Tivéssemos nós o génio dos Gato Fedorento e seria bem mais fácil passar a texto a presença de Ricardo Araújo Pereira e José Diogo Quintela nas Caldas da Rainha, na noite do passado dia 20. Mas não temos… e sabemos bem que as piadas ou são contadas por quem tem jeito, ou então não têm piada nenhuma. Cinjamo-nos, então, aos factos.
Eram 22h00 em ponto e as pessoas amontoavam-se à porta do pequeno auditório do Centro Cultural e de Congressos, com lotação para 150 pessoas sentadas, a tentarem, a custo, entrar na sala completamente plena para ouvir dois dos mais conhecidos membros da quadrilha Gato Fedorento, completa com Tiago Dores e Miguel Góis, numa iniciativa da Livraria 107 e do CCC.
Lá dentro, os que conseguiram entrar “arrumavam-se” como conseguiam e à ausência de lugares sentados, o chão de madeira acabou por servir de assento a muita gente. Ninguém se queixava. Afinal, as cerca de duas horas de gargalhada que se seguiram valeram bem a pena as dores nas costas e nas pernas dos menos habituados a estes desconfortos e daqueles a quem a idade já não perdoa.
Ricardo Araújo Pereira, benfiquista ferrenho, vinha em defesa do seu mais recente livro “Chama Intensa”, lançado no passado mês de Dezembro e onde o fervor clubístico do humorista surge em todo o seu esplendor e “de forma irracional e primária”, como o próprio acha que deve ser discutido o futebol. Uma obra assumidamente facciosa, que assume como título uma expressão do hino do clube da Luz e onde os alvos principais são todos os outros clubes de futebol.
Mas de onde vem este fervor? “Eu sou do Benfica desde pequenino por causa do meu primo António. O meu primo António é do Benfica por causa do barbeiro. Foi o máximo que eu consegui apurar da minha genealogia benfiquista”, diz o humorista, confessando que quando ia com o primo ao jogos “via-o a tremer, a roer as unhas, completamente desfeito e pensava: quero ser assim quando for grande”.
José Diogo Quintela, sportinguista convicto, trazia na algibeira “Falar é Fácil”, que resulta das crónicas publicadas em jornais nacionais, nomeadamente no Público e A Bola. E porquê “Falar é Fácil”? Porque “quando não se tem conhecimentos aprofundados sobre nada é mais fácil falar sobre tudo”.
“Estão aqui representadas algumas das minhas opiniões sobre vários assuntos. Tenho outras opiniões diferentes sobre os mesmos assuntos, mas achei que não fazia muito sentido estar a contradizer-me no próprio livro”, pode ler-se no livro.
Nas Caldas, e numa das poucas apresentações que têm feito juntos, os dois provaram ter uma piada pronta sobre tudo, mesmo tudo. Do futebol tão presente nas suas crónicas, sobre o qual ambos entendem que “não deve ser discutido de forma séria”, ao reino animal, sim porque para Ricardo Araújo Pereira diz que “as vespas não são mais que moscas tunning, com pintura verde metalizada, aillerons maiores que as outras, e aquele barulho que fazem”.
Deixaram que fosse o público a fazer perguntas, mas as respostas iam invariavelmente parar a um tema que em nada tinha a ver com a questão inicial. Que isto das piadas, toda a gente sabe, é como com as cerejas, são umas atrás das outras. Quando lhes perguntaram se pensavam voltar à televisão a resposta veio de José Diogo Quintela: “Se tudo correr bem, não!”. Ricardo Araújo Pereira diz que “a SIC anda desejosa”, mas que “em princípio, este ano não vai acontecer nada”.
Também afastaram a possibilidade de se dedicarem à política. “Nós somos uns palhaços. Embora quem está à frente do país seja muita vez chamado de palhaço, nós somos mesmo, mesmo, palhaços”, diz José Diogo Quintela. “Mas também quem é que quer ser levado a sério?”, pergunta Ricardo Araújo Pereira, que admite, no entanto, já ter sido convidado por diversas vezes para ser mandatário da juventude por vários candidatos a vários cargos, “apesar de já não ser jovem há, para aí, uns seis anos, para não dizer dez”.
Garantindo que o objectivo de tudo o que fazem “é, sempre, fazer rir”, Ricardo Araújo Pereira e José Diogo Quintela provaram que a missão tem sido bem cumprida, mesmo nos tempos difíceis que se vivem. É que “o riso pode não ser alegria, mas imita muito bem durante uns segundos”.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt






























