Sara Neyman dá a conhecer a sua pintura no restaurante Geo

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Linguagens da Humanidade, assim se designa a exposição de Sara Neyman, uma autora que veio viver para o Nadadouro. A pintora francesa, pertencente à comunidade judaica, tem um percurso de vida muito rico pois viveu nos mais variados países da Europa. Sara foi tradutora, recepcionista e guia turística em vários países do mundo e agora decidiu vir, após a reforma, viver no Oeste onde continua a dedicar-se à arte.

Sara Neyman nasceu em Berlim mas tem nacionalidade francesa. Foi através de um artigo que leu na Gazeta da Caldas, que dava a conhecer que o Restaurante Geo abria as suas portas a artistas, que decidiu mostrar as suas obras. Os proprietários com a ajuda dos responsáveis pela Loja Sr. Jacinto auxiliaram na concretização da mostra Linguagens da Humanidade que vai estar patente até ao final de Janeiro. Pelas paredes do restaurante estão presentes obras feitas a óleo, colagens e tinta da china.
Sara Neyman foi uma das crianças judias que foi acolhida por uma família na Suíça no período da II Guerra Mundial. Lembro-me bem e amei este casal de pais adoptivos. “Foi um tempo muito bom”, disse a autora, que regressou à sua família alguns anos depois. Lembra-se que não eram dias fáceis. A guerra tinha deixado marcas e lembra os dias de fome e o facto da única roupa que tinha era que herdava da sua irmã mais velha. Tinha apenas 19 anos, era pois menor – a maioridade atingia-se aos 21 anos – e decidiu fugir para Paris. De espírito rebelde, escreveu uma carta à sua mãe pedindo que não a procurasse. Durante dois anos viveu como se fosse uma refugiada em Paris. Vivia-se em 1962 e “fui acolhida por um grupo de exilados portugueses, que também estavam na clandestinidade e que me ensinaram tudo o que era preciso para evitar a polícia”, disse a artista que teve o primeiro contacto com o mundo artístico ao fazer de modelo numa escola de artes. “Era um trabalho bem pago e nunca tive problemas com o corpo…”, disse a artista a quem nunca faltou trabalho apesar de nunca ter querido fazer carreira.
Sara fala inglês, alemão, francês e agora, também o português, dado que frequenta aulas para estrangeiros na Secundária Rafael Bordalo Pinheiro. Em 1968, após a a Revolta de Maio ingressou numa universidade que aceitava trabalhadores e desenvolveu estudos de Alemão e de Francês. Nessa altura já tinha a sua filha e feitas as pazes com a sua mãe, contou com a sua ajuda para a criar. Por causa das línguas trabalhou como recepcionista e como guia turística. Durante oito anos viveu na Dinamarca, onde trabalhou no jardim de infância. Posteriormente morou seis anos em Londres onde contactou com o grupo de exilados da África do Sul. Em Inglaterra trabalhou num restaurante vegetariano.
“Eu sempre pintei… é difícil localizar o tempo dado que sempre fui dada as manualidades”, disse a pintora que não é fã do figurativo e não gosta de pintar retratos. A sua preferência é a exploração da cor, que encara como se fosse uma personagem que dita à autora aquilo que pretende.
Da formação de Sara Neyman faz parte formação na escola antroposófica, tendo posteriormente aperfeiçoado técnicas com os pintores Jean-Louis Ploix, Maurice Turquet e a pintora Martine Chiappara.
“Sempre me interessei por vias alternativas e nunca quis uma carreira pois eu não gosto do mercado de consumo”, disse Sara Neyman que em parte do tempo que viveu na Dinamarca fê-lo numa comunidade hippie.

Escolher o Oeste

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Antes de ter escolhido o Nadadouro, Sara Neyman viveu em Viana do Castelo. Depois veio para as Caldas, para o Nadadouro, dado que queria estar próximo de Lisboa por causa da sua pintura. A autora já apresentou exposições em Belmonte, Castelo de Vide, Viana do Castelo, Ponte de Lima, em Lisboa, assim como em França, Suíça e Alemanha. De qualquer modo por onde passou “sempre me senti estrangeira”, disse Sara Neyman que no Nadadouro tem pela primeira vez um forte sentimento de pertença. A artista, além e se dedicar à pintura, faz Tai Chi e Yoga e ainda colabora com actividades artísticas com os utentes do Centro de Dia.
Esta é a primeira exposição que o restaurante Geo está a apresentar e segundo o chef Archil Shinjikashvili vai ficar até finais de Janeiro. Posteriormente irá expor uma artista georgiana que está a fazer trabalhos sobre a Geórgia para apresentar neste restaurante caldense.
As obras de Sara Neyman custam entre os 180 e os 550 euros e podem ser vistas até ao final de Janeiro no Restaurante Geo que fica no Hemiciclo João Paulo II, 9A.

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