
O realizador Miguel Gonçalves Mendes escolheu Óbidos para, juntamente com a sua equipa, fazer a montagem do seu novo filme “O sentido da vida”. Chegou em inícios de Junho e permanecerá na vila em residência criativa até Setembro, altura em que regressará ao Brasil.
Durante o mês de Agosto tem estado a dinamizar uma mostra de cinema, que arrancou com o seu conhecido “José e Pilar” e contou com a presença de Pilar del Rio, a viúva do Nobel português.
E na residência criativa André Reinoso que o realizador Miguel Gonçalves, juntamente com a sua equipa (composta por dois portugueses, dois brasileiros e um espanhol) passam grande parte do seu tempo. Estão desde Junho na vila medieval a fazer a montagem do novo filme “Sentido da Vida”, depois de cinco anos de gravações pelo mundo inteiro. “Decidimos, para dar um novo impulso ao projecto, ir para um lugar calmo, bonito, onde pudéssemos estar concentrados” conta o realizador que encontrou em Óbidos esse destino.
O novo filme tem como protagonista Giovane Brisotto, um jovem brasileiro portador da paramiloidose familiar, uma doença rara e incurável de origem portuguesa, espalhada pelo mundo durante a época dos Descobrimentos.
Na iminência de um transplante, o jovem brasileiro decide embarcar numa viagem à volta do mundo, traçando a mesma rota daquela que se supõe ter sido a primeira viagem a disseminar a doença há 500 anos. Paralelamente ao curso da viagem, o espectador é confrontado com o quotidiano de sete figuras públicas da actualidade: o famoso juiz espanhol, Baltazar Garzón, o escritor português Valter Hugo Mãe, a artista japonesa Mariko Mori, o músico islandês, Hilmar Örn Hilmarsson e o astronauta da Estação Espacial Internacional Andreas Mogensen, entre outros.
Personagens estas que deram origem a 1500 horas de material, em sete línguas, que a equipa já teve que legendar e traduzir. Agora estão a condensar todo esse material em duas horas de filme.
Mas de Óbidos não sairá o filme pronto. Na verdade, “ainda estará longe disso”, conta o realizador, que prevê terminar o resto da montagem em São Paulo na produtora 02 Filmes, de Fernando Meireles (realizador da Cidade de Deus).
O próximo projecto de Miguel Gonçalves Mendes será a adaptação ao cinema do “Evangelho segundo Jesus Cristo” de José Saramago.
Ciclo de cinema na Casa Saramago
A equipa quis retribuir a hospitalidade da vila promovendo uma mostra de cinema na Casa Saramago, que teve início a 25 de Julho, com a exibição do filme “José e Pilar”, o filme que acompanha os três anos em que o Nobel português escreveu a Viagem do Elefante.
Fã de José Saramago desde miúdo, Miguel Gonçalves Mendes levou meses a tentar convencer o escritor a fazer o filme sobre ele e Pilar e só teve o seu aval depois de garantir que iria focar-se no seu trabalho. Mentiu. Para este documentário, que demorou quatro anos a fazer, acompanhou o casal por várias partes do mundo e foi estabelecendo com eles uma confiança crescente. “É uma espécie de relação de amor ou de sedução”, contou Miguel Gonçalves Mendes durante a apresentação do documentário, que contou com a presença de Pilar del Rio. A viúva de José Saramago lembrou que A Viagem do Elefante “é o livro mais português de José, que o retoma depois de ter passado por um estado de doença”.
Farol cultural da região
Miguel Gonçalves Mendes já conhecia Óbidos e gostaria que, no futuro, a vila se assumisse como o farol cultural desta região. “Tem vocação natural para isso, só tem que ser potenciado”, disse à Gazeta das Caldas, acrescentando que, “infelizmente em algumas cidades à volta a programação cultural e as infraestruturas culturais escasseiam”.
Miguel Gonçalves Mendes deixa ainda uma sugestão à autarquia para que tente atrair novos residentes à vila, sob pena de daqui por uns anos esta se tornar uma mera cenografia e perca o interesse por parte dos turistas.
O realizador fala dos eventos que têm colocado o concelho no mapa nacional e defende que agora o interessante era mostrar que Óbidos não é só um lugar de passagem, mas onde se pode ficar e que há coisas para fazer. A sua estadia é a prova disso. Para além de participar nas iniciativas locais, Miguel Gonçalves Mendes vai diariamente ao café 1º de Dezembro e almoça no Ramon Ramon. Só sente falta de um mini-mercado dentro da vila, diz.






























