Tigran Hamasyan foi a estrela do Caldas Nice Jazz

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_MG_7013Já começou o festival que traz o jazz às Caldas durante dez dias e que teve o seu ponto alto, até ao momento, na noite de sábado passado com o concerto do arménio Tigran Hamasyan. O arménio revelou-se um artista ímpar e impressionou a assistência que se rendeu ao seu profissionalismo.
O evento iniciou-se na passada sexta-feira, dia 24, com um concerto de Melissa Oliveira (a luso-australiana que se apresentou num sexteto) e irá prolongar-se até ao próximo domingo, dia em que actuam os austríacos Donauwellenreiter.
Além de trazer artistas internacionais de renome, o Caldas Nice Jazz está a dar a conhecer o que de melhor se faz em Portugal neste género musical.

Sexta-feira –
a inauguração

O Caldas Nice Jazz iniciou-se na sexta-feira, dia 24, no grande auditório do CCC, com a actuação de Melissa Oliveira. Esta luso-australiana actuou num sexteto formado com Jason Palmer (trompete), J.A.M. (turntables e projecções), Rui Silva (guitarra portuguesa), José Carlos Barbosa (contrabaixo) e João Martins (bateria).
Ficou patente a harmonia entre a voz de Melissa Oliveira, o trompete de Jason Palmer e os restantes instrumentos da banda que encontrou novas formas de usar a guitarra portuguesa, como apresentou no tema Pensamentos. Esta canção demonstra que “tudo se consegue no jazz”, conforme palavras da própria Melissa Olveira.
No final do concerto J.A.M. destacava o carinho do público português em geral, e do caldense em particular. “Cada vez mais percebo porque é que as pessoas vêm a Portugal de férias. A simpatia das pessoas, a maneira semi-relaxada de viver… É um pais óptimo, tanto para viver como para férias” disse.
Para o futuro está planeada a gravação do segundo disco, que será em formato CD e DVD.
Contudo, e apesar da qualidade do cartaz, apenas 90 pessoas estiveram presentes neste concerto.
Vérter Gomes, um dos espectadores, disse à Gazeta das Caldas que não conhecia a obra desta artista, mas que a achou “muito interessante pois conseguiu reunir todos os instrumentos, incluindo alguns que não são tanto de jazz”.

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Sábado – uma noite memorável

A noite de sábado, dia 25, ficará certamente na memória de todos os presentes no grande auditório do CCC. O concerto de Tigran Hamasyan, pianista arménio que toca desde os três anos, trouxe mais de 200 pessoas ao Caldas Nice Jazz.
Tigran Hamasyan apresentou-se num trio composto também por Arthur Hnatek (bateria) e Sam Minaie (baixo eléctrico).
O público presente no grande auditório recebeu o pianista com uma grande ovação e voltou a soltar uma grande salva de palmas no fim da primeira música. O artista agradeceu e presenteou o público com uma canção nunca antes tocada ao vivo (dividida em duas partes intituladas: The greed e Out of the greed) e que irá sair em finais de Janeiro, no novo álbum, o quinto deste pianista.
O público voltou a dar-lhe um forte aplauso.
O pianista arménio demonstrou tocar este instrumento com grande mestria, fazendo da sua obra uma autêntica celebração à vida, ora calma e introspectiva, ora agitada e expansiva.
No final o trio prestou uma demorada e sentida vénia à plateia que o aplaudiu de pé. A pedido dos presentes, os três músicos voltaram ao palco para uma última composição. Despediram-se e o público pediu mais… Voltou Tigran Hamasyan para tocar uma última música a solo. “We love you” ouviu-se da plateia.
Tigran descreveu este espectáculo como sendo uma grande noite para si, destacando depois a audiência sempre reactiva naquele que era apenas o segundo concerto da sua tour. O pianista já havia estado em Portugal com este trio, no festival Músicas do Mundo, em Sines, e admite que é sempre muito bom estar cá. “Há uma grande conexão com o público, consegues mesmo sentir a energia que eles te dão”, disse à Gazeta das Caldas.
Durante a manhã actuaram, pelas ruas da cidade, os Cottas Club Jazz Band.

Domingo – Jazz no hotel

Na tarde de domingo o Sana Silver Coast Hotel recebeu um concerto de Vicente Valentim. O pianista actuou num trio com João Fragoso (contrabaixo) e Guilherme Melo (bateria).
Para o hotel é importante “estar envolvido em todas as acções da comunidade, para além de se associar a um evento com tamanha importância nacional e internacional”, afirmou Sofia Nogueira, sub-directora do Sana Silver Coast Hotel. Quanto ao concerto propriamente dito, “o bar esteve muito cheio e correu tudo bem, só achei que foi curto demais…!” afirmou esta responsável. A sub-directora estimou o público presente em mais de meia centena de pessoas.
Maria do Rosendo vive na Benedita e veio ao jazz às Caldas. Diz que esta iniciativa é boa para todos. “As pessoas têm acesso à música, à diversão, consomem mais, o que ajuda os cafés, e os artistas têm um espaço para se mostrar”. Esta beneditense viu o concerto no Sana e, como gostou, decidiu convidar as primas para irem ao café Capristanos no dia seguinte. “Devia haver mais vezes” afirmou.

Segunda-feira – um café à anos 50

O café Capristanos recebeu cerca de 40 pessoas que assistiram ao concerto de João Dias Ferreira. Mas muitos foram os que, por curiosidade entraram para ver o que ali se passava. À porta um casal conversa: “o que é isto?” – pergunta ele. “É música!” – responde ela.
André Ferreira, que toca contrabaixo nesta banda, destacava o ambiente que se gerou no Capristanos. “Também por ser um café e por as pessoas estarem mais próximas formou-se um grande ambiente. Gostei muito de tocar aqui” disse.
Rui da Bernarda, proprietário do café, relembrou o passado icónico deste espaço (que até tinha uma banda permanente), para projectar o futuro. O empresário pretende remodelar aquele espaço tornando-o mais atractivo para “voltar a fazer deste sítio um dos mais emblemáticos da cidade”. Este concerto faz parte dessa nova cara. “É fantástico ter o café cheio de pessoas para ouvir jazz, é o realizar de um sonho”, concluiu.
João Ferreira veio de Lisboa e foi o jazz que o trouxe às Caldas. Entusiasmado, não teve dúvidas em afirmar que, a partir deste evento, a cidade entrou no mapa jazzístico nacional. “A partir de agora as Caldas passou a ser uma cidade onde o jazz é uma possibilidade”, disse.

Terça-feira – auditório cheio na EHTO

Na terça-feira, dia 28 de Outubro, o auditório da EHTO encheu-se para o concerto do duo composto por João Neves (voz) e Katerina L’dokova (piano).
Foram cerca de cem pessoas, num auditório que tem apenas capacidade para 70.
O director desta escola, Daniel Pinto contou à Gazeta das Caldas que este concerto faz parte do projecto educativo desta instituição. Para além disso, esta pode ser a primeira oportunidade para muitos alunos de assistir a um concerto de jazz.
Francisco Alexandre, aluno da EHTO, é um desses casos. “Gostei bastante, principalmente da versatilidade dos artistas”, disse.
Os artistas, no rescaldo do concerto, contavam que, “depois disto se algumas pessoas do público forem para casa pesquisar músicas do Fausto ou do Sérgio Godinho, ou outros compositores portugueses, já é um óptimo trabalho”.
Os músicos tiveram oportunidade de passear pela cidade e saltaram-lhes à vista os pavilhões do parque. “É incrível o desperdício… Aquilo é demasiado bonito para estar assim…” afirmaram.

Isaque Vicente

ivicente@gazetadascaldas.pt

Jazz até domingo
Esta é a segunda edição de um festival que pretende tornar-se uma referência e colocar as Caldas no mapa jazzistíco nacional.
Para além dos concertos internacionais (Melissa Oliveira, Tigran Hamasyan), o evento conta ainda com uma apresentação de cinco concertos de artistas portugueses em vários espaços da cidade (incluindo o concerto dos caldenses Raging Jazz previsto para a passada quinta-feira na ESAD).
O festival segue hoje com um concerto de João Barradas, jovem acordeonista português que está entre os melhores do mundo e que tocará em quarteto com João Paulo Esteves da Silva (piano e acordeão), André Rosinha (contrabaixo) e Marcelo Araújo (bateria).
Amanhã, sábado, um espectáculo do conceituado vocalista inglês Alexander Stewart terá lugar no grande auditório do CCC. A primeira parte deste concerto será feita por Cláudia Franco, uma revelação no panorama do jazz português.
No domingo, último dia do festival, tocarão os Donauwellenreiter (Surfistas do Danúbio) que vêm de Viena. O quarteto é formado por Thomas Castañeda (piano e teclado), Maria Craffonara (voz, violino e percussão), Lukas Lauermann (violoncelo) e Jorg Mikula (bateria).
I.V.

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