Vale a pena viajar quando o turismo está massificado e se pode conhecer praticamente tudo através da Internet? Os escritores de viagens viajam para escrever ou escrevem porque viajam?
Eis algumas perguntas que serviram de mote a uma interessante conversa com António Mega Ferreira, Luís Brito, Luís Maio e Paulo Moura, moderada por Carlos Ribeiro. Uma conversa que foi, também ela, uma viagem que decorreu ao sabor do tempo, entrecruzada com momentos de humor e reflexões filosóficas e literárias.
Nunca se viajou tanto como agora, nunca as viagens estiveram tão baratas e tão acessíveis, nunca houve tantas massas em torno dos principais monumentos e pontos turísticos do mundo. Será que viajar ainda vale a pena?
A pergunta, formulada por Carlos Ribeiro, teve resposta imediata de António Mega Ferreira: por um lado, “pode-se sempre contornar a invasão das massas, quer descobrindo caminhos alternativos e pontos turísticos menos conhecidos”, por outro “é perfeitamente possível apreciarmos paisagens, monumentos, obras de arte abstraindo-nos dos senhores barrigudos, das senhoras feias e das crianças ranhosas e malcriadas”. Por isso, é importante escolher bem a forma como se faz a viagem para poder “navegar” na margem do turismo massificado.
“Viajar é das coisas melhores que se pode fazer na vida. Podemos ver as coisas nos filmes, mas nada substitui a experiência física da viagem, mesmo com suor e com dores nas pés, até porque isso também faz parte dessa experiência”, conclui Mega Ferreira.
Luís Brito, que viaja de bicicleta e mochila (e que desta maneira passou recentemente três meses no Japão) sublinhou que “o interessante da viagem é o contacto humano e o facto de uma viagem ser imprevisível”. Ou seja, mais importante do que a deslocação e os sítios visitados, é a partilha que conta.
O também escritor contou que, durante algum tempo não resistia à tentação de partilhar a todo o momento fotos e pequenos textos dos locais por onde andava com os seus amigos, mas que isso se tornou obsessivo ao ponto de condicionar a sua viagem. “Por isso, decidi simplesmente deixar de viajar com o iPhone”, revelou.
O jornalista Paulo Moura alertou que viagens não são necessariamente só turismo. A emigração e os refugiados também implica viajar, sendo que estes últimos verdadeiros viajantes, mesmo que as suas viagens sejam involuntárias pois são deslocações cheias de aventuras.
Há também as viagens de negócios que são tão antigas quanto o comércio e as trocas. Os primeiros grandes viajantes foram mercadores e comerciantes. E há ainda as viagens de peregrinação que tão importantes foram na Idade Média e continuam a ser hoje. Não só as dos católicos – todos os anos milhões de muçulmanos de todo o mundo viajam a Meca.
Posto isto, quando através do Google Maps já é tão fácil pesquisar e ver os sítios, ainda faz sentido viajar? “Se é para conhecer os sítios, não. Mas se é para encarar a viagem como uma atitude, como uma abertura aos outros, uma descoberta do desconhecido, então sim”, responde Paulo Moura. Esta perspectiva da viagem como “um encontro com o outro” é igualmente partilhada por Luís Maio, que teceu também algumas considerações sobre a literatura de viagens. Em sua opinião, o género literário em que se viaja para depois regressar e contar o que se viu, já está ultrapassado. E citou Paul Theroux e Bruce Chatwin como escritores que encaixam nesse paradigma muito datado.
“Hoje em dia o bom livro de viagens não é sobre ir, é como estar”, prosseguiu. E explicou: “em vez de se andar de um lado para o outro, viajar é (também) estancar num sítio e confrontar-se com essa realidade, aprender com ela”.
Viajar sozinho ou acompanhado? Os escritores-jornalistas-viajantes estão de acordo: quando se viaja sozinho a experiência da viagem é maior porque está-se mais disponível para comunicar com o outro. Luís Brito resumiu a questão desta maneira: “sozinho viajas, acompanhado passeias”.
E António Mega Ferreira fechou o debate declarando com entusiasmo que “viajar é preciso!”. E após uma pausa: “Viver talvez, Mas viajar é preciso”!































