Há delas com cara humana, outras com face animal, umas com comida, outras com mosaicos, mas também há frases. Em comum têm a forma: um tão caldense falo. Falamos das ilustrações das 57 sardas que estiveram a concurso no “Sardas das Caldas 2016”. No passado dia 31 de Março a sarda das Caldas mostrou o seu vigor e cerca 300 pessoas escolheram nos Silos o falo que mais lhes agradou, tendo atribuído o primeiro prémio a Cató IluDe (Carlos António Simões).
No dia 30 de Março quem visitava os Silos – Contentor Criativo via… sardas. Olhando à volta, mal entramos pela porta, há falos em t-shirts, em posters, em cromos (uma caderneta de autocolantes), em forma de bolo e de bolinhos. À entrada uma “sarda viva” dá as boas-vindas aos visitantes, distribui o boletim de voto e informa que a mesa de votos e a urna se encontram ao fundo. Entramos e pelas paredes da galeria Farinha estão expostas 57 sardas ilustradas por pessoas de vários pontos do país.
A diversidade de falos é grande: há deles em forma de farol das Berlengas, ou de nave espacial, um é um gato a brincar com dois… novelos de lã, outro é uma santinha – a Nossa Senhora das Aflitas. A Rainha também se fez representar, tal como um astronauta.
Há ainda um falo em forma de mão que faz um “manguito” e outro que é um cérebro. Há animais e pessoas, objectos, conceitos, frases, mosaicos e comida. Alguns têm um traço mais definido e outros são mais abstractos.
Para além das sardas há gente e vida nos Silos – Contentor Criativo. A azáfama é grande. Muitos querem ver e votar no melhor “milagre caldense”.
No fim de uma primeira volta pelos falos, de muitos comentários, sorrisos e fotografias, as pessoas dirigem-se à mesa de voto, onde, por cima da urna, podem ver afixados os candidatos. Os mais indecisos aproveitam para uma última vista de olhos e votam.
Quando saímos da galeria Farinha, a agitação continua. É a corrida aos autocolantes e cadernetas de cromos. Vamos ver o ambiente lá fora. À porta deparamo-nos com mais pessoas a apreciar o videomapping de Pixel Bitch que projecta sardas em movimento na fachada do edifício.
Voltamos para dentro. A sarda viva anuncia: “atenção pessoal, a votação vai encerrar”. E pouco depois já se contam os votos.
E O VENCEDOR É…
A seguir a sarda sobe para cima da mesa, assobia e diz: “façam o favor de se dirigir aqui à Sarda, para ser anunciado o vencedor”. Cató IluDe, com uma ilustração de Salazar Albino, personagem que o próprio criou, foi o grande vencedor. Esta personagem que o ilustrador usou é um ex-motard, ruivo, de barba e longos cabelos longos.
Cató IluDe, ou Carlos Simões, licenciou-se em Design Gráfico e multimédia na ESAD e actualmente frequenta o mestrado de Ilustração e Animação no IPCA (Barcelos). Não pôde estar presente na exposição, tendo recebido a notícia por telefone. “Foi uma enorme surpresa!”, confessou, antes de salientar a importância deste concurso. “Para além de mantermos o falo caldense vivo e presente na história portuguesa, há que quebrar tabus em torno do mesmo que, pelos vistos, ainda existem”, concluiu.
Intitulada de “Queres é leitinho”, a ilustração de Cató foi a mais votada (31 votos), seguida pela Nossa Senhora das Aflitas, de Lara Luís, com 21 votos. Em terceiro ficou “Di(ck) Brain” de Brígida Santana e “Matrimónio” de Piua, ambos com 14 votos
A organização partiu de três alunos da ESAD: Ana Martins, João Varela e Catarina Galego. Ana Martins admitiu que esperavam receber um número considerável de pessoas, “mas não assim com tanto entusiasmo como houve aqui hoje”.
Já João Varela recordou que “a polémica funcionou como uma publicidade que não podíamos ter comprado”. A “polémica” foi um pai de uma criança de sete anos que se queixou a um agente da PSP por não gostar de ver um cartaz do concurso no qual estava desenhado um falo.
Catarina Galego explicou que tiveram de “aumentar as dimensões de tudo o que tínhamos planeado para adaptar àquilo que passou a ser a realidade” pois não esperavam tanto sucesso.
“Estamos bastante contentes com a qualidade das sardas. Há de todos os tipos, de todos os formatos dentro da silhueta que definimos”, afirmou João Varela. “Até temos uma sarda ilustrada por uma criança de 11 anos”, completou.
Ficou no ar a possibilidade de se realizar uma nova edição do concurso.
AS SARDINHAS EM LISBOA, AS SARDAS NAS CALDAS
Gonçalo Fialho, da Implosão (que em 2013 lançou o concurso), também esteve presente. Recordando “a cultura de sátira e crítica das Caldas”, explicou que o concurso foi criado como “uma reflexão e crítica a alguns aspectos com os quais na altura não concordávamos nas Sardinhas de Lisboa”.
Sobre esta reedição afirmou que é “bom que recuperem eventos antigos que criamos enquanto alunos da ESAD, porque os alunos fazem a primeira edição, depois vão embora e os eventos perdem-se”.
Rita Rocha, uma das ilustradoras das Sardas, é de Santa Maria da Feira, mas estuda na ESAD de Matosinhos. Soube do concurso pelo Facebook e “o desafio por ilustrar um falo e o prazer por ilustrar” levaram-na a inscrever-se. Tentou, com a sua criação, transmitir “a gulodice que o falo transmite”, explorando “a perversidade através do gelado e do lamber, o prazer de comer uns doces”.
A mãe da ilustradora, Lucinda Rocha, sublinhou que o concurso “pode ter polémica, mas as sardas estão muito bem ilustradas e não têm nenhuma maldade”. Para além disso, defende, “o falo faz parte da história das Caldas e hoje já temos uma visão mais alargada sobre estas coisas, não temos que ter pudor”.
De Leiria veio Artur da Bernarda que salienta a grande diversidade de falos. “Há deles para todos os gostos”, exclama, antes de afirmar que o concurso é “motivador para os artistas que estão numa fase inicial”. A terminar notou a presença de “muita malta nova”.
Do Bombarral vieram Rui Nunes e Marta Sousa. Ambos destacam a Nossa Senhora das Aflitas. Rui salienta o diálogo entre a tradição (o falo) e a modernidade (a ilustração). Marta nota a diferença entre “trabalhos que exploram a forma da sarda e outros que a enchem como encheriam qualquer outra forma”.
Delfina Henriques é de Ourém, mas estuda na ESAD. Elogiou a distribuição espacial e a participação de ilustrações de vários pontos do país. “O concurso foi muito criticado no início, mas acho que deviam sentir honra”, defendeu antes de caracterizar as sardas das Caldas como “cómicas, muito racionais, divertidas e coloridas”.
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