

Entre danças e contos, um grupo de pais e filhos passou a noite de 28 para 29 de Abril na Biblioteca das Caldas. A iniciativa “Uma noite na Biblioteca… palavras à solta!” dificilmente será esquecida por pais e petizes caldenses, com idades entre os seis e os 11 anos, que podem agora contar como é adormecer e acordar onde os livros moram. Gazeta das Caldas também viveu esta experiência e conta como foi o serão e a madrugada, vivida entre palavras, novos passos de dança, histórias e convívio entre pais e filhos, nem sempre fácil na correria do dia-a-dia.
“Embora lá! Todos a entrar na roda!”. O apelo é feito por Rita Duarte, monitora da Associação Pé de Xumbo a um grupo de 25 pessoas, dando assim as boas-vindas à iniciativa da Biblioteca. São quase 21h00 e agora faz-se o jogo da apresentação: “Dizem o vosso nome e fazem um movimento!”, pede a monitora. E assim foi: Manuel (um passo em frente), Ana (colocar a mão na cintura), Nuno (um estalar de dedos) e cada participante tem que dizer o nome do conviva e fazer o movimento proposto. Tudo pronto para iniciar as danças do mundo: primeira a valsa, onde era necessário trocar de par, permitindo a pais e filhos interagir. Entre danças de filas e a pares, experimentaram-se passos oriundos da Dinamarca e de Israel. A tradição portuguesa não foi esquecida e as danças Dobadoura e Erva Cidreira foram aprovadas pelos participantes que aprenderam assim passos básicos que ainda hoje se praticam e que a Pé de Xumbo recolhe.
“Adaptamos os passos básicos de várias danças do mundo e actualizamos as canções, juntando algumas melodias renovadas”, disse a monitora Rita Duarte, no final da actividade, com pena de não poder ficar para viver o resto do serão, dado que ainda tinha que regressar Lisboa.
Contos nocturnos ganham ao sono
São agora 22h30 e a bibliotecária Aida Reis propõe uma ceia. Chá, sumo e leite com chocolate, acompanham bolinhos e permitem recuperar o fôlego para uma nova proposta. Mafalda Milhões e Paulo Santos são contadores de histórias. Ela trouxe alguns livros e ele a viola. À vez, e em despique, narram contos da tradição oral e popular. Fazem-no com mestria, ritmo e dinamismo, conquistando de imediato os presentes. A história das Matrioskas, do Macaco do Rabo Cortado e do Tambor foram algumas das Apropostas deste serão.
A chegada a meia-noite foi o pretexto para contar uma ou duas histórias de arrepiar. Mas o adiantado da hora também trouxe o cansaço e …o sono. Os mais novos cedem e começam a encostar-se no ombro ou no colo dos pais, sem deixar de escutar e de responder à interacção pedida pelos contadores.
Mafalda Milhões gosta da ideia de ter “a Biblioteca aberta a todas as horas”. A convidada é uma contadora de histórias muito experiente que já tinha participado em acções semelhantes em Oeiras e ficou satisfeita com a atenção dos participantes, sobretudo porque há muito que não contava histórias ao serão em eventos públicos.
Para Paulo Santos, a arte de contar histórias vem de casa. O obidense tem seis filhos (com idades entre os 22 e os dois anos) e, como tal, audiência sempre garantida. Gosta de fazer experiências com a leitura e há muito que queria fazer uma iniciativa como esta com Mafalda Milhões. Ambos reconheceram que se viveram momentos agradáveis dado que houve “um encontro muito próximo entre quem conta e quem escuta”. Agora os contadores querem preparar-se para uma segunda vez que acham que deveria ser “com os mesmos participantes”, mas trazendo-lhes novas histórias. “As tribos dantes faziam muito isto em volta do contador” que, por norma, “era o guru da aldeia”, disseram.
Depois das despedidas e esclarecidos os pormenores sobre as histórias, os participantes foram à sala dos audiovisuais buscar as malas e os sacos-cama para os estender no auditório da Biblioteca. Alguns aproveitam para ir buscar livros às estantes enquanto que alguns pais passam os olhos pelos jornais do dia, aguardando por mais sono.
O auditório onde normalmente acontecem as conferências dá agora lugar a uma mega-camarata colectiva. Foram colocados colchões de ginástica e cada participante, acompanhado pelo filho ou filha estendeu o seu saco-cama. Feita a higiene, hora de apagar as luzes e descansar, até o sol raiar.
Chilrear dos pássaros e pão fresco ao acordar
Oito horas da manhã e ouve-se o chilrear dos pássaros cá fora. Alguma luz entra agora na camarata. Levantam-se os primeiros madrugadores, partilham-se os bons dias e comenta-se como foi passada a noite. Cá fora, na antecâmara de acesso ao auditório, a mesa da ceia dá agora lugar à do pequeno almoço com pão fresco, leite, sumos e chá. Mais dois dedos de conversa. Desta vez para partilhar como foi vivida toda a actividade. As opiniões não podiam ser melhores e há quem gostasse de repetir a experiência.
Nuno Pina, o pai de Santiago, de oito anos, achou que valeu a pena viver esta noite na Biblioteca. “Os contos nocturnos são uma óptima ideia” e deixou com sugestão serem acordados também com uma história. O seu filho salientou as decorações do auditório, relacionadas com a transformação do espaço em camarata.
Teresa Miguel acompanhou Constança Sousa, de nove anos, e salientou a boa organização do evento, dado que já tinha participado noutros semelhantes.
“Fomos muito bem tratados”, disse, referindo-se aos monitores escolhidos, sem esquecer de referir as refeições proporcionadas aos participantes. Achou que os mais novos se divertiram e que os pais também passarem bons momentos. “Depois de um dia de trabalho a actividade da dança foi divertida para descontrair”, rematou.
Anabela Santos que veio com Francisca, de 8 anos, referiu que se viveu “a desconstrução da imagem da biblioteca normal”, disse. Os contos à noite “são uma óptima ideia” e a dança permitiu conhecer o grupo, num local onde por norma “não se pode fazer barulho”.


Maria Santos trouxe os dois filhos, Rita e Ruben, de seis e oito anos. Todos adoraram as duas actividades e acham que a iniciativa se deveria repetir e servir para apresentar a biblioteca à comunidade. “Esta é subvalorizada, deveria ter mais atenção porque é optima sobretudo na área juvenil”, disse Maria Santos.
Contente estava a bibliotecária Aida Reis com a forte adesão à iniciativa. A noite na Biblioteca serviu para assinalar as duas décadas de existência deste espaço, assim como o Dia Mundial do Livro e do Livro Infantil. “Estava na hora de fazer algo novo e diferente”, disse a responsável, acrescentando que “os mais novos guardarão boas memórias desta noite especial”, rematou.
Aida Reis espera poder voltar a repetir esta iniciativa, tendo em conta o entusiasmo que colheu entre leitores graúdos e miúdos. N.N.






























