Rancho Folclórico e Etnográfico “Os Amigos da Associação de Barrantes”

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Gazeta das Caldas
O Rancho Folclórico “Os Amigos da Associação de Barrantes” é o mais novo do nosso concelho, com apenas cinco anos de existência |DR

“Ir actuar ao estrangeiro é um sonho que espero concretizar com este rancho”

São o mais recente rancho do concelho e o terceiro da freguesia de Salir de Matos. Nasceram em 2012 e inicialmente juntaram-se apenas para celebrar os 25 anos da Associação de Barrantes Cultural e Desportiva. Mas a estreia em palco correu tão bem que o grupo decidiu avançar com um projecto mais a sério e criou o Rancho Folclórico e Etnográfico “Os Amigos da Associação de Barrantes”. Com 35 elementos, dos quatro aos 70 anos, este rancho tem o grande sonho de ir actuar pela primeira vez ao estrangeiro.

Seis de Janeiro de 2012. Foi nesta data que o rancho de Barrantes se apresentou pela primeira vez, a propósito do 25º aniversário da associação da localidade. Nem tocata tinham, era apenas uma brincadeira. Gravaram umas quantas músicas num CD e dançaram ao som da aparelhagem. Subiram ao palco 26 pessoas, não só de Barrantes, como do Guisado (também de Salir de Matos), A-da-Gorda e Lourinhã, a maioria já dançarinos de outros ranchos.
Acontece que a população os recebeu tão bem que o grupo começou a ponderar a hipótese de levar aquela brincadeira mais longe. Foi assim que no dia 25 de Abril do mesmo ano, quatro meses depois, o rancho se estreou com uma tocata. É nesta data que todos os anos “Os Amigos da Associação de Barrantes” celebram o seu aniversário e organizam o festival de folclore.
Este é também um evento essencial para o rancho angariar verbas. “Somos capazes de vender mil rifas por um euro, isto porque todos os anos sorteamos um leitão aos participantes”, conta Ermelindo Simão, responsável do grupo, acrescentando que faz parte da festa o leitão juntar-se ao rancho num desfile que fazem por toda a freguesia. O pequeno porco vai solto e é guiado por uma ovelha, a mesma já há três anos e que já está bem ensaiada.
Mesmo assim, o rancho não tem fundos suficientes para pagar novos trajes. São os próprios elementos que suportam esse custo. Valeu, de início, o facto de Ermelindo Simão ter vários trajes guardados – uma vez que já pertenceu a outros ranchos do concelho e arredores – e também a generosidade de alguns amigos, que doaram trajes que já não usavam ao grupo de Barrantes.
Hoje, o rancho apresenta o par dos noivos e dos domingueiros, a lavadeira, o lavrador e a leiteira, entre outros fatos de trabalho agrícola. “Alguns ainda não estão 100% completos, mas vamos melhorando aos poucos. Claro que seria mais fácil se tivéssemos mais apoios da Câmara”, afirma Ermelindo Simão, acrescentando que a maior dificuldade é vestir e calçar as crianças porque crescem muito rápido. Dos oito aos 15 anos são capazes de precisar de pelo menos três trajes.
Além da roupa, o rancho de Barrantes também possui um conjunto de utensílios antigos: a bilha da água, o crivo de milho, os chocalhos que eram utilizados pelos homens que iam à feira comprar gado ou os paus de madeira são alguns exemplos. Estes representam as actividades agrícolas que, no início do século passado, ocupavam a vida da maioria das pessoas da aldeia. No caso de Barrantes, as plantações de trigo e de vinha eram as que existiam em maior abundância.


“ANTIGAMENTE ERA MAIS FÁCIL CRIAR UM RANCHO”

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Ermelindo Simão dança há mais de 30 anos. Já pertenceu aos ranchos das Trabalhias, Guisado, Alvorninha, Arneirense, Fanadia, Casal Velho e Ramalhosa. Isto só no nosso concelho. Ermelindo começou a dançar precisamente quando se deu o “boom” dos ranchos na região Oeste, estávamos nos anos 80. Foi a seguir ao 25 de Abril, numa altura em que as populações rurais andavam entusiasmadas com a construção dos salões de festas nas aldeias e decidiram criar grupos de folclore para animar aqueles espaços.
“As pessoas tinham mais disponibilidade que agora, os jovens tinham pouco entretenimento nas aldeias, não existiam os telemóveis nem os computadores, e poucos eram os que tinham meio de transporte próprio, então facilmente vinham dançar”, recorda o ensaiador, acrescentando que se agora é difícil manter um rancho com muitos anos, quanto mais fundar um novo.
“Os mais novos andam cá quatro ou cinco anos, mas o problema é quando começam a namorar… se o namorado também pertencer ao rancho até são capazes de continuar, mas se for alguém da cidade, que nem compreende o que é um rancho, então acabam por sair”, diz Ermelindo Simão, realçando que esta realidade acontece principalmente com as raparigas.
No entanto, os jovens de hoje em dia que decidem não abandonar o barco acabam por ser as gerações que daqui a uns anos assegurarão a continuidade dos ranchos. Tatiana Lopes, 17 anos, espera que seja assim consigo. “Eu nasci neste ambiente porque os meus pais já dançavam, por isso compreendo a importância e a essência dos ranchos folclóricos”, afirma, acrescentando que pouco liga aos comentários menos agradáveis que às vezes ouve na escola. Há quem lhe chame dançarina num tom depreciativo. “Os meus colegas que têm essas atitudes não se identificam com as tradições antigas das aldeias, nem sequer frequentam este meio”, revela.
É por esta razão que Ermelindo Simão considera que a actuação nas Tasquinhas da Expoeste é uma das mais importantes. “É um evento que é frequentado por muita malta nova, que é da cidade e ali tem a oportunidade de estabelecer contacto connosco. Alguns até aceitam vir dançar um fadinho mesmo que não percebam nada de dança”, explica o responsável.
Mas passados 30 anos mudaram também os trajes e a qualidade da música. Quanto à forma de dançar, essa mantém-se mais ou menos a mesma. Ermelindo Simão lembra que de início as mulheres trajavam quase todas com uma saia vermelha e um avental bordado e os homens vestiam calças pretas e camisa branca. Na sua opinião, foi o rancho de Alvorninha o primeiro a avançar com a adopção de trajes etnográficos, representativos das tradições antigas, e depois mais grupos do concelho seguiram o mesmo caminho.
Quanto à tocata, existem hoje muitos mais instrumentos que há três décadas. Ao acordeão, aos ferrinhos, ao bumbo, ao almude e ao reco-reco juntaram-se as violas, os cavaquinhos e as pinhas.

“TEMOS MUITO APOIO DAS PESSOAS DA TERRA”

O futuro da Associação de Barrantes Cultural e Desportiva é incerto. Ainda não foi eleita uma nova direcção para este ano, apesar das reuniões que têm sido organizadas com a população.
Mas mesmo que a colectividade feche as portas, o rancho irá manter-se activo. Esta situação não é aliás uma novidade, pois desde que existe este grupo de folclore já aconteceu a associação encerrar por 16 meses mas o rancho continuar a sua actividade.
“São as pessoas que nos dizem para não acabarmos, o que só mostra que temos um grande apoio da população, que vê no rancho uma força viva da associação e da localidade”, afirma Ermelindo Simão, revelando que sempre que o grupo organiza o festival de folclore as pessoas da terra contribuem para encher a mesa com vários pratos.
Há também quem se junte ao rancho quando é dia de actuar longe e é preciso alugar um autocarro para o efeito. “As pessoas inscrevem-se para nos acompanharem nas viagens e pagam um valor que ajuda a suportar a despesa do aluguer do autocarro”, explica o ensaiador, que recorda a ida até Vila Pouca de Aguiar (Vila Real) como uma das saídas mais divertidas. “Estas pessoas não pertencem ao rancho, mas também já fazem parte da família”, acrescenta Ermelindo.
Das 15 a 20 actuações que “Os Amigos da Associação de Barrantes” têm por ano, duas a três são para destinos mais distantes. Agora só falta ao rancho dar um salto até ao estrangeiro. Este é mesmo o grande sonho de Ermelindo Simão, que já viajou para fora do país com outros ranchos e queria proporcionar a mesma experiência ao grupo de Barrantes. “Nem que fosse a Espanha, passávamos logo a ter o selo de rancho internacional”, realça.
O rancho de Barrantes foi o terceiro a nascer na freguesia de Salir de Matos, onde também existem os ranchos de Trabalhias e do Guisado. Ao contrário do que acontece noutras freguesias do concelho, aqui não existe rivalidade entre os três grupos, que fazem questão de actuarem todos no mesmo dia nas Tasquinhas de Salir de Matos.
“Já aconteceu adiarmos o evento um fim-de-semana porque um dos ranchos não podia actuar nesse dia, tinha outra actuação”, diz Ermelindo Simão, acrescentando que ainda este ano, na Expotur, a responsável pelo rancho das Trabalhias – Nisa Tavares – convidou o grupo de Barrantes a comer filhoses e beber imperiais no final da sua actuação.

5 anos de história…

6 de Janeiro de 2012: O rancho juntou-se pela primeira vez para assinalar os 25 anos da Associação de Barrantes Cultural e Desportiva. Actuaram 26 pessoas, ainda sem tocata.

25 de Abril de 2012: É criado formalmente o Rancho Folclórico e Etnográfico “Os Amigos da Associação de Barrantes”. O grupo já sobe ao palco com tocata. É também nesta data que, desde então, o rancho celebra o seu aniversário e organiza o festival de folclore.

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