
A Foz do Arelho foi palco da terceira edição do Cabovisão Oeste Fest, que se realizou de 21 a 24 de Julho, com um cartaz cem por cento nacional que levou ao recinto 46 mil pessoas, segundo apontou a organização.
Se no sábado foi necessário encerrar as bilheteiras mais cedo porque o recinto encontrava-se lotado (graças às duas principais estrelas do festival The Gift e D.A.M.A), nos restantes a afluência ficou aquém das expectativas.
É tudo gente jovem, a rondar os 18 anos, que está ansiosa por ver D.A.M.A e Mastiksoul, principalmente. Gazeta das Caldas vai ao encontro de sete amigos que acabaram de jantar. “Hoje comemos frango assado, mas trazemos essencialmente enlatados, como atum e salsichas, batatas fritas e bolachas”, diz Maria da Franca, adepta do Oeste Fest desde o seu início, em 2014.
Os jovens contam que o ambiente é de entreajuda entre os campistas. “Ainda hoje precisámos de azeite e emprestaram-nos”, revela a caldense, acrescentando que levar agasalhos é imprescindível pois à noite arrefece muito.
O grupo elogia ainda as condições de segurança e higiene, assim como as actividades que decorrem durante o dia (surf, canoagem e slide são alguns exemplos).
“O festival é bastante acessível [25 euros para os campistas] e o cartaz apelativo. Embora nós até tivéssemos comprado bilhetes antes de serem anunciadas as bandas, pois gostamos de vir pelo convívio”, acrescenta Maria da Franca.
Os primeiros a subir ao palco na noite de recepção ao campista são os Matiff e os Wise Native, duas bandas caldenses que ficaram entre as vencedoras do Concurso de Bandas de Garagem que se realizou no Mês da Juventude em Alcobaça. Segundo João Paulo Louro, responsável da Walking Melodies (empresa organizadora), o grande objectivo do festival, “depois de promover a região Oeste e a música nacional, é dar oportunidade às bandas locais emergentes de mostrarem o seu trabalho”.
Rita Eusébio e David Ferreira, dois elementos dos Wise Native, descrevem a experiência de actuar no Oeste Fest como “espectacular” e acrescentam: “caso não tivéssemos participado no concurso de bandas, dificilmente teríamos hipótese de tocar para tanta gente”. Os Wise Native juntaram-se há dois anos, bebem as influências do rock progressivo e do hardcore e contam já com quatro temas originais.
Também os Salmoura e os J.F.T.I (Já Foi Tudo Inventado), assim como as duplas de DJs GNTK e Kevu, foram outros artistas locais que actuaram no festival, que este ano voltou a ter palco secundário e principal.
NTS, O REI DO IMPROVISO
Na primeira noite o hip-hop esteve na casa, representado pelos artistas nortenhos NTS e SlimCutz & Ace.
NTS (Fábio Vitó) apresentou temas do álbum “Novos Tempos” – lançado o ano passado – como “ContraLição” e “Ela Quer”, mas o momento mais alto da sua actuação ficou marcado pelo improviso que o rapper fez no momento com as palavras escolhidas pelo público: “Pikachu”, “Éder” e “Alex”. (De frisar que foram vários os músicos que fizeram piadas sobre o Pokemon Go e a Selecção Portuguesa de Futebol).
“O improviso treina-se todos os dias e requer muito trabalho”, afirma Fábio Vitó, muito satisfeito com a reacção dos festivaleiros ao espectáculo. “É fantástico ouvir as pessoas cantarem as minhas músicas. Isso nunca tinha acontecido porque antes do álbum eu só improvisava”, revela.
Desde o lançamento de “Novos Tempos” que NTS pretende reunir em palco os seus dois talentos: as músicas do CD e os momentos de improviso. “Como artista só posso crescer se gravar temas da minha autoria, mas não quero esquecer a improvisação, pois foi assim que comecei”, acrescenta.
LEÇA DA PALMEIRA EM PESO
De Leça da Palmeira para o palco do Cabovisão Oeste Fest vieram os Mundo Secreto e os Expensive Soul, duas bandas formadas em 1999.
Os seis rapazes de Mundo Secreto trouxeram um concerto cheio de energia, refrescado pelos novos temas do álbum “Neons & Lasers” (2015), como “Leva o Meu Mundo”, “Cocktail + Molotov” e “Bilionário”, sem esquecer os clássicos mais antigos “Põe A Mão No Ar” ou “Põe Aquele Som”. Recorde-se que esta banda já havia tocado na Foz do Arelho em 2007.
“É muito bom regressar com o nosso hip-hop alegre e positivo, que por detrás tem sempre uma mensagem para os mais jovens”, conta Durval Nunes, acrescentando que a música dos Mundo Secreto reflecte o ambiente de Leça da Palmeira: “praia, sol e muito boa onda”.
Os Expensive Soul nasceram numa escola em Leça da Palmeira, quando Tiago Novo (New Max) e António Conde (Demo) eram colegas de turma e partilhavam o gosto pela música. Passados 17 anos, a dupla evoluiu para 12 elementos em palco (que incluem um coro e um trio de sopros) e o seu registo já não se extingue no hip-hop.
Soul, R&B e Funk também fazem parte da sonoridade deste grupo, que foi o primeiro em Portugal com bases de hip-hop a apresentar uma banda nos concertos. E que banda! Durante todo o espectáculo os músicos dos Expensive Soul dançaram, cantaram e pularam com uma energia contagiante. “Cúpido”, “O Amor É Mágico”, “Que Saudade” e “13 Mulheres” foram dos temas mais aplaudidos.
A NOITE EM QUE SE JUNTARAM PAIS E FILHOS
Não há dúvida que sábado foi a noite com mais público no Oeste Fest. Tanto que a organização encerrou as bilheteiras mais cedo devido à lotação do recinto. A “culpa” foi dos The Gift e D.A.M.A, as duas estrelas do cartaz, que juntaram na plateia pais e filhos. Se os mais velhos eram principalmente fãs da banda de Alcobaça, a juventude estava ansiosa por ver actuar o trio maravilha composto por Miguel Cristovinho, Miguel Coimbra e Francisco Pereira.
Sem esquecer Mastiksoul, o DJ nacional que continuou a festa já depois das duas da manhã com um espectáculo que contou com várias “explosões” de confettis.
“Sentimo-nos em casa”, conta Sónia Tavares, que mostrou, juntamente com os restantes elementos dos The Gift que, embora a banda já some 20 anos de carreira, tem muita energia para dar em palco. E também fora dele… já que a vocalista e Nuno Gonçalves interpretaram dois temas no meio da multidão que assistia.
“Reparámos que o público era muito jovem, mas que mesmo assim sabia as nossas letras. É sinal que continuamos a conquistar gerações mais novas e que já não são apenas os pais a trazer os filhos, mas também os filhos a trazer os pais”, diz Nuno Gonçalves.
A ligação da banda a Alcobaça permanece após 20 anos. “Todos os grandes momentos que passámos foram em Alcobaça e é lá que temos o nosso estúdio”, afirma Sónia Tavares, recordando que o primeiro concerto foi dado no Bar Ben, em Alcobaça.
Em Janeiro de 2015 os D.A.M.A actuaram no CCC e voltaram agora como cabeças de cartaz ao festival da Foz do Arelho. “Ao contrário do que se costuma dizer: ‘não voltes aos sítios onde já foste feliz’, nós já tínhamos saudades de cá tocar”, realça Francisco Pereira.
“Não Faço Questão”, “Às Vezes”, “Tempo Para Quê”, “Não Dá”, “Luísa”, “Balada do Desajeitado” foram alguns dos temas apresentados pelo trio, que actuou para um público que sabia todas as suas letras de trás para a frente.
Uma das características desta banda é ter conquistado um estilo que os identifica à primeira nota. “Conseguirmos criar a nossa própria sonoridade foi das maiores vitórias que já alcançámos”, frisa Miguel Cristovinho.
MUITA COR NA FESTA FINAL
O Cabovisão Oeste Fest terminou com a animação do DJ Paulux (que também actuou nos dois primeiros dias do festival), com uma Mega Aula de Zumba e com uma Color Party com música dos P*ta da Loucura. Por volta das 19h00 de domingo, o recinto ficou completamente laranja, graças à tinta em pó que foi oferecida aos festivaleiros.
Este ano a Cabovisão voltou a associar-se ao festival que custou 350 mil euros e contou com o apoio camarário de 15 mil euros (mais IVA). Juntaram-se ao festival (gratuitamente) 16 colectividades da região e foram entregues cerca de mil ingressos a instituições de cariz social e famílias carenciadas.
Para o ano a empresa caldense Walking Melodies, que pertence a João Paulo Louro, pretende dar continuidade ao Oeste Fest que, de resto, já é uma marca registada. No entanto, este terá sido o último festival com a designação da Cabovisão, já que esta marca vai desaparecer para dar lugar à Nowo, uma nova operadora da rede móvel que deverá ser lançada nas próximas semanas.

































