Itinerário do Sal assim se designa o espectáculo apresentado nos dias 16 e 17 de Outubro na sala estúdio do Teatro da Rainha. O seu criador e intérprete é Miguel Azguime que apresentou um espectáculo onde o teatro se alia ao som e à imagem nesta actuação multimédia onde a tecnologia tem um papel central. O poeta e actor vai regressar às Caldas em Dezembro com os Sond’Ar-te Electric Ensemble para apresentar um projecto para as escolas onde a música se alia à literatura contemporânea.
Miguel Azguime veio às Caldas dar a conhecer o seu projecto autobiográfico, Itinerário do Sal. Trata-se de um espectáculo híbrido, onde é difícil definir se é teatro ou se é música. Há sons, imagens e câmaras que são manipuladas em tempo real pelo criador.
O espectáculo tem por base textos poéticos “que são muito abstractos e sonoros, como se fossem música e falam sobre várias perspectivas da criação”, contou o autor, à Gazeta das Caldas, acrescentando que esta actuação multimédia se centra em si como criador, sem no entanto abordar matéria específica sobre o que aconteceu na sua vida. “Este espectáculo sou eu!”, resumiu.
Itinerário do Sal é composto por três partes. A primeira é “a ausência do autor”. Ou seja, ele está presente pelo texto, mas não está fisicamente. Na música, há a figura do compositor e do intérprete e nesta actuação “eu assumo ambas”, conta. A segunda parte designa-se “o ar do texto opera a forma do som interior” e sobre o gesto de escrever. O performer inicia um solo com uma caneta como se estivesse a escrever e cujo som é ampliado. Também há palavras e frases processadas que surgem agora como sons ao público.
A terceira e última parte dá título à peça – Itinerário do Sal – e refere-se ao percurso entre “o que é objectivo e totalmente subjectivo”.
O autor afirma que nesta parte da actuação “há uma espécie de desmesura na performance que está no limiar da razão e da loucura”. Vêem-se imagens obtidas nas salinas de Tavira que ilustram vários momentos. Para o autor, na criação, o sal é uma metáfora pois em relação à comida “se não está presente, não sabe a nada, mas se for muito, fica tudo salgado e também não serve”.
Itinerário do Sal foi pensado para itinerância pois tem uma cenografia muito simples. Mas já em termos de novas tecnologias, a actuação necessita de um sistema super-sofisticado de som e imagem que contempla sensores e câmaras em todo o lado, que captam e projectam imagens em tempo real.
“É uma actuação de grande complexidade tecnológica que não poderia ter sido feito nem há 20 e se calhar nem há dez anos”, disse Miguel Azguime.
O autor vai regressar às Caldas a 17 de Dezembro para apresentar um espectáculo onde a música se alia à literatura contemporânea portuguesa. Actuarão os Sond’Ar-te Electric Ensemble num espectáculo onde, além da música, serão lidos textos de Camões, Saramago, Pessoa e de Isabel Milhós Martins.
Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt






























