Um alcobacense toca violino enquanto surfa ondas gigantes na Nazaré

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Nuno Santos

Já pensou no quão desprotegido se deve sentir no momento em que surfa uma onda gigante na Nazaré? E se de repente, além disso, puxasse de um violino e começasse a tocar em cima da prancha? Perigoso? Sem dúvida, mas o conceito já colocou o alcobacense Nuno Santos nas bocas do mundo. Agora a ideia é bater um recorde do mundo na Nazaré. O projecto é mais abrangente e surgiu por acaso numa viagem à América do Sul. “Violino nos locais mais improváveis” já o levou ao topo de um vulcão e irá levá-lo a tocar com golfinhos e baleias.

Foi quase por acaso que nasceu “Violino nos locais mais improváveis”, um projecto do professor de Marketing Desportivo do Instituto Politécnico de Leiria, Nuno Santos. Amante de desporto e de música, o violino e a prancha sempre foram os principais gostos deste alcobacense nascido na Vestiaria.
Em 2005 viajava por Inglaterra, França Estados Unidos da América, Brasil… Sempre com o seu fiel companheiro, o violino, que não só o ajudou a travar amizades, como o socorreu em momentos em que o dinheiro escasseava.
Foi depois de uma fotografia a tocar no meio da selva Amazónica (na parte equatoriana) e do feedback que recebeu, que nasceu a ideia.
De repente, mas não sem antes se preparar afincadamente, sobe ao cume de um vulcão e tira mais uma fotografia a tocar violino. A partir daí o projecto estava lançado, muito pelo desafio que representava para Nuno Santos.
É que este músico procura sítios que o desafiem física e psicologicamente, locais que o ajudem a superar-se e, assim, “a ser uma pessoa melhor”.
Há cinco anos, com a visibilidade e os ensinamentos que Garret McNamara trouxe para a região com o Canhão da Nazaré, aliados a um sonho antigo de surfar ondas gigantes, acrescentou esta ideia ao seu projecto.
Já surfou a tocar, mas actualmente quer registar formalmente este feito como recorde para o Guiness. Para tal precisa de uma onda entre os 10 e os 15 metros.
Trabalha apenas com parceiros nacionais, numa lógica de mostrar que “os portugueses conseguem e também têm valor”. Defende que “além da experiência, a diferença entre portugueses e estrangeiros é que eles conseguem ser profissionais”, portanto quer que o seu feito seja também uma exaltação do que é nacional. Para isso irá usar uma prancha com o núcleo em cortiça e tocar uma música bem portuguesa.
Já os violinos esses são dos mais baratos, porque estragam-se com facilidade em contacto com a água do mar.
Além da selva amazónica, do cume de um vulcão ou das ondas da Nazaré, já tocou na cordilheira dos Andes, num navio ou num… supermercado.

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“O MAR É QUE MANDA”

Nuno Santos mostra um grande respeito pela força da natureza e é o primeiro a admitir que “o mar é que manda”. Neste projecto tem de “balancear coisas antagónicas como esforçar-me imenso por algo e não ver resultados práticos imediatos. Tenho de saber esperar, ser paciente e resiliente, humilde e confiante, sem nunca cair no excesso”.
O pior que pode acontecer quando se surfa ondas gigantes é o afogamento. Depois vêm as lesões por traumatismo e as lacerações e, por fim, os danos materiais. Um exemplo concreto para as duas últimas: a mota de água bater na cabeça do surfista e a prancha fugir e partir-se nas pedras.
No meio das ondas gigantes “o ambiente é hostil”, assegura. Portanto, além de muita preparação, “tem de se querer mesmo estar lá e de se ter muita responsabilidade para minimizar os riscos”. Depois, “ninguém surfa na Nazaré sozinho”. Daí que saliente o trabalho da sua equipa e do bom material que dispõe.
A mota de água foi adaptada e tem agora um local para onde atira de imediato o arco do violino e tem pequenas peças suplentes para o violino e um diapasão.

GOSTAVA DE TOCAR NO MEIO DE GOLFINHOS, TUBARÕES E BALEIAS
Para bater o recorde do mundo não precisa de nada que não tenha, ainda que admita que “um apoio financeiro poderia ajudar a comprar uma mota de água melhor ou mais câmaras para fazer planos diferentes”. Ainda assim, segundo o músico, o que daria um bom impulso ao projecto seria um parceiro de comunicação.
Em termos musicais apresentou o seu álbum Elementos na reabertura do Forte São Miguel Arcanjo ao público. Replicar musicalmente cada um dos quatro elementos (ar, fogo, água e terra) e criar outro para a Quinta Essência é o resultado do trabalho (onde além de violino toca violoncelo e piano) que já foi apresentado em vários cine-teatros da região e na Fundação Calouste Gulbenkian. “Gostava de tocar no Centro Cultural de Caldas”, admite.
Com uma agenda rigorosa, além de professor e músico em part-time, Nuno Santos é guia turístico nas viagens aos golfinhos da Nazaré.
É daí que surge a ideia para um dos próximos locais improváveis: tocar com os golfinhos da Nazaré. E depois com baleias, nos Açores. “Também gostava de tocar com tubarões”, contou. Mas o grande objectivo de Nuno Santos é tocar violino nas maiores montanhas dos cinco continentes e nas maiores ondas dos cinco oceanos.

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