Uma artista caldense que dá cartas no teatro do País Basco

0
930

Mafalda Saloio vive em San Sebastian, onde desenvolve projetos inovadores de teatro comunitário e onde alia a música e a dança. Atualmente está a trabalhar com idosos, com coros e com ópera

A caldense Mafalda Saloio vive na cidade de San Sebastian, no Pais Basco, desde 2011. A atriz e encenadora mudou-se há nove anos e tem várias iniciativas.
Uma das ações que desenvolve, “On do ko”, é um projeto de teatro-dança para pessoas entre os 70 e 95 anos, que criou há quatro anos, na Casa de Cultura de Egia. A iniciativa “procura criar redes de encontro entre as pessoas e o bairro onde vivem através da Arte”, contou a artista, acrescentando que, por causa deste espetáculo, agora tem em mãos mais quatro semelhantes.
Também está a laborar com o coro infantil e de adolescentes de Easo e com o diretor musical Gorka Miranda. É a quarta ópera que cria com este grupo.
“Nunca tinha imaginado trabalhar neste universo, mas tem sido desafiante”, disse a caldense, explicando que, no processo de criação, o mais importante é que os vários elementos (com idades entre os 8 e 16 anos) possam viver o canto e trabalhar “as suas capacidades/dificuldades permitindo-se arriscar”. Estas óperas contam com um forte trabalho visual, de manipulação de objetos, de movimento e de canto, que são trabalhados por todos a partir do zero, “num processo muito louco, mas muito giro também”, referiu a caldense, formada na Escola Internacional de Teatro Jaques Lecoq em Paris.
Quando ainda estudava Jornalismo, integrou o grupo de Teatro de Letras com Ávila Costa. E, em 1998, criou o grupo Lugar Vagon, com quem fez espetáculos dentro de montras, de prédios, na aldeia Cova do Vapor ou na própria rua.
Dedicava-se ao teatro sem palavras e “procurava espaços alternativos da cidade”, relembrou a atriz, que, com Suzana Branco. apresentou o espetáculo “Vou Vai Ando”, dentro do Navio Rio Sabor, atracado na antiga Doca Pesca de Lisboa. “Foi das coisas mais loucas e belas que criámos”, notou, acrescentando que trabalharam com uma equipa de 15 atrizes e atores num universo “super curioso, cheio de pescadores, com uma lota gigante”. No primeiro ano criaram o espetáculo sem dinheiro. E no seguinte, apresentavam duas sessões a cada noite e sempre com o barco cheio. “Era uma verdadeira maratón artistic!”, recordou Mafalda Saloio sobre este sucesso, que lhes valeu o prémio de reposição do Teatro da Década.

A caldense gosta de desafios e criou “Pé na terra, cabeça no ar” com o Rancho da Fanadia e ginastas da Acrotramp

Nas Caldas, a atriz trabalhou com o CCC, com a BCI e com o Rancho da Fanadia

Nas Caldas, também fez vários projetos inovadores. Em 2014foi convidada para uma residência artística no CCC. Ali nasceu “Pé na terra, cabeça no ar”, projeto de teatro-dança com o Rancho Folclórico da Fanadia, com Sérgio Pereira, diretor do grupo e com mais quatro ginastas do Acrotramp Clube das Caldas. Este projeto, com música de Fernando Lopes, era dedicado ao sonho e à vontade de voar e foi trabalhado ao longo de quatro meses, “num intenso trabalho humano e artístico”.

“Sforzando”, um espetáculo de 2015 com a BCI, Vitor d’Andrade e Adelino Mota
- publicidade -

Em 2015 nasceu “Sforzando” com a Banda Comércio e Indústria, o maestro Adelino Mota e o ator Victor d’Andrade. Dedicava-se à força da música em lugares de sobrevivência, contando a história de uma banda filarmónica nómada “que insiste em tocar mesmo quando tudo está a cair à sua volta”. “Resultou num trabalho intenso de movimento e de interpretação” e que, mais tarde, foi trabalhado por Mafalda com outras bandas, em Portugal e no Pais Basco. Ainda em resultado dessa residência surgiu “Brisa ou Tufão”, um solo que a atriz já representou mais de 40 vezes entre Portugal e Espanha e que continua em circulação.
Sempre que pode, volta a casa para visitar família e amigos. Quando parte para o País Basco, leva um carregamento de bens da Praça da Fruta pois, para a encenadora, os lugares e os sabores “são igualmente importantes”, rematou. ■

 

Mafaldas Saloio
Atriz e encenadora

A caldense, de 44 anos, começou por estudar Jornalismo, mas cedo percebeu que o teatro era o seu caminho. Foi nas Caldas, com o encenador Aníbal Rocha que deu os primeiros passos. Em 1998 lecionou Expressão Dramática na Raul Proença e no ano seguinte passou a dar aulas na ETEO, onde esteve 15 anos. Tem sido convidada para desenvolver projetos em toda a Península Ibérica e já obteve prémios por várias criações

- publicidade -