“Palavras à flor da pele” é um concurso de crónicas que surge, pela segunda vez, no Colégio Rainha D. Leonor. No âmbito da disciplina de Português, os alunos do 10.º ano foram convidados a observar o mundo envolvente e a desenvolver espírito crítico relativamente à actualidade. O tema ficou ao critério de cada aluno, sendo o principal desafio o de estar atento à realidade e procurar, através das palavras, levar os outros a reflectir.
Quase todos os alunos participaram nesta iniciativa e as docentes ficaram satisfeitas com os resultados, pois, independentemente do lugar obtido, os alunos mostraram-se motivados e atentos ao mundo que os rodeia.
Tecnologie à la portugaise
“Ta-tche”
Hoje em dia, tudo se quer ta-tche, o microondas tem de ser ta-tche, os telemóveis têm de ser ta-tche, o frigorífico tem de ser ta-tche, a máquina de lavar a roupa tem de ser ta-tche, e por aí fora…
A grande promotora dos ta-tches foi a empresa da maçã branca; ainda me lembro do primeiro aifóne que saiu, uma verdadeira revolução! Um telemóvel demasiado grande para caber no bolso facilmente, (eram precisas várias tentativas e um elevado grau de concentração; diria até problemático, quando estávamos com pressa e aquilo que teimava em não caber no bolso) e com uma grossura que, quando comparada com os mais recentes modelos, parecia a do velhinho “tijolo”. De qualquer das maneiras e bem ao estilo da Apple e do seu representante máximo, Steve Jobs, o aifóne vendeu milhões de exemplares, tornando-se num enorme sucesso comercial. Porquê? Não só devido à promoção de que o telemóvel foi alvo, mas também pelo factor surpresa, inovação. Nunca ninguém tinha sequer ousado pensar que fosse possível manusear um telemóvel com uma só tecla, como é o caso de toda a gama de iPhones – um ecrã e uma tecla, não é preciso mais para controlar, não só um simples telemóvel, mas um verdadeiro computador.
A empresa da maçã fez uma forte aposta no mercado dos telemóveis, e com uma pitada de sorte, e muito marketing, conseguiu fazer frente à então “rainha dos telemóveis”, a finlandesa Nokia, que dominava por completo o mercado até a Apple se estrear nestas andanças. O aspecto do marketing foi talvez o ponto que maior responsabilidade teve no sucesso dos aifónes por esse mundo fora. Embora o preço não seja tão acessível quanto isso pela Europa, a verdade é que nos EUA se compreende bem o sucesso da marca, com preços sete vezes menores, entende-se bem o porquê do aifóne reinar no “novo continente”.
Steve Jobs achava que o ser humano precisava de sentir, verdadeira e literalmente, a tecnologia na ponta dos dedos. Dialogou lá com os companheiros laboratoriais da empresa das maçãs, e criaram a melhor tecnologia ta-tche do mercado. No que a ta-tches diz respeito, a maçã branca domina. Com a tecnologia criada, só faltava criar os produtos propriamente ditos, aqui Jobs não se fez rogado, criou uma linha de aipódes ta-tche, uma linha de aifónes ta-tche, e até transformou o velhinho méque num computador ta-tche.
Com o sucesso destes lançamentos, não faltou muito até outras empresas se juntarem à “grande maçã” na corrida pelo domínio da tecnologia ta-tche. Os lucros que a maçã conseguiu sorriam a muitas empresas já instaladas nos mercados internacionais, como a Nokia e a Acer, que, respectivamente, criaram telemóveis e computadores tácteis com os lucros que esta moda dos ta-tches acarreta.
E acabo o meu pequeno espaço como o comecei, hoje tudo se quer ta-tche, e hoje tudo se faz ta-tche, e enquanto esta moda não passar, vamos passar mais tempo na loja onde comprámos o telemóvel ou o leitor de música (ou o que for, a mandar reparar os riscos que o ecrã tem, do que a usufruirmos de tamanha invenção…Realmente, qual seria a intenção do génio que cria um produto que se estraga tão depressa e é tão facilmente destruído?
Daniel Cordeiro
Novo “a cor do horto gráfico”
É sabido que muitas revistas, jornais e outros elementos de comunicação social fazem já uso do novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa. A questão que pretendo colocar ao leitor é a seguinte: “Por que razão temos nós, os portugueses, de escrever como o povo do Brasil?”
Não quero, de modo algum, contestar a evolução das línguas, atente nisto. É certo que todas as línguas evoluem, lenta e gradualmente, à medida que certas palavras vão sendo alteradas quanto à sua grafia e fonia. Caso tal não sucedesse, não teríamos, hoje, a Língua Portuguesa que conhecemos. Mas este acordo, caro leitor, não se trata de evolução, pelo menos não da evolução que muitas línguas, assim como a portuguesa, têm vivido ao longo da sua história e da história dos seus países de origem.
Este novo acordo trata-se sim de uma subordinação face à língua brasileira, o que deixa, ou deveria deixar, o povo português deveras aborrecido. Falamos de uma antiga colónia de Portugal, que terá tido, no seu início, a Língua Portuguesa como sua língua oficial, mas que a terá moldado até chegar à língua que hoje é a brasileira. Queira o leitor perdoar-me a franqueza, mas parece-me pouco pertinente que um país subordine a sua língua a uma anterior colónia, e que passe ele a ser “uma colónia brasileira”. Correndo o risco de ser mal interpretado e julgado, direi que este acordo se trata de um acto colonial por parte do Brasil.
Este acordo não atende às tradicionais formas de evolução desta língua, apenas omite ou altera letras por conveniência, sem dar qualquer importância às relações entre a fonia e a grafia das palavras. Foca-se na omissão de letras que, segundo a comunidade mais carenciada de educação, “não fazem falta porque não se lêem”, mas que, segundo quem teve o privilégio de uma boa educação (como deveria ser o caso das encantadoras entidades responsáveis pela imposição do novo acordo ortográfico), se omissas, alteram a fonia e sentido às palavras, visto serem detentoras de uma função. Não serão os alunos dos dias de hoje, cujo comportamento levanta algumas questões, que terão uma voz mais alta do que anos de evolução linguística.
Talvez esteja enganado, talvez alguns dos mais recentes licenciados, mestres e doutores, que por vezes não sabem escrever ou enunciar o curso que tiraram, sejam, de facto, detentores da razão ao contrário das pessoas que, por sua vez, lutaram para conseguir ter bons cargos e para estarem em contacto com o conhecimento. Caso não aceitasse o “facto” de poder estar enganado, perderia toda a razão, e o caro leitor perderia a confiança nestas palavras. Mas, depois de reflectir sobre elas, creio que a sua opinião não diferenciará muito da minha.
Apesar de todas estas palavras, verdade é que a minha voz pouco importará para este assunto, mas se pelo menos alguém reflectir sobre este assunto e fizer uma avaliação imparcial e objectiva deste acordo, sei que o trabalho não terá sido em vão.
Jorge Mota
O típico “falar mal” Lusitano
É interessante observar e ouvir as tradições e toda a História que isso acarreta consigo. No entanto, há um específico costume português que raramente é mencionado: o de dizer mal. Dizer mal do vizinho, do amigo ou simplesmente da figura pública que nesse dia saiu na revista X com mais um escândalo verdadeiro ou não e que as pessoas tomam como certo.
Raras são as pessoas que, após lerem uma revista ou de ouvirem um boato seja de quem for, não vão de imediato comentar e opinar, ( nunca saindo do seu direito como é óbvio!).
Como diz o povo português: “Quem conta um conto, acrescenta um ponto”. Sejamos sinceros e deixemo-nos de patriotismo e digamos que o povo lusitano acrescenta bem mais que um ponto, na realidade, em certos casos, acrescenta uma história completa baseada apenas e só na vontade de falar. Não importa sobre quem, não importa sequer o assunto, desde que se fale.
Chega a ser irónica a forma como as coisas são contadas, pelo menos o começo dessas “novidades”. O início raramente é diferente, começa por: “ nem sabes o que a/o (-) fez, contou ou disse…” . Na maioria das vezes o locutor ouve com atenção e segue caminho com este comboio dos mais frescos boatos acerca de alguém que nem sonha que está a ser alvo de má língua.
No entanto, seria de todo errado dizer que esta regra se aplica a todos os portugueses, porque normalmente este “vírus” ataca muita gente, mas há sempre uma excepção à regra. Contudo, admitamos que às vezes se torna difícil fugir a este costume português, numa altura que é até na televisão se promovem “rubricas” cujo tema principal é: mandar abaixo o que vier à frente (e o que não vier), falar mal, dizer mal, dizer mal, dizer mal como se isto fosse como ir às compras. Chegamos a assistir a verdadeiras guerras televisivas do “diz que disse, diz que não disse, etc.”. Com tanto bombardeamento, qualquer pessoa alheia ao que acontece no nosso país diria que não há assuntos verdadeiramente importantes.
Como é que as crianças deste país farão para não serem iguais à regra deste povo? É que português que se preze não pode deixar que nenhum pormenor acerca de alguém escape e que não seja contado e espalhado pelo resto da cidade.
Pergunto-me a mim mesma se isto já não virá nos genes das crianças, é que agora se entrarmos no Jardim de Infância, até as raparigas mais pequenas já sabem criar intrigas e contar segredinhos umas das outras. Arrisco mesmo a dizer que as gerações futuras se encontram comprometidas e que em pouco tempo a fuga a este costume se esgota e poucos serão os que não falarão mal uns dos outros.
Um dia destes vamos todos acordar e em vez do telejornais teremos as telenovidades, ou seja, não deixam de ser noticias, nem deixam de ser na televisão, mas em vez de noticias dos país serão noticias da pessoa A, que fez B, e que disse C, e assim se passará a hora dos telejornais.
Mas quem sou eu para denunciar isto tudo? Apenas uma estudante que gosta de observar e ouvir, não negando que já tenha feito o mesmo, mas com toda a certeza que enquanto puder fugir a esta regra, o fará sem alguma hesitação.
Rafaela Afonso






























