Este ano o Jazz Valado atingiu a maioridade. Com 18 anos e com vários grandes nomes do panorama jazzistíco nacional já nele apresentados, o jovem adulto festival mostrou respirar saúde, numa primeira noite em que o quarteto liderado por Carlos Martins encantou os presentes que sorriram, aplaudiram e reflectiram num ambiente único.
“Tocar aqui é algo de muito puro! Até parece que estamos a tocar para as pessoas do outro lado da rua”, explicou à Gazeta das Caldas o guitarrista Mário Delgado. Ele que tocou nesta mesma sala no primeiro concerto de jazz realizado nesta localidade. “Lembro-me que o edifício estava em obras, mas só depois me apercebi que não tinha tecto, estava a tocar e a ver as estrelas”, recordou, já depois de destacar “uma audiência bastante genuína” num festival fora das grandes cidades.
Para dar início à noite, Adelino Mota subiu ao palco para dar as boas vindas aos presentes, destacando o papel dos 14 voluntários. “São a alma disto”, exclamou, pedindo a primeira salva de palmas da noite para eles.
Carlos Martins revelou-se extremamente contente de estar no Valado. O artista, que veio de propósito de Cabo Verde para tocar neste festival, afirmou que “é incrível que haja um espaço destes”. O saxofonista apresentou-se em quarteto, acompanhado por Mário Delgado (guitarra), Alexandre Frazão (bateria) e Carlos Barretto (contrabaixo).
No concerto foram tocadas músicas do mais recente álbum de Carlos Martins, Absence. Este sétimo disco como líder é uma homenagem a Bernardo Sassetti, com quem o músico havia lançado o último, Água, em 2008. Na altura, também visitaram este festival para apresentar o álbum, que posteriormente se revelou o melhor disco de jazz do ano.
Os temas que compõem o álbum lançado em Dezembro de 2014 são simples e melódicos, encerrando em si uma grande carga emocional, dentro do que era a essência daquele grande pianista.
Mas desengane-se quem pensou que a noite não teria animação ou que a música era apenas e só melancólica. No salão da Biblioteca Instrução e Recreio houve até quem dançasse e cantasse o Maio, Maduro Maio (de Zeca Afonso) instrumental que encerrou a noite.
Esther Andersen, uma dinamarquesa que há 38 anos vive em Portugal, definiu o concerto como um momento de “altíssima qualidade”. Esta imigrante lembrou um ponto de vista curioso acerca das colectividades. É que, certa vez em que veio a este festival com os vizinhos alemães, explicou-lhes o que era o edifício, quando havia sido construído e com que fins. E eles comentaram: “o que estávamos nós a fazer em 1933, perguntaram-se eles… Em pleno estado hitleriano não era colectividades, com certeza… Isto é muito mais do que se pode pensar”.
Contou ainda que tem trazido imensa gente a este festival porque “é muito raro ouvir este tipo de jazz sentado à volta da uma mesa de bar… Isto aqui é completamente diferente”.
Foi o caso de Diane Ferrari, que veio ao festival a convite, claro está, da amiga Esther. “Muito bom jazz! Sou ceramista e podia usar esta música quando estou a trabalhar no ateliê. É uma música que faz o corpo e a mente sentirem-se bem”, exclamou.
Das Caldas para o Valado foi João Bernardes, que já não via esta banda há muito tempo. “Já os vi diversas vezes, são músicos de uma grande qualidade técnica, mas acho que o Carlos Martins anda mais inspirado”, disse, antes de salientar o historial do festival e o ambiente que ali se vive. “O Jazz Valado tem essa postura de estar à vontade com aquilo que se ouve”, concluiu.































