A Sociedade Filarmónica e Recreativa Gaeirense começou por ser uma Tuna

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Noventa anos fazem a história da Sociedade Filarmónica e Recreativa Gaeirense, que em 1925, quando foi fundada, se designava Tuna da Sociedade Musical Gaeirense.

Treze homens, alguns naturais das Gaeiras, outros vindos do Norte do país para ali trabalharem numa quinta rural decidiram formar uma tuna semelhante ao que são hoje as tunas académicas.
Hoje a banda filarmónica conta com 35 elementos, dos 12 aos 64 anos e a Escola de Música é frequentada por 45 alunos. A associação apresenta ainda uma banda juvenil, uma orquestra ligeira, um Grupo Barroco de Metais e um Rancho Folclórico Infantil.
Terça-feira, 7 de Junho. Enquanto os músicos já ensaiam no último andar, na cozinha estão Anabela Roberto, João Roberto, Armando Conceição e Helena Conceição, elementos da direcção da Sociedade Filarmónica e Recreativa Gaeirense. Nenhum deles é músico, mas têm os filhos a tocar na banda.
Esta noite estão de mangas arregaçadas: os homens fazem deslizar a faca pelo naco de carne, separando-o do osso, as mulheres cortam-nos aos cubos pequenos. Depois junta-se o alho e o vinho e tempera-se com sal.
Aproximam-se as Tasquinhas das Gaeiras e é preciso começar com os preparativos para daqui a três dias estar tudo a postos para vender as iguarias. É que este evento é uma importante fonte de receita para a colectividade. Além das Tasquinhas, o Mercado Medieval é o principal “balão de oxigénio” da associação. Seguem-se os subsídios da Câmara de Óbidos e da Junta de Freguesia e as cotas dos 350 sócios. Alguns eventos realizados, como o Encontro de Concertinas ou o Festival de Folclore não dão lucro, mas fazem parte da agenda para divulgar o trabalho do Rancho Infantil.
Anabela Roberto faz parte da direcção há 12 anos. Antes disso acompanhava algumas das actuações da banda, mas sem grande frequência, e nunca teve o hábito de assistir aos ensaios. Passar de mãe a directora fê-la encarar a banda com outros olhos. “Quando vestimos a camisola entregamo-nos de corpo e alma e fazemos sempre mais do que achamos que somos capazes. Acho que todos os pais deviam passar por uma direcção, nem que fosse apenas um ano, para saberem como isto dá trabalho e tem muito valor”, diz Anabela Roberto. Embora sempre tenha incutido o espírito de responsabilidade ao filho João (mesmo antes de ser dirigente), fazendo-lhe ver que os ensaios eram para cumprir, Anabela  acredita que hoje a educação está diferente (para pior). “Os pais são mais comodistas e fazem as vontades todas aos meninos. Se é Inverno e faz frio, então já é desculpa para se faltar ao ensaio. Esquecem-se do esforço envolvido”.
No momento em que entram na sede da Filarmónica, Anabela e João Roberto, Helena e Armando Conceição “deixam” de ser pais e os seus filhos são apenas mais dois músicos que compõem a banda. “A verdade é que às vezes acabam por ser mais prejudicados porque exigimos que eles cumpram todas as regras e dêem o exemplo”, explica João Roberto.
A banda das Gaeiras define-se como uma grande família que partilha entre si um verdadeiro espírito de entreajuda. Prova disso foram todas as vezes em que os elementos se juntaram para doar o valor recebido numa festa a um colega com mais dificuldades financeiras.

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Antigamente a vida de músico era muito dura

Há 50 anos António Costa entrou para a banda filarmónica das Gaeiras. Recorda-se que naquele tempo as pessoas deslocavam-se ou a pé ou de bicicleta. Levava-se o farnel debaixo do braço, juntamente com o instrumento, e era frequente que chegada a hora do almoço a sopa já estivesse azeda. Por vezes, quando as festas duravam dois dias, os músicos dormiam nos palheiros sem despir a farda. Pobres das camisas que ficavam sujas das cagadelas das moscas.
Nessa altura quem tinha sede bebia vinho e havia mesmo quem abusasse da bebida. “Ao final da noite acabava tudo numa paródia, com os sapatos sujos e as fraldas das camisas de fora das calças”, conta António, relembrando que a banda era uma oportunidade para conhecer novas localidades e conhecer caras novas.
Para o saxofonista, “convivia-se e dialogava-se mais antigamente, quando não existiam os telemóveis e ninguém levava a mal umas partidinhas”, relembrando que era hábito que os músicos mais novos baralhassem os sapatos dos mais velhos ou os destapassem a meio da noite.
Como acontece à maioria das bandas, também a filarmónica das Gaeiras atravessou altos e baixos e chegou mesmo a interromper a sua actividade por duas vezes. António Costa lembra-se de fazer 40 serviços, actualmente são à volta de 12.
Sendo o músico mais velho da banda, António conta à Gazeta das Caldas  o que em tempos lhe contou o fundador Faustino da Gama. Reza a história que um conjunto de homens do Norte vieram trabalhar para a sua quinta e que depois se juntaram com alguns gaeirenses e formaram uma tuna. Eram 13 homens e encarregavam-se de animar os bailaricos nas eiras.
Mais tarde, Faustino da Gama, que era proprietário da Praça de Touros das Caldas, organizou uma corrida para se angariarem fundos para a compra dos primeiros instrumentos e fardas. Assim surgiu a banda, que teve a sua primeira sede numa casa particular.
A actual sede foi inaugurada em 1997 e António Costa foi um dos homens que deu o corpo ao manifesto para fazer nascer a obra. “Os terrenos foram doados e durante três anos os músicos puseram de lado todo o dinheiro que ganharam nas festas para conseguir erguer esta casa”, conta.

A Escola de Música é o viveiro da banda

Com 45 alunos, a Escola de Música funciona três vezes por semana (gratuitamente) e conta com quatro professores contratados (Gonçalo Marques no naipe dos metais, Gualdino Fróis nas palhetas, Paulo Assunção na percussão e Emanuel Libório nas flautas e formação musical).
Para João Jesus, maestro da banda desde Novembro do ano passado, “a prioridade da colectividade é a Escola porque esta é o verdadeiro viveiro da filarmónica, é desta que saem os músicos para as várias valências da sociedade”. Mais: as bandas acabam mesmo por ser o meio onde se cativam os músicos que depois se tornam profissionais do ramo.
Hoje o cenário que os jovens encontram é diferente daquele com que se deparou João Jesus aos oito anos, quando se iniciou com o bombardino. O acesso ao ensino acontece desde logo nas escolas e não é obrigatório seguir carreira militar para obter formação musical.
Ao mesmo tempo, “também já não existe o preconceito que antes se tinha às bandas filarmónicas, que eram consideradas bandas de segunda categoria. Agora reconhece-se qualidade”, afirma o maestro. A evolução dos tempos trouxe mais liberdade, mas também levou consigo “o amor à casa que se tinha antigamente e uma ligação às origens que hoje raramente encontramos nos mais jovens”.

 

Concerto Primavera 01-05-20162016
A formação da banda que actuou no último concerto de Primavera

Clarinete

clarinete-300x300 copiarInstrumento musical de sopro. Compreende um tubo, geralmente de madeira, que tem a extremidade em forma de campânula e um bocal cônico com uma única palheta. Tem quatro registros: grave, médio, agudo e superagudo. Os sons são produzidos quando se sopra através da palheta, enquanto os dedos do músico abrem e fecham os orifícios ao longo do tubo.
Hoje em dia, ao nível das bandas filarmónicas, o clarinete assume o papel que, ao nível da música sinfónica, é normalmente confiado às cordas, particularmente aos violinos.
Dos instrumentos tradicionalmente usados nas bandas filarmónicas, o clarinete apresenta-se como um dos que se presta a maiores virtuosismos técnicos por parte dos seus executantes.

 

 

 

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