criado pelo regresso dos talibã a Cabul. Os multimilionários das empresas tecnológicas norte-americanas também foram alvos de crítica pelos cartoonistas selecionados para esta exposição.
O WPC realizou-se pela primeira vez nas Caldas da Rainha em 2017 após um relançar do próprio evento que, no ano anterior, não se tinha realizado por falta de apoios.
O evento, de cariz internacional, começou em Sintra em 2005, mudou-se em 2014 para Cascais e sofreu, em 2015, uma redução no valor monetário dos prémios, que na época ascendia a um total de 25 mil euros, levando a que a organização considerasse não haver condições para a manutenção do WPC naquela localidade. ■
Cartoon Editorial
Desenho de Humor
Caricatura
Menção Honrosa
Opinião

José Luiz Almeida e Silva
diretor
Cartoon e Bordalo Pinheiro
Se há temas com maior simbiose a nível nacional, no mínimo, são o humor e as Caldas da Rainha, que hoje podem ser representados tanto pela tradição cerâmica caldense, de que Rafael Bordalo Pinheiro foi e ainda é um dos maiores expoentes, e o cartoon, que é a hoje a fórmula correspondente.
A vinda do World Press Cartoon para as Caldas da Rainha desde 2017, pode significar um momento crucial para cidade que ainda não soube apropriar-se de todo o potencial que o facto teve.
Desde esse ano, a cidade expõe o que melhor é feito no mundo, em termos de caricatura e humor jornalístico por imagem, correspondendo tal a uma imagem animada e impressiva, dos principais acontecimentos e figuras de todo o mundo, registados muitas vezes de forma mordaz e até certo ponto violenta em termos gráficos, das mesmas violências e atrocidades que se cometem diariamente no planeta e no sistema ambiental onde este está inserido. No concurso deste ano sobressaem como temas centrais a Covid, as perseguições às mulheres no Afeganistão, o inevitável tema ambiental, a partida de Merkel, o assalto ao Capitólio, etc.
Recorde-se que em sociedades mais intransigentes o cartoon ou o humor gráfico são perseguidos, tendo já acontecido, felizmente poucas vezes, atentados mortíferos em relação aos seus autores.
Caldas da Rainha devia ou podia ser, em termos nacionais e internacionais, aquela “pátria pacífica” onde o confronto humorístico está plasmado, reinterpretando e homenageando de forma moderna e de futuro aquele que foi um dos seus percursores no país. O Grande Rafael.
Para a geração atual, nacional e internacional, António corresponde, e dizê-mo-lo sem qualquer hesitação ou dúvida, um novo Bordalo, que devido aos novos meios de comunicação, tem maior expressão a nível global, pois já foi alvo da ira dos inquilinos do momento do Vaticano João Paulo II e da Casa Branca o inefável Trump.
Estou ciente que a permanência do WPC nas Caldas é totalmente justificado e devia ter uma dimensão e uma visibilidade correspondente, inevitavelmente internacional e global.
Declaração de interesse – Sou admirador de António desde que começou a colaborar no Expresso há meio século e amigo desde que, por feliz coincidência, foi convidado para dirigir um curso de caricatura cerâmica no CENCAL no final da década de 80, com vários outros caricaturistas já desaparecidos, como Cid e Zé d´Almeida. Felizmente que, nos últimos anos, a Fábrica caldense da Bordalo Pinheiro o tenha convidado para fazer caricatura cerâmica e que estejam a surgir este ano dois novos caricaturados que vão impressionar em breve o país e o estrangeiro. ■






























