Rancho Folclórico “Os Pimpolhos” do Coto

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Gazeta das Caldas
O Rancho Folclórico “Os Pimpolhos” do Coto celebra o seu sétimo aniversário este fim-de-semana, na festa anual em honra da Nª Sra. dos Anjos |Beatriz Raposo

“É muito bom para a freguesia que haja assim um grupo de jovens empenhados em levarem o nome do Coto pelo país fora”

São actualmente o único rancho infantil do concelho, com oito pares de dançarinos dos quatro aos 17 anos. Existem desde 2010 e surgiram porque a Associação Recreativa e Cultural do Coto quis aproveitar as crianças que já integravam as marchas populares para formar um grupo de folclore que tivesse actividade durante todo o ano. Foi assim que nasceu o rancho folclórico “Os Pimpolhos”, que se evidencia em palco pelos trajes com corações bordados.

Diana e Rafael, 17 e 14 anos, são irmãos e integram ambos o rancho infantil do Coto. Diana foi a primeira a entrar para o grupo e, curiosamente, fê-lo por iniciativa própria. Este é um aspecto a realçar porque na maioria das vezes os jovens são levados para os ranchos por familiares que já lá andam ou então por amigos que os convidam a experimentar. Mas com Diana Tavares foi diferente.
“Sempre gostei de conhecer tradições antigas e assim que vi o rancho actuar tive curiosidade em experimentar, até porque também gosto muito de música e dança. Achei muito engraçado a forma tão rápida como mexiam os pés e quis aprender também”, conta a jovem, que acabou por arrastar o irmão mais novo consigo. Rafael começou apenas por acompanhar Diana aos ensaios, mas passado pouco tempo tornou-se elemento do rancho. Isto há cinco anos.
Na opinião de Rafael “Os Pimpolhos” do Coto são ainda um rancho um pouco “trapalhão”, mas que de ano para ano trabalha para se apresentar cada vez melhor em palco. “É notória a nossa evolução”, acrescenta o dançarino, lembrando que tal como existem actuações que marcam o grupo pela positiva, o inverso também acontece.
No seu caso, por exemplo, recorda-se que numa das primeiras vezes em que subiu ao palco da ARECO acabou por escorregar no corridinho, levando a sua queda a que mais pares também caíssem em plena actuação. “A sola dos sapatos que eu usava praticamente já não tinha borracha, então os sapatos não tinham aderência”, recorda Rafael Tavares, acrescentando que neste tipo de contratempos o mais aconselhável é que o par se encoste imediatamente a um canto do palco, para não atrapalhar o resto da coreografia. Mais tarde resta apenas rir do episódio.
A valsa a dois passos é a dança preferida destes dois irmãos, que antes de entrarem para o rancho do Coto não tinham qualquer ligação à freguesia, pois vivem nas Caldas. “Não há dúvida que agora sentimos maior apego, principalmente à associação, porque as pessoas reconhecem-nos por dançarmos no rancho e acompanham os nossos espectáculos”, realça Diana Tavares, que salienta a importância da ARECO estar não só representada por actividades desportivas (como o futebol e o badminton), mas também por iniciativas culturais, entre as quais o rancho.
“Assim existe maior equilíbrio e ao mesmo tempo a associação acaba por chegar a mais pessoas”, completa o irmão Rafael.

“DESLOCAÇÕES SÃO MUITO DIVERTIDAS”

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As actuações mais divertidas são normalmente aquelas que implicam viagens de autocarro, visitas a novas cidades e brincadeiras que vão muito além do desempenho do rancho durante os espectáculos. Rafael Tavares recorda a actuação no Parque dos Monges (Alcobaça), por ter sido “um dia inteiro dedicado à diversão”, enquanto os amigos Tomás Moreira e Guilherme Lopes (14 e 10 anos) destacam a ida a Joane, pois foi uma oportunidade para conhecerem o Porto.
“Não é só pela dança que gostamos de andar no rancho… é também pelo convívio e porque é um meio para conhecermos outras terras que, se não fosse através do rancho, dificilmente visitaríamos”, explica Guilherme Lopes, que realça o facto do autocarro do rancho estar sempre cheio, também com pessoas que não fazem parte do grupo mas que gostam de acompanhá-lo nestas saídas.
Além de dançarinos, Guilherme e Tomás também jogam futsal e badminton. São muitas horas perdidas em diferentes actividades – nas quais só participam caso se portem bem na escola – mas os dois amigos garantem que há tempo para tudo.
“É uma mais valia estarmos envolvidos em várias coisas, não só porque lidamos com diferentes realidades e mais pessoas, mas também porque ganhamos mais ferramentas para o futuro”, afirma Tomás Moreira, que pouco ou nada liga aos comentários preconceituosos que às vezes ouve na escola relativamente aos ranchos folclóricos.
O jovem conta que há pouco tempo esteve patente no Céu de Vidro uma exposição fotográfica que retratava vários ranchos do concelho e que numa das imagens lá surgia ele trajado de ceifeiro. “Uma colega minha tirou logo uma fotografia e enviou-me a gozar… eu só lhe respondi: O que é que tem? É bonito não é? E ela calou-se”, conta Tomás, acrescentando que “é triste que as novas gerações não entendam a importância de existirem jovens que dêem continuidade aos ranchos, caso contrário irá perder-se uma parte do nosso passado”.

“É MAIS FÁCIL TRABALHAR COM CRIANÇAS DO QUE COM ADULTOS”

Anabela Noronha, 53 anos, é uma das responsáveis pelos “Pimpolhos” do Coto. Já tinha dançado vários anos em jovem e foi convidada a ajudar Pedro Oliveira nos ensaios quando a ARECO decidiu que estava na altura de ser criado um rancho infantil. Foi em 2010, no seguimento de existirem muitas crianças a participarem nas marchas populares da associação.
Mas já em 1953 há registos de ter existido outro rancho na localidade, “Os Corações Unidos”, cujos trajes inspiraram os que actualmente são usados pelos “Pimpolhos”. “Até houve uma senhora que tinha pertencido a esse rancho e nos ofereceu dois trajes (um de rapaz e outro de rapariga) que bordou tal e qual como eram os originais”, conta Anabela, acrescentando que, desde então, o rancho infantil acrescentou mais trajes semelhantes onde sobressaem os corações.
Além desses, também possuem os fatos de domingueiros, noivos, ceifeiros e conjuntos com padrões chita e folhos que eram usados antigamente pelas crianças cujos pais iam trabalhar para a fazenda. Para palco, os dançarinos levam também brinquedos antigos como bonecas de trapos, carrinhos de madeira ou peneiras.
Hoje, o rancho infantil do Coto tem elementos dos quatro aos 17 anos (só na tocata é que entram adultos) e nenhum integra o grupo obrigado. “É uma política nossa… só participa quem quer, não queremos que ninguém vá dançar contrariado, só porque os pais fazem questão, por exemplo”, sublinha Anabela Noronha, acrescentando que os 13 e os 14 anos são as idades mais complicadas pois os jovens dão demasiada importância à opinião dos amigos. “Muitos acabam por sair do rancho por terem vergonha, por ouvirem na escola chamarem-lhes de saloios. Esquecem-se que as pessoas que fazem esse tipo de comentários não são verdadeiros amigos”, diz a ensaiadora.
Apesar deste problema, Anabela garante que é mais fácil trabalhar com crianças do que com adultos. Isto quando os também pais colaboram. “Elas aprendem com mais facilidade, são mais doces e flexíveis, enquanto os mais velhos são mais complicados e gostam muito de opinar”, refere, revelando que este mês entrarão para o rancho novas crianças.
Quando a faixa etária é tão jovem, é essencial que os ensaiadores saibam distinguir os momentos de brincadeira daqueles em que é necessário adoptar uma postura mais séria. “Alguns querem estar sempre a brincar, mas a maioria encara as actuações com responsabilidade, de tal forma que lhes digo para dançarem com um sorriso Pepsodent porque há deles que estão tão concentrados que se esquecem de se divertir em palco”, acrescenta Anabela Noronha.
Para a responsável, o rancho é o exemplo de como existe na freguesia do Coto juventude interessada em mexer-se por boas causas. “A população idosa valoriza muito este tipo de grupos porque se identificam”, diz a ensaiadora, acrescentando que cada vez mais as próprias crianças do rancho se mostram interessadas em ajudar nas actividades da associação. “Ainda no aniversário da ARECO fizeram questão de venderem rifas para a quermesse e no final vieram-me perguntar se tinham feito dinheiro suficiente para pagar o acordeonista desse dia”, ri-se Anabela.

Sete anos de história…

1953 – Há registos de ter existido o rancho “Os Corações Unidos” do Coto, cujos trajes inspiraram os que actualmente são usados pelos “Os Pimpolhos”
2010 – Criação do Rancho Folclórico “Os Pimpolhos” do Coto, no seguimento de existirem muitas crianças a participarem nas marchas populares
Todos os anos, em Setembro, o rancho infantil comemora o seu aniversário na festa anual do Coto em honra da Nª Sra. dos Anjos. Foi nesta festa que o grupo actuou pela primeira vez.

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