Residência artística de Uiu nas Caldas termina com exposição

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Uma das peças do artista incógnito que se dá pelo nome de Uiu e que pode ser vista na Casa Bernardo

Termina este sábado, 12 de Maio, a exposição do artista plástico Uiu na Casa Bernardo, que resulta de uma residência artística que teve início em Setembro de 2011 e que conta com mais de cem peças criadas nos últimos meses.
Algumas destas peças fazem parte de composições mais complexas, onde o artista quis experimentar relações entre objectos. “Foi um período de muita experimentação”, revelou à Gazeta das Caldas.
Todos os trabalhos expostos foram realizados durante a residência artística que Uiu esteve a fazer no Museu Bernardo. “A nível de produção artística foi muito bom. Foi a primeira vez na minha vida que tive um atelier”, comentou.
O artista português está há alguns anos em Barcelona, mas durante estes meses esteve a morar no edifício onde funciona o Museu Bernardo. Aqui tinha o seu atelier, mas pôde trabalhar também na Casa Bernardo, onde está a expor.
“A própria exposição fez parte da residência artística, que termina com o final desta mostra”, referiu Uiu. Mesmo depois da inauguração, a 17 de Março, o artista continuou a trabalhar naquele local e a colocar novas peças, que foi produzindo.
“Houve peças que foram feitas especificamente para determinados locais da Casa Bernardo, mas outras desenvolvi num conceito mais abrangente”, disse.
Embora já tenha apresentado os seus trabalhos em Portugal e em Espanha (Barcelona), Uiu disse que “esta é aquela que considero a minha primeira grande exposição, para ao qual tive tempo”.
“Há muita falta de critério em Portugal e é em tudo, não  só na arte”.

Uiu salientou a importância de um projecto como o de Pedro Bernardo que lhe permitiu ter tempo e espaço para trabalhar. “Eu gostava que algumas das pessoas que conheço em Barcelona também viessem para aqui fazer residências artísticas”, disse.
O artista acha que Caldas da Rainha tem a vários projectos independentes muito importantes para a vida cultural e artística nacional e até internacional. “O que se passa aqui nas Caldas é muito bom em qualquer parte do mundo. Só não é bom em Portugal”, lamentou.
Isto porque acha que este nicho artístico, embora seja forte, não tem repercussão nos meios de comunicação social nacional. “Qualquer porcaria que se faça com cinco coisas em Lisboa, mesmo num sítio escondido, tem mais repercussão que uma exposição grande aqui na Casa Bernardo”, considera.
Uiu acha triste que seja preciso ir para Lisboa ou para o estrangeiro para que se consiga algum reconhecimento, porque em Portugal está tudo centralizado na capital.
Para o artista há “muita falta de critério em Portugal e é em tudo, não só na arte”. Sem haver critérios, tudo é feito por “amizades ou por interesses, não sei”.
Só com a definição de critérios é que se poderiam tomar determinadas decisões, nem que fosse para dar mais ou menos atenção a uma exposição.
“Tentam fazer parecer que é igual lá fora, mas no estrangeiro há critérios e há mais rigor. As pessoas não vão pela nossa cara ou se temos tatuagens e piercings, mas pela nossa capacidade”, disse.
Depois de alguns anos a viver em Espanha, este autor regressou ao seu país e acha que “Portugal está completamente de rastos”.
Embora não se queira envolver em questões políticas, salientou que não é com austeridade que se consegue dar a volta à crise. “Eu sinto que aqui há poucas alternativas para arranjar emprego, enquanto em Barcelona há mais oportunidades”, afirmou.
No seu trabalho, Uiu tenta demonstrar como o mundo em que vivemos “está de alguma maneira em escombros, por causa do sistema do capitalismo”.

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

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Quem é Uiu?
Uiu é o nome artístico de um homem que aparenta ter mais de 30 anos e que não quis dizer o seu nome, nem idade, nem naturalidade, assumindo-se apenas como artista. À Gazeta das Caldas, com quem falou no local da exposição, limitou-se a dizer que quer ser apenas conhecido por Uiu, tendo também recusado ser fotografado.

C.C.

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