
A história que João Jorge contou ao filho de quatro anos para adormecer, envolvendo diversos animais e plantas existentes na naquela quinta, agradou bastante ao menino e, por isso, registou-a em papel. Mais tarde, e já no Complexo dos Arcos, em Óbidos, contou a mesma história à colega Susana Faria, também da área das artes, e desafiou-a a idealizar as personagens.
O projecto foi sendo desenvolvido paralelamente ao trabalho na escola e as crianças também tiveram um papel activo, já que a atelierista pediu sugestões aos alunos, que foram elaborando desenhos sobre as personagens. “Alguns desenhos foram alterados, outros discutidos”, conta João Jorge, que é o responsável pelas ilustrações do livro.
O original foi enviado para a Chiado Editora, que rapidamente respondeu favoravelmente. Também o então presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, gostou da obra e decidiu que esta seria a prenda de Natal de 2013 da autarquia para os cerca de 700 alunos que frequentam os jardins de infância e primeiro ciclo do concelho.
O livro tem uma moral subjacente. Fala da amizade e do amor e alerta para o facto destes sentimentos não terem limites ou fronteiras. “Acho que faz todo o sentido falar-se destes temas nos dias de hoje, até por causa de algum tipo de preconceito que exista”, explica João Jorge.
O autor refere ainda que a história, apesar de simples, pode ser usada em contextos de aprendizagem muito diferentes, como as estações do ano, ciclo da água ou a importância da natureza.
O livro é também interactivo, com as crianças a serem convidadas para fazer a última ilustração. “Foi uma vontade minha também para que eles se possam sentir autores e participativos no livro”, disse à Gazeta das Caldas.
João Jorge está agora a acabar de emoldurar os desenhos originais que irão estar em exposição, em breve, na Galeria do Pelourinho, altura em que também será feita a apresentação formal do livro.
Entretanto, os alunos dos Arcos vão tendo contacto com a obra, sendo convidados a expressar a sua criatividade sobre a história abordada. João Jorge dinamiza os ateliers criativo e da cerâmica no Complexo dos Arcos, que este ano entraram para o plano curricular de ensino, deixando de ser uma actividade extra-curricular. “Começa a haver um diálogo de proximidade e de envolvimento entre o atelier e os professores”, disse, acrescentando que o atelier tenta dar uma resposta criativa e alternativa como complemento das matérias curriculares.
A professora Sónia Arsénio destaca que a interacção entre a aula e uma componente mais prática favorece a aprendizagem dos alunos. “Desta forma eles trabalham sem se aperceber e por iniciativa própria”, disse, acrescentando que também os sente mais motivados.
João Jorge está já a “germinar” ideias para um próximo projecto. A sua parceira nesta aventura foi mãe recentemente, pelo que ainda não sabe da sua disponibilidade para agarrar o novo desafio, mas o atelierista pretende criar um novo livro infantil, abordando temas polémicos, como a homossexualidade, preconceito, morte e nascimento.
“Estando eu no ensino sei que são temas que é importante serem falados abertamente, para os ajudar a poderem criar as suas próprias opiniões”, concluiu.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt






























