O colectivo artístico Osso está instalado em S. Gregório, uma aldeia caldense onde desenvolvem residências artísticas desde o ano de 2018. Para ali convidam artistas nacionais e estrangeiros que, em conjunto, desenvolvem vários projectos culturais, onde procuram integrar a comunidade e o território local. Um projecto que une os mundos rural e da arte contemporânea.
Desde 2018, a associação OSSO está a desenvolver um projecto de residências artísticas na aldeia de São Gregório, no concelho das Caldas. O colectivo, formado em 2012, inclui artistas e investigadores que se dedicam à programação e à investigação transdisciplinar.
Os projectos, de cariz experimental, têm a conta a especificidade dos contextos e territórios nos quais se inserem. Depois de ter desenvolvido trabalho em contexto urbano (concelho de Lisboa e Oeiras), a paisagem e a comunidade rural de São Gregório pareceu-lhes um local “desafiante para continuar a desenvolver projectos que, mantendo um especial foco na criação e investigação artística contemporânea de carácter transdisciplinar, se dedicam a pensar e actuar sobre a especificidade dos territórios onde se inserem”, explicaram os responsáveis Ricardo Jacinto e Nuno Torres, que acrescentaram que a escolha do local se deveu a um historial de relação profissional e familiar de vários membros da OSSO com a região Oeste.
Além do mais, S. Gregório oferece as condições de concentração, tornando-se no local ideal para implementar um espaço de criação e investigação artística contemporânea. A proximidade com a ESAD, a presença de alguns docentes na associação e as ligações a outros colectivos, como o Grémio Caldense, contribuíram para que o grupo se sediasse naquela aldeia caldense.
Ao todo são 15 pessoas, entre artistas, investigadores e técnicos que privilegiam a práctica transdisciplinar e que que estão sediados em São Gregório, procurando profissionalizar a associação. Há cinco elementos no núcleo prinicipal que se dedica a tempo inteiro às actividades do Osso e um conjunto de outros que participam de forma pontual.
ENVOLVER A COMUNIDADE
Ao todo, esta associação cultural já soma 26 projectos de residência, na sequência das quais organizaram publicamente quatro workshops para crianças e idosos, dois momentos de cinema na aldeia e três dias abertos com acesso livre por parte da comunidade a exposições, concertos, espectáculos de marionetas e poesia, conversas e refeições comunitárias.
“Temos muita vontade de voltar a abrir portas e voltar a fazer do nosso espaço um ponto de encontro”
Colectivo da Osso
Também colaboraram em 30 concertos e performances nos últimos dois anos, programados pelo Grémio Caldense e que se realizaram em vários espaços da cidade.
Para além das residências artísticas de criação e investigação – onde acolhem e produzem os projectos dos seus membros associados – a associação também apoia o desenvolvimento de projectos de artistas externos ao colectivo. No início deste ano lançaram os primeiros open calls internacionais, “desafiando os candidatos a pensarem propostas e formatos de apresentação que estabeleçam uma abordagem relacional com a paisagem e comunidade local”.
Estas chamadas internacionais dão continuidade ao chamado “Projecto Aldeia”, iniciado em 2018 e através do qual convidam artistas para desenvolverem projectos de residência de média e longa duração que procuram interpelar as especificidades físicas e humanas deste território, bem como a sua história.
PROJECTOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
Em Outubro de 2019, a OSSO iniciou um novo projecto designado Dia Aberto, que prevê a abertura pontual do espaço à comunidade. A população de S. Gregório pode assistir informalmente à apresentação dos projectos de residência de criação em curso, conhecendo os artistas através de concertos, workshops, visionamento de filmes, conversas ou refeições comunitárias.
Tanto as residências do projecto Aldeia como os Dias Abertos têm focado, especificamente, a articulação com a comunidade local e a Osso quer dar-lhes continuidade. “Temos muita vontade de voltar a abrir portas e voltar a fazer do nosso espaço um ponto de encontro”, dizem os responsáveis.
A associação é financiada pela Direção-Geral das Artes e tem estabelecido parcerias com entidades locais, regionais, nacionais e internacionais. Entre as locais conta-se a União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, Centro de Apoio Social Freguesia de São Gregório, Ginásio Clube São Gregório, Escola Primária de São Gregório e a Banda Filarmónica de Alvorninha. Juntam-se a Câmara, o Centro de Juventude, CCC e Centro de Artes. A nível nacional trabalham com a Sonoscopia, as Oficinas do Convento, os MILL – Makers in Little Lisbon, o estúdio FISGA e a stress.fm.
Na formação e investigação trabalham em parceria com a ESAD, o SARC – Queen’s University Belfast, CIAC – Centro de investigação – Univ. do Algarve e o GIEP – Grupo de investigação em Estudos Performativos.
Durante o confinamento, a Osso dedicou-se a rever o seu plano de actividades e vai dar início a um novo projecto, que entre outros dispositivos “incluirá uma rádio local e temporária em FM”, que “complementa a presença on-line”, em que, acreditam, pode vir a ser “motor para a continuidade das actividades junto da comunidade local”.
Uma das principais ideias desta associação é a implementação no espaço e na aldeia de um conjunto de dispositivos que permita continuar a receber propostas de artistas, nacionais e internacionais, que interpelem o território e comunidade onde a Osso está sediada.
Um momento de imensa fragilidade e incerteza
A Osso está preocupada com o impacto económico da pandemia no tecido cultural português e internacional. “Este é um momento de imensa fragilidade e incerteza para muitos artistas e agentes culturais pelo impacto causado pelo cancelamento dos eventos”, dizem Ricardo Jacinto e Nuno Torres. Neste contexto, alertam o público para o facto da maioria dos artistas e técnicos serem trabalhadores independentes ou com contratos informais. E consideram que as medidas apresentadas até agora pela ministra da Cultura revelam “um profundo desconhecimento do modo heterogêneo como funciona a economia cultural em Portugal”. No entanto, segundo os elementos da Osso, a associação pretende continuar a desenvovler os seus projectos em S. Gregório e também nas Caldas da Rainha.






























