No escape from Noise (“Sem escape do ruído”) assim se designa a exposição de João Belga inaugurada a 23 de Novembro no espaço da Concas. A mostra, patente até Fevereiro, acolhe trabalhos deste artista que expõe individualmente desde 1997.
A exposição, que tem curadoria de Rui Afonso Santos, ainda contará com momentos musicais e o lançamento de um livro de artista. A não perder No escape from Noise está patente no Espaço Concas no Centro de Artes nas Caldas da Rainha.

“João Belga é um artista e um amigo que aprecio há vários anos e que funde no seu trabalho referências musicais, literárias, filosóficas e cinematográficas”. Palavras do curador da exposição, Rui Afonso Santos, que trabalha no Museu de Arte Contemporânea, em Lisboa. O curador teve uma presença performativa pois durante a inauguração usou uma mascarilha, tendo explicado que se tratava de uma homenagem a Orville Peck, um cantor country que esconde a sua identidade atrás de máscaras.
De regresso à obra de Belga, o curador afirmou que este tem “um desenho extremamente seguro”, que serve de base a uma pintura onde surgem temas da “baixa e alta cultura assim como das subculturas urbanas”.
Nas obras deste autora, cuja formação inclui as Belas Artes de Lisboa e a ESAD.cr, convivem punks, skaters e skinheads “numa espécie de artesania de uma visão muito contemporânea onde as imagens se sucedem caoticamente”. É um mundo que lembra Twin Peaks, de David Lynch que se une a referências do feminismo artístico dos anos 70 entre tantas outras referências urbanas.
“Mas há redenção para este artista, que é um optimista. A redenção é possível através dos afectos”, referiu Rui Afonso ao mesmo tempo que mostra obras que são do mundo afectivo de Belga.
A exposição abre com um longo tapete de Arraiolos, bordado com código de barras que representam datas marcantes da vida pessoal do autor, incluindo pinturas feitas a partir de fotografias de alguns familiares. Além das tintas, João Belga usa nas suas obras colagens, sprays, acrílico, tinta da china, canetas e marcadores.
O curador diz que conheceu as primeiras exposições de João Belga que decorreram nas edições iniciais do Caldas Late Night. “Creio que as Caldas tem uma cultura muito dinâmica e uma escola de referência que tem dado vários excelentes pintores”, referiu acrescentando ainda que são iniciativas como a realização de No escape from Noise que são fundamentais para colocar Caldas no mapa das artes contemporâneas.
“Nesta exposição estão representados 22 anos de trabalho”, disse João Belga, explicando que a selecção e escolha das obras foi alvo de uma residência artística no Centro de Artes das Caldas da Rainha que aconteceu durante os dois meses antecedentes.
Foi um trabalho de pesquisa, de procura nos baús para se escolher e organizar quais os trabalhos mais significativos das várias fases do seu percurso. Juntaram-se algumas obras que fazem parte do ambiente de casa do artista, além de outras que marcaram fases mais figurativas ou expressionistas ou das primeiras individuais, feitas em Lisboa e no Porto. Do seu trabalho fazem parte referências culturais que marcaram toda uma geração.
Mapear artistas
Para o director do Centro de Artes, José Antunes, João Belga “é um pintor que marca a paisagem artística do país dos últimos 25 anos”. O responsável contou que a ideia para a realização desta exposição tem dois anos e o convite feito a Rui Afonso para fazer a sua curadoria sublinha a importância deste artista e uma visão totalmente diferente da do autor.
Segundo José Antunes haverá também momentos musicais na programação da mostra já que a música é um referência fundamental na obra de Belga.
Antes do final da exposição, vai ser lançado um livro de artista que deverá ser apresentado no início do próximo ano. Este será editado pela Stolen Books e a distribuição será feita por locais da especialidade – como feiras internacionais de arte – “permitindo que a obra de João Belga possa viajar e percorrer outros caminhos”, referiu o responsável.
Para José Antunes, as Caldas da Rainha está sub-representada no mundo da arte contemporânea pois “produzimos artistas incríveis e isso é algo muito invulgar”. Além da formação na ESAD, muitos artistas mantêm uma ligação ao Centro de Artes, permanecendo nos seus ateliers de trabalho na fase inicial das suas carreiras. “Vamos continuar a fazer este esforço de mapear os nossos artistas, reconhecendo e legitimando o seu trabalho”, rematou José Antunes.































