
Simone de Oliveira dispensa apresentações. Dos mais novos aos mais velhos, poucos serão os que não reconhecem este nome, seja pela brilhante carreira enquanto cantora, pelo notável trajecto na representação, ou pelo seu jeito emancipado e moderno de ver a realidade.
Nas Caldas, no passado sábado, os 300 espectadores conheceram um lado um pouco mais cómico (e quantas gargalhadas não roubou ela aos caldenses!), mas também o seu já conhecido lado mais directo e interventivo e o sentimento com que ainda hoje diz a plenos pulmões “Quem faz um filho, fá-lo por gosto!” (verso que escandalizou muita gente no Portugal da ditadura em 1969).
Simone contou histórias, lembrou momentos de uma carreira brilhante, partilhou as peripécias e os sentimentos, recordou personalidades e (en)cantou numa viagem memorável pelos 58 anos que dedicou à cultura em Portugal.
Foram tocados temas como Sol de Inverno (que, com A Desfolhada constituíram os momentos altos da parte musical do espectáculo) e Apenas o Meu Povo, que foi brindado com uma enorme salva de palmas. (“Não me façam chorar”, disse Simone), Rosa Sangue (dos Amor Electro, mas cantado com um sangue mais velho, como a própria definiu), Tango Ribeirinho, Pedaços de Ti, Sete Letras, entre outras canções que fizeram as delícias do público.
No final uma enorme e sincera salva de palmas de uma plateia rendida a uma personalidade ímpar no grande auditório do CCC.
A caldense Maria Duarte, que se confessou uma admiradora da personalidade por detrás da voz, destacou o papel de uma “mulher lutadora, verdadeira e directa, que sempre teve há vontade para falar de tudo. É um exemplo para qualquer mulher”, concluiu.
Ana Pancada veio assistir ao espectáculo porque admira muito esta artista, “enquanto cantora, enquanto actriz, mas, acima de tudo, enquanto pessoa”. A jovem caldense achou a actuação “óptima, mas pequenina. Queremos sempre mais…”, disse, elogiando depois a forma como a artista conseguiu fazer a ligação entre as canções.
“Não sou uma mulher de esquerda”
Em declarações à Gazeta das Caldas, Simone de Oliveira disse que Caldas da Rainha lhe faz sempre lembrar fruta. “Não é aqui que vocês têm a maçã riscadinha?! Ando doida por comer e não encontro em Lisboa”.
E as cavacas? “Aiii cavacas gosto muito! Traga-me um pacotinho que eu como!”, disse a artista, que se revelou também conhecedora da cerâmica e da malandra louça caldense.
Na conversa que mantivemos com a artista percebemos que desde os tempos do liceu foi sempre uma voz activa. Mas de onde vinham essas ideias modernas e interventivas, quisemos nós perceber. Isso, já ela não soube explicar. “Eu achava que estas ideias eram normais”, disse. Ainda assim, já na altura “tinha noção de que pensava diferente porque as pessoas ficavam muito espantadas”.
Há dois meses, quando não havia o medicamento para a hepatite C, esta artista que, inclusivamente, chegou a ter ficha na PIDE, disse que demitia um ministro em directo na televisão. Mas não se considera uma esquerdista. “Dizem que sou uma mulher de esquerda, não sou! Não sou coisa nenhuma. Eu sou isto!”. E aponta para si própria: “Nunca quis ser outra coisa… Com as minhas ideias e alguns erros de percurso, que todos temos”.
E sente-se esta irreverente artista, actualmente, representada por algum político? “Não, não, não, não. Pela sua rica saúde… Sou do SMO, Simone Macedo de Oliveira, por vezes estou bem com as cúpulas, das outras estou mal com as bases”
Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt






























