Durante muito tempo a Banda Filarmónica foi a única animação em A-dos-Francos

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A actual formação da banda no concerto da Primavera que celebrou os 110 anos da colectividade

Diz a história que foi no domingo de Páscoa de 1906 que um grupo de homens vestidos à civil se estreou no primeiro concerto.

BandaAntiga
A primeira formação da banda com os músicos ainda vestidos à civil

Durante muito tempo a banda filarmónica da Sociedade de Instrução Musical, Cultura e Recreio (SIMCR) de A-dos-Francos foi a única força viva da aldeia, quando ainda nem estavam criados grupos desportivos. Sempre que a banda saía em serviço, a localidade ficava deserta.
Actualmente, passados 110 anos, compõem a banda 52 músicos, dos 11 aos 72 anos e frequentam a Escola de Música 25 alunos.
Sábado à noite ensaia-se no edifício da SIMCR de A-dos-Francos e desde logo na rua se ouve o barulho dos instrumentos. O bar da colectividade está animado e há jovens a jogar snooker, mas é no primeiro andar que o maestro e os músicos estão reunidos na sala de ensaios.
Por várias vezes Tiago Alves interrompe o ensaio, solicitando que um músico ou determinado naipe repita o compasso falhado. Quando o maestro se dirige aos instrumentistas como “tutti” significa que todos eles são chamados a tocar a próxima sequência.
Sempre que se muda de peça os músicos pegam numa pasta para procurar as partituras que estão organizadas por ordem alfabética. É preciso ser-se responsável para não perder os papéis, caso contrário (e se o esquecimento for recorrente), arriscam-se a não ensaiar aquele tema.
No final do ensaio Tiago Alves recorda as datas dos serviços marcados e anuncia as novas, averiguando a disponibilidade de cada músico.
Para Gentil Ferreira, 54 anos, uma das principais dificuldades que a banda atravessa prende-se precisamente com a motivação dos mais novos. “É difícil entusiasmá-los e muitas vezes eles faltam às actuações, o que nos obriga a contratar músicos de fora e, por isso, gastar dinheiro desnecessário”. Quando entrou para a banda, há 39 anos, Gentil lembra-se que era raro alguém faltar. “Em primeiro lugar penso que existia mais responsabilidade, em segundo o director caía-nos logo em cima se não aparecêssemos”.
Na opinião do maestro, o problema centra-se na “crise de valores que atravessa a sociedade actual”. Agora parece que qualquer motivo é justificação para faltar aos ensaios e às actuações, mesmo que a razão apontada seja uma festa de aniversário ou uma saída com os amigos.
Margarida Lourenço, 16 anos, entrou para a banda em 2009 e é um dos elementos jovens do grupo. Sendo natural de A-dos-Francos quis integrar a filarmónica após ter assistido a vários dos seus serviços. Aluna do 10º ano de Economia, diz que “é fácil conciliar a banda com a escola, trata-se apenas de uma questão de organização. Afinal há apenas um ensaio por semana, quase sempre às sextas-feiras ou sábados à noite, fora do horário escolar”.
Todos os músicos novos que entram para a banda, à semelhança do que aconteceu com Margarida, passam por uma espécie de praxe. “Costumamos fazê-las quando saímos em serviço e consistem em brincadeiras inofensivas, como pô-los a comer a sopa com uma tampa de uma garrafa de plástico”, explica a jovem.
Na sua maioria, os músicos mais novos preferem os concertos às procissões e peditórios. Isto porque nos primeiros serviços o repertório é mais complexo, diversificado e apelativo. Por outro lado, os veteranos da banda sentem saudades da música popular portuguesa que antigamente alegrava as festas e bailes das aldeias.
“Não é fácil lidar com a diferença de idades porque esta implica gostos musicais diferentes. É preciso gerir muito bem o repertório de forma a tentar agradar a todos”, explica Tiago Alves, acrescentando que é essencial conhecer a personalidade dos músicos para saber optar pela melhor forma de abordagem. “Obviamente não falo da mesma forma para um instrumentista de 11 anos e para outro com 70 anos. É preciso ter respeito por quem já deu tanto à casa”.
Todas as actuações da filarmónica incluem uma obra escrita por um compositor português e nas festas 50% do lucro obtido é distribuído pelos músicos. Novos e velhos recebem por igual.

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Historial de acidentes

Há 50 anos, pouco tempo antes de Vitor Santos integrar a banda e sentar-se no lugar do bombardino, a filarmónica de A-dos-Francos sofreu aquele que – até à data – foi o seu maior acidente. Numa das curvas apertadas da Serra do Montejunto valeu ao autocarro um monte de pedras e um pinheiro que impediram que a camioneta caísse serra abaixo. Todos os músicos tiveram que ser assistidos no hospital.
Anos mais tarde, num peditório nas Fráguas (Rio Maior), a banda saiu a tocar em cima de uma carrinha, sentada em fardos de palha. O piso molhado e a pouca experiência do condutor fez com que numa travagem brusca os músicos saltassem dos assentos e esbarrassem uns contra os outros. Felizmente não houve feridos graves. Piores ficaram os instrumentos.
“As condições de segurança muitas vezes não estão garantidas e também já aconteceu tentarem-nos pôr a tocar numa camioneta de transporte de porcos… ainda suja! Claro que não aceitámos até que lavassem o carro, mas mostra bem o pouco respeito que às vezes nos têm”, conta Vitor Santos, 61 anos.
Nos peditórios e procissões anda-se e toca-se ao mesmo tempo – e muitos quilómetros – por isso é frequente rasgar o lábio num passo mal dado ou chegar a engolir a palheta.

A única animação da aldeia

Em 1970 (ano em que Vítor Santos entrou para a banda) a filarmónica era a única animação de A-dos-Francos. “Não havia mais nada e sempre que a banda saía em serviço a aldeia ficava deserta porque deixava de haver entretenimento”, recorda o veterano, assegurando que naqueles tempos a banda funcionava como uma verdadeira bandeira da localidade. “Hoje ainda o é, mas não tem o reconhecimento que tinha na altura”, assegura.
Dos concertos mais memoráveis Vítor Santos lembra-se da actuação no Pavilhão de Portugal na Expo 98 e da inauguração de uma praceta em Badajoz que também se chama Caldas.
Durante mais de 20 anos a banda esteve encarregue de fazer uma procissão em Algueirão (Mem Martins) na conhecida Feira das Mercês. O autocarro saía ao domingo embora o serviço só estivesse agendado para segunda-feira à tarde. “Aproveitávamos para passear na Avenida da Liberdade, ir à praia e dar um passeio ao Parque Eduardo VII. Os mais velhos passavam a noite no autocarro, a malta nova nem dormia”, recorda Vítor.
Em dias de serviço comia-se sempre melhor que em casa. “Em casa era uma sopa e pouco mais, mas o farnel que levávamos, não sei se por vergonha que os outros reparassem, ia sempre bem composto com um coelho guisado e arroz”, conta o músico, salientando que só há pouco tempo é que as comissões de festa passaram a oferecer as refeições.
Por outro lado, antigamente era normal que a banda saísse para actuar a meio da semana. É que a maioria dos músicos trabalhava no campo e, como seria dura a vida nesses tempos  que se ganhava mais nos serviços da banda do que a cavar.

Flauta transversal
flautaA flauta transversal, apesar de ser feita normalmente de metal, faz parte do naipe das madeiras de uma orquestra e também pode ser chamada, embora menos comum, de flauta germânica ou flauta de Boehm.
A flauta transversal moderna mede aproximadamente 67.30 cm, é afinada em Dó, seu alcance comum é de 3 oitavas (do3 até do6), possui 16 furos circulares cobertos por chaves (abertas ou fechadas) e é normalmente feita de prata, ouro ou a combinação dos dois. (Uma das flautas mais caras que existem é a fabricada de platinum).
A flauta transversal que possui as chaves abertas é de modelo Francês e é muito utilizada por flautistas de nível profissional. A vantagem de ter uma flauta com chaves abertas, é que ela faz com que os harmônicos, micro-tons e glissandos sejam executados mais facilmente, ajudando na criação de uma maior gama de efeitos sonoros no instrumento.
A flauta transversal é formada por 3 peças principais: o bocal, o corpo e o pé.
-O bocal da flauta possui um orifício com bordas formadas por uma chapa de metal em formato arredondado, para permitir que o flautista apoie o lábio inferior e consiga apoiar contra o queixo. O bocal está fechado à esquerda por uma peça com o formato de uma “rolha”feita de cortiço furada ao meio por onde passa um pino rosqueado.
Na extremidade direita (dentro da flauta), o cortiço é soldado por uma placa metálica e na extremidade esquerda ele tem um acabamento em forma de chapeuzinho. Movendo-se o bocal, ajusta-se a afinação da flauta.
-O corpo é a maior peça da flauta e possui 13 furos com um complexo sistema de chaves. As flautas transversais possuem, em geral, aproximadamente 23 chaves. Esse número pode variar um pouco se a flauta for mais profissional.
-O pé é uma extensão do corpo, e consequentemente é a menor peça da flauta e possui normalmente 3 furos com apenas 3 ou 4 chaves. Graças a ela é possível  tocar sons adicionais mais graves.

 

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