Estão patentes até Setembro no CCC e na Casa Bernardo duas exposições de fotografia de Valter Vinagre.
Inauguradas no final de Julho, as duas mostras têm caracteres diferenciados. “Húmus”, que está patente na galeria do CCC, é um olhar retrospectivo sobre a carreira deste autor que viveu várias décadas nas Caldas. “Há uma revisitação a vários projectos”, explicou o fotógrafo. A montagem inclui 70 imagens a preto e branco e a cores de projectos realizados em Portugal e no estrangeiro (Cuba, Brasil ou França), entre 1988 e 2009. Das séries ligadas à celebração e aos ritos religiosos e pagãos encontram-se imagens de “Cá na Terra” das festas de intrusos que se reportam a festas carnavalescas, por exemplo, na Nazaré ou na Ilha Terceira. Noutros trabalhos as imagens reflectem sobre temas como a morte, o sexo, ou a violência. “Exploro os temas mais subterrâneos no ser humano”, explicou Valter Vinagre, salientando obras que reflectem sobre o abandono ou a destruição.
”O espaço aparentemente bom por ser limpo, apresenta algum desnível entre as várias zonas e foi necessário criar um diálogo entre as imagens. O resultado final foi gratificante”, disse o autor que, durante a inauguração de “Húmus” reencontrou amigos e ex-alunos de cursos que deu na ex-Casa da Cultura, na ETEO e em Peniche.
Esta é uma mostra que foi produzida pela Fundação D. Luís I e exibida no Centro Cultural de Cascais em 2009.
“Húmus” é comissariada por Alejandro Castellote e pode ser apreciada nas Caldas até 30 de Setembro.
“Sítio” é como se designa a mostra que Valter Vinagre apresenta na Casa Bernardo. “Trata-se de um acerto de contas entre mim e aquele espaço”, disse o fotógrafo, que apresenta 11 fotografias sobre o Matadouro Municipal.
As primeiras imagens foram feitas em 1988 pouco antes do matadouro ser desactivado. “Acompanhei o percurso dos animais e recordo que se ouviam balidos que se misturavam com s vozes humanas e cheirava a sangue e fezes, vapor de água e a urina”.
Valter Vinagre regressava aquele espaço quase uma década depois para voltar a fotografar desta vez para o catálogo da artista Marina Abramovic. Permaneciam então todas as memórias daquele local de morte. A artista fez uma instalação que lhe valeu um prémio internacional (no âmbito de uma das edições da Bienal das Caldas) e a primeira leitura do espaço foi-lhe dada pelas imagens deste fotógrafo.
“Naquela altura o local conservava memória das suas vítimas. Ganchos pendurados, tanques para animais mortos vazios, assim como estavam vazios de água os bebedouros”, disse o autor, acrescentando que então “só o silêncio e o mesmo cheiro persistiam anos após o seu encerramento e desinfestação”.
Só que enquanto fazia este trabalho Valter Vinagre contraiu uma estranha febre “a que nem os médicos deram nome” e que o deixou à beira da morte. E é por isso que se impunha esta espécie de ajuste de contas, entre autor e local retratado, “um lugar de suplício e de sacrifício que foi transformado e branqueado”, dando hoje lugar a uma estrutura bem diferente: um Centro de Juventude.
Para o autor, quando hoje se olha o actual edifício “não há nada que nos reporte à história daquele espaço”. Na sua opinião, as memórias históricas dos locais “devem ser preservadas” e por isso deveriam existir referências que lembrassem a função passada de um edifício histórico que foi desenhado por Rodrigo Berquó em 1891 e inaugurado em 1894.
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