É um conjunto de dois livros de pequeno formato [15×10 cms], que passam despercebidos a um olhar menos atento; não são propriamente o que se possa chamar uma obra de peso, e o seu aspecto não é muito sedutor. As capas, apesar de serem em pele, demonstram bem as mazelas do tempo e mostram as marcas de que já serviram de pitéu a um qualquer minúsculo bichinho apreciado de eruditas leituras.
Apesar disto tudo, eles constituem uns dos livros da minha biblioteca por quem nutro um particular afeto. Da autoria de Nicolau Tolentino de Almeida [1740-1811], poeta satírico, que com graça caricaturou os costumes da sociedade do seu tempo, dedicou às Caldas da Rainha vários poemas, sendo talvez o mais conhecido o seguinte, intitulado: “Nas Caldas da Rainha”
Nas Caldas, nas tristes Caldas,
Alegria vim buscar;
Quis de noite ver o sol,
Quis achar fogo no mar.
Olhos meus, cansados olhos,
O vosso ofício é chorar.
Que importa mudar de terra,
E baldados passos dar,
Se a toda a parte a que os volto
Vai comigo o meu pesar?
Vejo pálidos doentes
Pela copa passear,
Ouça de antigas moléstias
Tristes efeitos contar.
Vejo nas férvidas águas
Mirrados corpos banhar,
E debalde aos surdos céus
Convulsos braços alçar.
Vejo de perdido pranto
Tristes ais acompanhar,
Com as lágrimas alheias
Vou as minhas misturar.
Que importa ver ninfas belas
Se acrescentam maeu pesar?
Gostam de atrair os olhos,
E as almas tiranizar.
Olhos meus, cansados olhos,
O vosso ofício é chorar.
Ao som de feridas cordas
Dão doces vozes no ar,
Quais enganosas sereias,
Que cantam para matar.
Se o meu pobre coração
Se deixa uma vez tocar,
Com escárnios, com risadas,
Meu pranto vejo pagar.
Fartai-vos, pois, olhos meus,
De lágrimas derramar;
Vos nascentes para tristes,
E escolhestes o lugar.
Olhos meus, cansados olhos,
O vosso ofício é chorar.
Além deste poema deparamos com um outro também dedicado às Caldas, intitulado «Nas mesmas Caldas”, cujo estribilho é: “Negras Tristezas Adeus, Adeus”, e que uma das suas quadras constitui uma demonstração de afeto do autor pela vila. Reza assim: “Caldas ditosas / Teu nome cresça / Alça a cabeça / Até aos céus.”
É esta uma breve e muito concisa leitura da obra poética de Nicolau Tolentino de Almeida, publicada em dois tomos, em Lisboa, na Regia Oficina Tipográfica, no ano de MDCCCI, com licença da Mesa do Desembargo do Paço, em que as Caldas da Rainha é merecedora da atenção do sarcástico poeta.































