Pedro Lobo vence Mostra de Jovens Criadores

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Peças da coleção Kinky Ceramics que foi a vencedora da última edição deste concurso que premeia novos autores

Estudante da ESAD.CR destacou-se na área da cerâmica com a ousada coleção designada “Kinky Ceramics”.

O designer Pedro Lobo foi um dos 15 vencedores da Mostra Nacional Jovens Criadores (MNJC), que terminou em dezembro, com uma cerimónia de entrega de prémios em Almada.
A MNJC foi organizada pela primeira vez pela plataforma portuguesa independente de jornalismo, cultura e educação, numa parceria com a Câmara de Almada. O concurso contou com mais de uma centena de participantes, de entre os quais o júri selecionou oito finalistas de cada categoria – desde arte digital, teatro, humor, moda, pintura e arte urbana – para, posteriormente, selecionar os melhores trabalhos.
Os vencedores ganharam mil euros, uma entrevista na plataforma Gerador, descontos num curso da Academia Gerador durante um ano e uma assinatura como Sócio Gerador e um Cartão Jovem.
“Fiquei muito feliz quando soube que fui o vencedor na área da cerâmica. Tenho recebido muitos contactos nacionais e até internacionais”, disse Pedro Lobo à Gazeta das Caldas.
Quando chegou às Caldas, o autor, natural de Minde, notou a vertente sexual que possui a cerâmica tradicional da cidade, desde os manguitos do Zé Povinho até ao Falo. E é neste âmbito que surgiu a ideia da coleção Kinky Ceramics, constituída por peças tradicionais, às quais são feitas modificações com artefactos de BDSM, “numa tentativa de desconstruir a barreira da aversão da sociedade, perante a cultura do fetiche”, disse o designer, que, para realizar este projeto, teve de pesquisar bastante, contactar sex shops e pessoas que se dedicam a estas práticas.
“O design tem um papel fulcral na mudança de mentalidades, deve provocar a mudança na sociedade conservadora”, disse o criativo, acrescentando que as suas obras aludem ao universo BDSM, explicando que a sigla significa bondage, disciplina e sadomasoquismo, ou seja, é o prazer erótico que as pessoas sentem em causar e suportar dor, exercer domínio, punir e humilhar durante o sexo. O BDSM é frequentemente associado a adereços e acessórios feitos de metal, vidro, couro e algodão.

Peças recusadas em eventos
“Sei que não trabalho um tema fácil e já recebi vários nãos. Concorri a uma feira de design alemã e recusaram justificando que a minha temática é complicada para ser abordada em certos sítios”, revela o autor, que diz que estas recusas lhe têm dado força para continuar. De resto, recebeu logo nota positiva quando se candidatou à área da cerâmica na Mostra dos Jovens Criadores, concurso que estimula novos autores desde 1997.
A coleção com que Pedro Lobo concorreu divide-se em três: “Rope play”, “Impact play” e “Gag play”. “Rope play” consiste na aplicação de cordas sobre a cerâmica, recriando os padrões típicos da arte do shibari, uma técnica japonesa erótica que tem por base a imobilização através do uso de cordas.
“Impact play” implica a demarcação da cerâmica através do impacto de objetos slap. Nas peças “Gag play” aplicaram-se nas obras gag balls.
O artista considera que o próprio design “deve ser disruptivo e deve contribuir para que as mentalidades possam mudar”. Na sua opinião, cabe à própria disciplina “através do uso de propostas especulativas, tentar desafiar suposições e preconceitos, levantando questões sobre o papel que certos objetos têm no quotidiano”. Pedro Lobo considera que estas temáticas relacionadas com as práticas sexuais não são devidamente exploradas, “deixando as pessoas com vergonha de expor os seus fetiches, o seu corpo, os seus parceiros”.
Sendo a tradição uma parte fulcral deste projeto, todas as peças são conformadas através da técnica de olaria. Foram feitas por Miguel Neto, ceramista que tem tido um papel importante no desenvolvimento deste projeto, “não só pelas suas capacidades de oleiro, mas por eu ainda não ter as capacidades de um artesão com 30 anos de experiência, que acaba por trazer a autenticidade da cerâmica tradicional”, referiu Pedro Lobo a quem cabe a aplicação, a deformação e finalização das peças da coleção. Estas últimas foram feitas com pastas que toleram cozeduras de alta temperatura (1270º C) e, assim, as obras que ganham formas de contentores versáteis e não necessitam de vidrados.
É também uma forma de assumir o aspeto mais natural do barro, nos seus vários tons,“tal como acontece com a pele humana”. Na coleção existem algumas peças em barro vermelho vidrado, por terem sido as primeiras experiências e por ser uma pasta típica de se encontrar na olaria tradicional portuguesa.
O estudante da ESAD.CR já expôs na escola, no Caldas Late Night e em alguns certames internacionais ligados à entidade, como no Salone Satellite na Semana do Mobile, em Milão (Itália) e também na Semana do Design em Viena (Áustria). Algumas destas obras foram adquiridas por compradores internacionais.
Pedro Lobo pretende concluir o mestrado e, provavelmente, prosseguirá estudos académicos para doutoramento pois, no futuro, gostaria de dar aulas. Anseia ainda poder trabalhar no seu país, também gostaria de dar a conhecer esta coleção arrojada ao público desta região.

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Perfil

Pedro Lobo
designer

Recém-licenciado em Design Industrial e atualmente a frequentar o mestrado em Design de Produto na ESAD.CR. Um dos responsáveis pela oficina cerâmica da escola. A desenvolver tese de mestrado e a investigação baseia-se no papel do design na sociedade e em como este pode ser um agente transformador, na procura de uma mentalidade mais progressista. Considera-se um ativista em relação às problemáticas da sociedade e o seu trabalho projetual é de manifesto

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