
Cerca de uma dezena de artistas e 300 pessoas juntaram-se na tarde do passado sábado, 13 de Outubro, contra a Troika. A Praça 5 de Outubro foi o palco escolhido para a edição caldense de uma manifestação que se realizou em diversos pontos do país com o mote “Que se Lixe a Troika! Queremos as Nossas Vidas” que já a 15 de Setembro levou um milhão de pessoas às ruas, incluindo nas Caldas da Rainha onde cerca de mil pessoas contribuíram para que esta fosse a maior manifestação realizada na cidade nas últimas décadas.
Desta vez, a afluência de pessoas ficou aquém do esperado. Mas entre poemas, músicas e até uma apresentação do Teatro da Rainha, a mensagem era unânime entre todos os que participaram na iniciativa: um “basta” à austeridade imposta pela tríade Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia.
Um dos nomes fortes do evento caldense foi Manuel Freire. O cantor de intervenção veio às Caldas com “uma mistura de sentimentos” que não consegue descrever, perante o período “extremamente difícil” que o país atravessa. “Todos temos que fazer alguma coisa, mas infelizmente eu não sei bem o quê. No mínimo mostrar que não estamos de acordo com o que nos querem impor e com o colete-de-forças que nos estão a apertar”, disse o cantor à Gazeta das Caldas.

Na sua subida ao palco, Manuel Freire declamou poemas e cantou, num ‘alinhamento’ onde não podia faltar o tão conhecido tema Pedra Filosofal. A cantiga voltou a ser uma arma para dizer que “queremos que isto mude, que não estamos de acordo, que há muto sítio onde ir buscar dinheiro, não é sempre aos mesmos, aos que trabalham, aos que vivem das suas reformas”.
Numa altura em que também a Cultura e as Artes reivindicam apoios que lhes estão a ser negados pelo Estado, Manuel Freire diz que o que o aflige mesmo é “a falta de meios, sobretudo nas pessoas que não percebo como conseguem sobreviver, que não têm dinheiro. E para aí o dinheiro é mais importante do que para a cultura”.
Quanto à fraca afluência nesta tarde de protesto, Manuel Freire diz não entender por que razão “as pessoas não dão a cara pois protestam no dia-a-dia, no café, em casa, mas depois no momento em que era importante ter aqui milhares de pessoas, não temos”.
Também o actor e encenador José Carlos Faria esperava ter visto a Praça 5 de Outubro mais composta na tarde de sábado. “Pensando que a manifestação de 15 de Setembro contou com cerca de mil pessoas, esperava ver aqui mais gente” disse ainda antes do Teatro da Rainha ter subido a palco para participar no protesto.
Mas a falta de comparência de público não retira qualquer importância a uma iniciativa que, a par com muitas outras acções de protesto, reflecte “o saudável sobressalto e inquietação cívica que percorre o país”. Um sobressalto para o qual os artistas deram, agora, um contributo voluntário.
“Estar aqui depende do grau de consciência cidadã. As pessoas que aqui estão acham que devem estar, não por razões de cachet, que nem sequer há. É uma questão de mobilização por imperativos de consciência”, defendeu.
José Carlos Faria não quis deixar de alertar para o impacto que a austeridade está a ter nas artes: “Um país que lesa a criação artística, que a prejudica, que a impede, não é um país democrático”.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt






























