O outono já está aí, mas ainda há tempo de celebrar a estação anterior. Em jeito de “despedida do verão” a Liga dos Amigos do Museu José Malhoa organizou uma festa popular com quermesse na Casa dos Barcos, no Parque D. Carlos I. O encontro, que preencheu a manhã e tarde do passado sábado, 25 de Setembro, tinha uma missão: angariar fundos para o restauro de peças do Museu. Outro objectivo era o convívio entre os associados.
Mas para isso, o Grupo Coral da Casa do Pessoal do Centro Hospitalar das Caldas deu uma ajudinha.
Na tarde de sábado o calor abrasador de verão parecia ter-se sumido. Estava mais fresco que o habitual. E o Parque também tinha menos passeantes do que era costume, excluindo, claro, os mais novos que brincavam no parque infantil. No lago, apenas um grupo de quatro jovens andavam de barco. Em terra, transeuntes iam a pouco e pouco dando uma espreita ao que se passava dentro da Casa dos Barcos. Era uma quermesse organizada pela Liga dos Amigos do Museu José Malhoa e com uma finalidade solidária.
“Tentamos sempre diversificar actividades, mas desta vez pretendemos ajudar o Museu na recuperação de algumas peças”, contava Joana Falcão, presidente da Liga. Os restauros não são baratos e as verbas também não são suficientes para a comparticipação. “Os nossos associados têm uma quota muito pequena. Pagam 15 euros”, revelava. E qual a obra com mais necessidade de recuperação? “A estátua da Rainha D. Leonor que está precisíssima de ser restaurada e é caríssima. Há dois anos fizemos um orçamento de mais de 4000 euros. É possível que agora tenha aumentado e não há dinheiro para isso”, dizia a presidente da Liga.
EMPRESAS DE CERÂMICA AJUDARAM
Por isso, e embora sabendo que era uma contribuição simbólica para os trabalhos que desejaria ser feitos no Museu, a associação deitou mãos à obra (neste caso, a objectos que tinham em casa e, aparentemente, sem utilidade) e organizou uma quermesse. Mas não só. As empresas de cerâmica das Caldas, como a Promol, Braz Gil e Bordalo Pinheiro, também deram uma ajuda. “As fábricas foram muito generosas, pois ofereceram grande parte das peças”, declarava Joana Falcão. Ou seja, todos procuraram contribuir. Uma parte da quermesse era destinada a venda directa: pratos a cinco euros, conjunto de chá a 20, jarras a dez euros e quadros que variavam entre os dez a 50 euros; a outra parte era a quermesse propriamente dita, isto é, com o sorteio de rifas a objectos, como CD’s, velas, chávenas bijutaria, pequenas figuras em porcelana, entre outros. O preço de cada rifa também era simbólico: 50 cêntimos.
Quanto a adesão do público, “de manhã até houve bastante movimento, mas agora na hora de almoço é que abrandou. Mas as pessoas estão a chegar para assistirem à actuação Grupo Coral da Casa do Pessoal do Centro Hospitalar das Caldas”, afirmava Joana Falcão. E o certo é que por volta das 15h00 (hora da actuação do Grupo) iam entrando mais gente para a Casa dos Barcos.
Sentados de frente para o “palco” estavam Luís e Vitorina Gomes, um casal caldense, na casa dos 70 anos de idade, que já estava a marcar lugar desde as 14h30, para verem a actuação da filha que pertence ao Grupo do Centro Hospitalar das Caldas.
“Viemos ver a orquestra, em especial a nossa filha que lá toca. Mas vimos ao Parque todos os dias. Moramos aqui perto e a nossa distracção é vir passear ao Parque”, contava Luís Gomes. “O Parque é algo maravilhoso”, exclamava a esposa, mas afirmando que o espaço de lazer carece de canteiros com flores. No que toca a contributos para a Liga, o casal Gomes já tinha ido tirado umas rifas. “Calhou-nos uns tamancos. Podiam ser maiores para servirem nos pés”, dizia entre risos, Luís Gomes.
Entretanto, começava a música popular do Grupo Coral da Casa do Pessoal do Centro Hospitalar das Caldas. Músicas como “Pezinho da Vila”, “Ribeira vai cheia”, “Porto de Matosinhos” e a “Marcha da Nazaré”, iam proporcionando uma tarde mais calorosa aos 30 assistentes. Mas este número ia variando, tudo porque, alguns passeantes espreitavam de mansinho para o interior da Casa dos Barcos, atraídos pelo som do Grupo.
A música dura cerca de uma hora. É nesta parte final que o “negócio” ficava mais favorável. “Ainda temos uma amostra bastante generosa, mas em todo caso tem havido uma saída de peças muito razoável. Nas peças à venda é que já não há tanto entusiasmo”, confessava Mário Gonçalves, membro da Liga, enquanto procurava os prémios sorteados das rifas. Ainda assim, e a título de curiosidade, Gazeta das Caldas quis saber como é que se tinha procedido à organização dos números rifados. Resposta: “Não fizemos batotice nas rifas. Contrariamente ao que muitas vezes acontece, tínhamos um número idêntico de premiados e não premiados. Quem comprava dez, quatro ou cinco tinha assegurados prémios. Eu não fiz as rifas mas confio nas pessoas que fizeram”, garantiu Mário Gonçalves, a sorrir.
“A incansável obra da Liga”,
Embora fossem as rifas que predominavam a quermesse, lá havia um visitante ou outro, que aproveitava para comprar umas peças. Era o que estava a fazer João Sá Nogueira. O caldense chegou já depois da actuação musical, mas “ainda a tempo de ajudar esta acção notável que a Liga está a fazer”. Comprou quatro velas de porcelana (da Braz Gil) por 15 euros, cada uma e umas compotas de cereja e framboesa, a oito euros. Mas, segundo João Sá Nogueira, a importância de contribuir para a “incansável obra da Liga”, sobrepunha-se ao preço dos artigos. “O Museu atravessa sérias dificuldades. Isto é uma boa maneira de podermos colaborar com uma obra que também é nossa”, dizia o visitante.
Em tempos de crise, a cultura também paga. João Sá Nogueira declarava, convictamente, que tem de haver uma obrigação na preservação do património. E não ia longe num modelo para que as pessoas possam seguir: “Estas acções são um bom exemplo de que as pessoas podem-se unir e praticar voluntariado a favor de obras concretas como o caso do Museu José Malhoa”.
Tânia Marques































