“Vejo a minha pintura como um outro emprego qualquer”, diz Jorge Lopes

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Jorge Lopes formou-se em Artes Plásticas na ESAD e teve a oportunidade de estagiar em Berlim, tendo optado por ficar a viver na capital alemã.
Graças ao seu trabalho continua ligado ao seu país e vai inaugurar no próximo dia 22 de Setembro, uma exposição individual de pintura no Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal (distrito de Santarém).
Este foi o pretexto para Gazeta das Caldas o questionar, por correio electrónico, sobre as memórias  que guarda dos anos que viveu na cidade e como é agora o seu dia-a-dia numa das capitais mais cosmopolitas da Europa.

GAZETA DAS CALDAS – Qual a sua opinião sobre o seu curso na ESAD?
JORGE LOPES – O curso que fiz foi bom. Eu entrei em Artes Plásticas na ainda ESTGAD em 1999 e acabei a licenciatura em 2004, portanto antes do ajuste ao processo de Bolonha.
Com o tempo e o encontro com outros artistas, dentro e fora de Portugal, tenho confirmado que foi uma sorte ter tido a hipótese de escolher a área dentro das Artes Plásticas que me interessava e de a poder desenvolver com acompanhamento de um ou dois professores dessa mesma área. Ainda durante o curso queixava-me de ter tantas cadeiras teórica porque preferia só pintar. Mas o curso foi uma mais valia. Ninguém ensina alguém a ser artista e uma escola de artes deve existir para isso: mostrar alguns caminhos possíveis.

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GC -Como foi viver nas Caldas? Conserva amigos? Regressa com alguma regularidade?
JL -Gostava de regressar com mais regularidade mas nem sempre é possível. Por exemplo, em 2005 tive uma exposição de grupo “4 Fantásicos” no Atelier – Museu João Fragoso e não pude estar presente.
O meu irmão acabou Design Industrial na ESAD o ano que passou e tenho amigos que aí vivem e trabalham, portanto há sempre um contacto activo. Como foi viver nas Caldas? Eu tinha 17 anos quando entrei na ESAD.
No primeiro ano andava sempre de camisa e bem penteado, acho que saí três vezes à noite! Recebi passado pouco tempo a minha primeira alcunha: o príncipe!!! Nesses cinco anos nas Caldas experimentei uma quantidade de coisas, conheci outras maneiras de estar, comecei a querer perceber o que me interessava, o que era a arte e conheci os meus melhores amigos.
Tive imensa sorte com as pessoas que aí conheci e me ajudaram a crescer. Só há pouco tempo é que percebi que foi uma altura onde tomei muitas decisões mesmo sem saber.

GC -Como  foi a experiência de fazer parte do programa Leonardo?
JL – Ter recebido essa Bolsa foi a melhor surpresa de fim de curso. Ainda hoje não sei a quem é que tenho de agradecer e fico triste por infelizmente a escola não ter puxado as coisas ao limite, de modo a que pelo menos duas pessoas de cada curso, todos os anos, tivessem a mesma hipótese que eu tive.
De repente vi-me em Dortmund, a saber pouco inglês e zero de alemão e comecei de novo a aprender uma quantidade de outras coisas.
Como tinha dinheiro, viajei, visitei museus e comprei material. Fartei-me de pintar e fazer amigos. Como membro da Künstlerhaus Dortmund (residência de artistas) conheci outros artistas e como se organizam exposi«ões, algo que foi muito enriquecedor.

GC -O que o fez optar por ficar a viver e a trabalhar em Berlim?
JL – Eu na segunda semana em Dortmund conheci a Viola que hoje é minha mulher E isso já foi meia decisão! E como estava a gostar da residência e de como as pessoas falam sem preconceitos, como tinha começado a aprender alemão, decidi candidatar-me por mais seis meses. Desta vez sem bolsa. Foi-me atribuído um outro apartamento e atelier e assim fiquei 13 meses em Dortmund. Entretanto, a minha mulher tinha-se mudado para Berlim e eu decidi vir ter com ela. Aconteceu naturalmente.

GC – Como é o seu dia-a-dia?
JL – O meu dia-a-dia é com a família, amigos e no trabalho. Vejo a minha pintura  como um outro emprego qualquer.  Pinto aquilo que tenho para pintar e vou a tantas inaugurações quanto possível. Vejo exposições e aproveito sempre que um amigo vem a Berlim para conhecer mais algum sítio ou museu.
Gostava de ler mais o jornal. Ando todos os dias de bicicleta e no inverno gosto de ir à piscina.

GC – Tem tido oportunidade de participar em eventos internacionais?
JL – Sim, há dois anos estive em Londres para entregar uma pintura e no ano passado participei numa exposi«ão que esteve em Berlim e em Copenhaga. Mais oportunidades virão!

GC -O que o influencia na sua pintura?
JL – Há muita coisa que vem ao barulho. Há umas semanas um amigo disse-me: “as tuas pinturas eram aquelas muita badalhocas” .E eu ri-me porque é verdade. Ás vezes pinto dois anos na mesma tela e o meu trabalho no atelier é muito sujo. Hoje em dia é tudo muito limpinho, muito profissional e eu acredito que há uma quantidade de coisas que têm de ser ditas como elas são – porcas. Mas também gosto de cor-de-rosa e de cores harmoniosas. Há uma pintura minha que tem como título “Círculozinhos bonitos”. Influenciam-me portanto coisas que vejo, coisas de que me lembro de ter vivido e coisas que oiço. O meu trabalho [www.jorge-lopes.com] é pintar.

GC -Como surgiu a oportunidade de expor no Centro Cultural Gil Vicente no Sardoal?
JL – No ano passado, por altura da exposição do Prémio Fidelidade Mundial Jovens Pintores, houve um coleccionador que me convidou para esta exposição.

GC – Pretende regressar a Portugal? Quando?
JL – Isto soa um bocado esquisito, mas eu nunca estive tanto em Portugal como agora. Este é o primeiro ano em que cá tenho duas exposições individuais. Eu regresso sempre a Portugal, mas neste momento sinto-me bem e tenho condições para estar a viver em Berlim.

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