
Músico que vive nas Caldas fez música ambiente, inspirando-se nos sons que são produzidas na cutelaria
Inspirado nos movimentos e nos ruídos produzidos por cuteleiros da oficina de Paulo Tuna, nas Caldas, Paulo Vicente gravou o álbum “O martelo canta e dança antes de se levantar”. O músico vive no Oeste e há pelo menos duas décadas que se dedica à exploração sonora entre o jazz e as explorações do “ambient”.
Este disco – que saiu no ano passado – foi recentemente apresentado no Centro de Artes, no Atelier-Museu António Duarte no evento Domar o Fogo.
O músico combinou com Paulo Tuna que além de ferreiro e cutileiro é também artista plástico e gravou todos os sons referentes às diferentes fases necessárias para fazer uma faca. “Há uma certa alquimia na transformação dos metais”, disse o músico que quis captar essa magia do próprio processo e colocá-lo na sua música ambiental eletrónica.
No disco, com Paulo Vicente ainda participaram Luís Vicente (trompete), Joana Guerra (voz, flauta e violoncelo), Jerry the Cat (percussão). Este último músico, que é um pioneiro da música tecno. É oriundo de Detroit e agora também vive nas Caldas.
O quarteto irá apresentar este trabalho no ZigurFest, evento de música que se vai realizará no próximo mês de agosto em Lamego.
“A verdade através da música”
“Em termos sonoros, olho para a música como olho para a natureza, ou seja, deixo um campo aberto para o inesperado”, disse o músico, que é também um melómano. Toca sintetizadores e é também compositor e explorador sonoro. Paulo Vicente até usa a meditação como ferramenta no período prévio à criação da sua própria música com o mínimo de influências possíveis.
“Dedico-me à música ambiente eletrónica e não procuro fama ou seguidores nas redes sociais”, afirmou o músico, natural de Bragança e que é também engenheiro florestal.
Acrescenta ainda que no seu trabalho musical procura a verdade dentro de si, “através da música”.
Consciente que este tipo de som não é para massas mas está satisfeito com as críticas que vai recebendo ao seu som, que é diferenciado e até algo inesperado para quem ouve.
Paulo Vicente veio viver para as Caldas em 2019. “Nasci numa casa com milhares de discos de jazz”, contou Paulo Vicente, que com os seis irmãos, cresceu a ouvir Miles Davis e Charlie Parker.
Também faz parte do grupo Desterronics que se dedica à música improvisada.
Trabalhou com Vítor Rua, músico fundador dos GNR e que é também uma importante referência da música experimental e improvisada. É também o produtor dos primeiros discos de Paulo Vicente, um deles com sons captados durante uma viagem que o músico fez ao Nepal.
Na altura da pandemia este músico veio viver para as Caldas durante uma temporada mas Paulo Vicente decidiu ficar por cá.
O primeiro álbum que Paulo Vicente gravou por cá, em 2020, intitula-se “West” e inspira-se nos sons do Parque, da Mata, da própria cidade e das praias da zona. É pois um disco dedicado às paisagens do Oeste.
Em 2022 realizou o segundo trabalho “Céramique Électronique” inspirado na cerâmica de autor e com base nos sons que vêm do atelier 19b de Miguel Neto, também no centro da cidade. “Há sons incríveis desde o amassar do barro, a vidração ou sons produzidos pelo forno”, recordou o autor. Neste segundo disco de Paulo Vicente conta-se a história de como se faz uma peça de cerâmica, do amassar o barro à concretização final. Este trabalho, feito com base nos sons da cutelaria é o culminar de um tríptico de discos que o músico dedica às Caldas. A capa é do designer Carlos Quitério.
- “Também dedico este trabalho aos artistas e aos próprios ateliers de autor”, referiu o músico que teve o apoio da Câmara Municipal na aquisição de vários exemplares do disco. “O martelo canta e dança antes de se levantar” pode ser adquirido on-line e também em lojas de Lisboa e do Porto.































