Salva-vidas “Peniche” está a ser restaurado em… Peniche

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Notícias das Caldas
Dois momentos da vida do “Peniche”: na primeira metade do séc. XX na estação salva vidas na década de 60 em exposição no centro da cidade | D.R.
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Dois momentos da vida do “Peniche”: na primeira metade do séc. XX na estação salva vidas na década de 60 em exposição no centro da cidade | D.R.
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Albertino Pereira é o carpinteiro naval encarregue de recuperar a embarcação | I.V.

 

 

 

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Construído, presumivelmente, em 1913 e atribuído à estação do Ingueiro (Peniche de Cima) no mesmo ano, o antigo barco salva-vidas “Peniche” está a ser restaurado para posteriormente ser usado como peça museológica. Feito para não se afundar, há quem o compare a uma prancha de surf gigante. Isto porque, mesmo que vire ao contrário, tem uma caixilharia de ar que o mantém a boiar.

Prático e elegante, o “Peniche” tem um casco trincado, ou seja, em vez de as tábuas alinhadas lado a lado formando uma superfície lisa, são colocadas em cima umas das outras, criando vários níveis. Uma técnica que, apesar de ser mais trabalhosa e cara, permite maior durabilidade e velocidade à embarcação.
A tripulação deste salva-vidas era composta por um patrão, um sota patrão e 12 marinheiros (remadores), alguns dos quais, nos anos 60 e 70, se alistavam nesta actividade para fugir à guerra colonial.

O “Peniche” tornou-se conhecido por alguns salvamentos na zona. Até 1963, ano em que foi enviado para Paço de Arcos (Oeiras), registaram-se, por exemplo, os casos dos vapores “Henry Mory” (francês), em Outubro de 1931 e do “Fernando Ybarra” (espanhol), em 1943, mas também da lancha portuguesa “Maria Luísa” (1942) e do iate inglês “For Frida” (1962), que ainda permanece na memória de algumas pessoas de Peniche.
Durante o seu tempo de actividade teve quatro mestres: Adelino Leitão, António Leitão, José Pedreira e Domingos Canha.
O barco regressou à cidade que lhe dá nome em 1981 e foi colocado no largo Jacob Rodrigues Pereira durante as festas de Nª. Sra. da Boa Viagem.
Daí seguiu para a Fortaleza de Peniche, onde esteve exposto, mas mais tarde foi levado para o Pátio da Cisterna, onde ficou largos anos, tapado com uma lona, a deteriorar-se.
Os sinais de madeira podre e ferrugem eram evidentes e a própria lona que o cobria já mostrava o desgaste do (mau) tempo.
A 8 de Agosto de 2016 a Câmara de Peniche e a Direcção-Geral da Autoridade Marítima assinaram um protocolo para recuperar a embarcação e a 23 de Janeiro deste ano foi levada para o hangar da Estação Salva-vidas de Peniche, no cais da Ribeira (junto ao porto de recreio).
Está a ser recuperado pelo carpinteiro naval Albertino Pereira desde 23 de Janeiro. A tinta antiga já foi retirada e a madeira está a ser substituída. “Havia zonas com madeiras partidas e podres que tivemos de mudar”, esclareceu o carpinteiro naval. A madeira que estão a substituir é pinho, daí que tenham escolhido pinho tratado, mas a original era a teca, uma madeira exótica que era usada na construção das caravelas.
Depois será todo pintado, com várias camadas. Tal como antes, será verde em baixo, branco no meio e vermelho por cima.
Os elementos metálicos também serão tratados e algumas das peças originais em falta serão repostas.
Albertino Pereira é um dos poucos carpinteiros navais na região, pelo que faz trabalhos por toda a costa da Nazaré a Lisboa. Trabalha nesta área desde os nove anos e tem o seu negócio desde o início deste milénio.
Apesar de as ferramentas hoje encurtarem o esforço e o tempo gasto, as maiores dificuldades são o desgaste físico e mental e encontrar mão de obra. “Os serviços são sempre muito urgentes, porque os barcos não podem estar parados”, fez notar.
Em relação a este projecto, fez notar que “as tábuas parecem direitas, mas o barco é cheio de curvas” e explicou à Gazeta das Caldas, que para ganhar essa forma, alguma da madeira é moldada com calor e água.
No fim do restauro, o “Peniche” até “pode voltar a ir para dentro de água”, assegura, ainda que não seja esse o seu fim. Irá ser exposto num local fechado, visitável e, pretende a autarquia, que seja mais um pólo de atracção turística. I.V.

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