“Reforma Agrária- 40 anos – três vozes em palco” foi apresentada no estúdio do Teatro da Rainha, nos dias 14 e 15 de Janeiro. A peça, encenada por Luís Varela, foi representada por um grupo de actores que, nos anos da Reforma Agrária, dava os primeiros passos na arte dramática, no então Centro Cultural de Évora. O espectáculo inclui a leitura de documentos políticos, a interpretação de peças, representadas nos concelhos rurais alentejanos de então, assim como a representação de acontecimentos épicos como as mortes dos operários agrícolas Catarina Eufémia, Casquinha e Caravela.
São três os actores em palco. Álvaro Corte-Real, Victor Zambujo e Rosário Gonzaga mostram ao público os bastidores desta representação. A roupa está pendurada e há alguns adereços que os três vão usando à medida que dão vida a personagens centrais de espectáculos do repertório do Centro Cultural de Évora. É o caso de “As duas caras do Patrão”, de Luís Valdez (1975), “O Proprietário Puntila e o seu criado Mati”, de Brecht (1975), ou ainda “A Grande Imprecação diante das muralhas da cidade”, de Tankred Dorst (1982).
Por vezes, os actores param para ler excertos de documentos políticos que versam sobre a Reforma Agrária e o Alentejo. Juntaram-se também excertos literários, onde se incluíram poemas de José Gomes Ferreira que foram lidos para o público, que encheu a plateia da sala-estúdio.
Em 1975, quando este grupo de actores iniciava a sua formação, “tínhamos um projecto de descentralização teatral onde colaboraram a maioria dos elementos do Teatro da Rainha”, explicou o encenador Luís Varela. E por isso “é funda e duradoura” a amizade que une os profissionais das duas companhias que, na altura da Reforma Agrária, estavam juntos a representar peças pelas localidades alentejanas.
O encenador diz que esta peça pretende reflectir, 40 anos depois, sobre “o que foi a nossa experiência de fazer teatro durante um processo de grande transformação social e política que aconteceu no Alentejo, logo a seguir à Revolução de Abril”.
Actores e encenador andavam então em digressão permanente com dezenas de espectáculos de pequeno formato que foram apresentados nas freguesias rurais do Alentejo.
Para Luís Varela, o fim da Reforma Agrária ditou também “o fim de um certo modo de fazer teatro, ou pelo menos ditou o fim de uma certa forma de inscrever o teatro no processo social”.
“Reforma Agrária – 40 anos – três vozes em palco” estreou a 11 de Março de 2015 na Casa do Alentejo, em Lisboa, e só voltou à representação em Agosto. “Temos circulado pelos sítios onde está o público natural deste espectáculo, pelos locais da memória da reforma agrária”, disse Luís Varela. Daí que tenham vindo a ter “um acolhimento intenso e forte a nível emocional pois tem qualquer coisa de evocação de um tempo feliz”.
Depois das Caldas, a peça será apresentada em Almada, Porto e Setúbal. Esta já foi vista também no Seixal e na última edição da Festa do Avante.































