
Mais de seis séculos depois de ter sido trasladada de Coimbra para Alcobaça, Inês de Castro voltou a ser rainha. O amor trágico entre a castelhana e D. Pedro, que durante séculos inspirou artistas e atraiu historiadores, está longe de morrer, não obstante os séculos que nos separam dos tempos em que os dois se enamoraram, mantendo uma relação adúltera que ameaçou a paz entre Portugal e Espanha. Pelo menos é essa a convicção dos académicos, historiadores e apaixonados por este episódio da História de Portugal que ao longo de quatro dias debateram o futuro desta história onde os factos se confundem com o mito, no Congresso Internacional “Pedro e Inês: o futuro do passado”.
Depois de três dias passados em Coimbra e Montemor-o-Velho, o congresso decorreu, a 31 de Março, no Mosteiro de Alcobaça, onde os restos mortais do casal repousam, “até ao fim do mundo”, nos túmulos considerados verdadeiras obras de arte. As duas arcas tumulares foram, de resto, protagonistas em muitas das conferências que ocuparam o dia, que abordaram o detalhe das esculturas de cada um, os saques de que estes foram alvo por altura das invasões francesas, entre outros aspectos.

As esculturas públicas que a Faculdade de Belas Artes está a construir em Moledo, na Lourinhã, para assinalar a passagem do casal histórico pela localidade e as diversas representações que a sua história motivou um pouco por todo o mundo também não foram esquecidas. O Mosteiro de Alcobaça acolheu mais de uma dezena de conferências que encerraram quatro dias “de ciência e de cultura muito ricos e enriquecedores”, considerou a coordenadora científica do encontro, Maria Helena da Cruz Coelho.
A professora da Universidade de Coimbra manifestou o desejo de ver publicado ainda este ano o resultado destes dias, onde participaram cerca de 50 conferencistas de Portugal, Espanha, E.U.A. e Brasil. Na sua opinião, “ficou mais rica a História de Portugal, a cultura e o património portugueses”.

Já o director do Mosteiro de Alcobaça, Jorge Pereira de Sampaio, congratulou-se com a aposta “num congresso científico desta categoria”. O historiador assumiu a programação-geral das comemorações dos 650 anos da trasladação de Inês de Castro de Coimbra para Alcobaça, encerradas após o congresso, e o seu trabalho mereceu rasgados elogios por todos os que marcaram presença na sessão de encerramento.
“Inês está viva em todos nós”
As comemorações voltaram a pôr na agenda um tema que tem tanto de popular como de erudito, como referiu o comissário das comemorações, José Miguel Júdice. “Inês não é morta e a prova disso é que o século XXI está a tratar mais o tema que o século XX, e este mais que o século XIX”, salientou.
O também proprietário da Quinta das Lágrimas, palco dos amores de Pedro e Inês, acredita que é bem possível que a

profecia se cumpra e que este amor trágico dure “até ao fim do mundo”. Mas para que isso seja uma realidade, “é preciso trabalhar”, exortou.
Esta opinião foi também partilhada por Ana Bívar, vice-presidente do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), que acredita existir “um desejo de conhecer mais e mais Inês”.
A representante da entidade que tutela o Mosteiro de Alcobaça considerou que o congresso e as comemorações inesianas deixaram bem patente que “Inês está viva em todos nós”, mostrando ainda a potencialidade de projectos que, em parceria, promovam o património. “Um país que comemora o seu património e a sua história é um país que se celebra a si próprio”, defendeu.
A parceria estabelecida entre as diversas entidades envolvidas nas comemorações foi fundamental para que a efeméride fosse assinalada em tempos de contenção. Se em 2005 havia centenas de milhares de euros para assinalar o aniversário da morte da Inês

de Castro, “os tempos hoje são outros”, salientou o presidente da Câmara de Alcobaça, Paulo Inácio, salientando o esforço feito por autarquias, associações e demais entidades. Uma ressalva feita também pelo director do Mosteiro de Alcobaça, Jorge Pereira de Sampaio, que apontou o facto de “mesmo em tempos de crise, estas Câmaras Municipais [Alcobaça, Coimbra e Montemor-o-Velho] terem apostado num congresso cientifico desta categoria”.
A falta de dinheiro não deve deixar morrer o que se alcançou com estas comemorações. “É legítimo esperar o compromisso de continuar os estudos de D. Pedro e D. Inês”, defendeu a Maria José Azevedo Santos, vice-presidente da autarquia de Coimbra. Até porque este episódio histórico “está vivo e presente no imaginário universal” e é “uma fonte inesgotável”, acrescentou a vereadora da

Cultura da autarquia da Montemor, Alexandra Ferreira.
Na cerimónia de encerramento das comemorações esteve ainda presente o presidente do Consello da Cultura Galega, Ramón Villares, que considerou que “sem Inês, D. pedro seria um rei vulgar”, e que por isso mesmo os galegos se sentem “participantes da construção do reino de Portugal”. Para Ramón Villares, “D. Pedro chega até nós com este acto de exorcismo da sua dor”, que foi a trasladação da sua amada para Alcobaça, ainda que seis anos depois de esta ter morrido a mando de seu pai, Afonso IV. Um acto “capaz de romper com a roda do tempo”.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt
Exposições para ver até 29 de Abril

Ainda que as comemorações dos 650 anos de trasladação de Inês de Castro para Coimbra tenham chegado ao fim, há três exposições em torno do tema patentes até ao próximo dia 29 de Abril, e gratuitamente, na Galeria de Exposições Temporárias do Mosteiro de Alcobaça.
“Inês Rainha” é a primeira proposta e dá conta das obras artísticas que o amor de Pedro e Inês tem inspirado. “Poetas, cantores, bailarinos, dramaturgos, actores, romancistas, pintores, todos nos ajudaram a prestar mais uma homenagem a Inês”, diz Maria Leonor Machado de Sousa, a comissária da exposição que se debruça sobre a bibliografia escrita em torno do tema.
A mostra reúne cerca de 300 títulos que fazem parte de diversas colecções, algumas delas particulares, como é o caso da de Tarcísio Vazão de Campos Trindade e José Gonçalves Sapinho, antigos presidentes da Câmara de Alcobaça, já falecidos.
“Relicários de Inês de Castro” é outra proposta, dando a conhecer pinturas e desenhos de Nélia Caixinha.

Trabalhos onde a artista “revifica o coração de Portugal, criando quadros-selos da nossa identidade espiritual que evocam o mito inesiano, os amores trágicos de Pedro e Inês”, refere a comissária da mostra, Luísa Barahona Possollo.
A última exposição é “7 trajes para Inês, 7 trajes para Pedro”, que mostra os trabalhos vencedores do concurso aberto a estudantes da área da moda, organizado pela Associação Amigos de D. Pedro e D. Inês, Mosteiro de Alcobaça, Museu Nacional do Traje e Museu do Design e da Moda.
São 14 propostas de vestuário contemporâneo, pensados para um Pedro e uma Inês do século XXI.
As exposições podem ser visitadas diariamente das 11h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h30.
J.F.






























