A adaptação para filme da obra Os Maias revelou-se uma surpresa para os cerca de 180 espectadores que estiveram no grande auditório do CCC na passada quarta-feira, para a sessão das 21h30. A apresentação da obra, por parte de Hugo Mestre Amaro, bem antes do filme começar foi apenas mais um pormenor, numa obra toda ela singular de João Botelho. O realizador conseguiu conferir-lhe um ar de teatro para o qual muito contribuíram os cenários pintados a óleo por João Queirós, alguns dos quais mediam 40 metros de comprimento e 12 de altura. Os actores estiveram bem, a participação do caldense Graciano Dias (Carlos da Maia) foi irrepreensível, mas Pedro Inês (no papel de João da Ega) deu outra magia à obra graças a uma interpretação que soube tirar partido do carácter satírico do personagem.
A história de Os Maias continua, 150 anos depois, muito actual. Se, na altura foi uma crítica ao país e às suas elites, à política, à economia e à corrupção, o que ficaria por criticar num romance homónimo actual? Nada. É que, bem vistas as coisas, o país não mudou assim tanto. Por isso, a obra de Eça de Queiroz permanece tão actual.
A adaptação para a grande tela poderia ter sido feita de muitas outras formas e servir outros propósitos, mas este filme conta a história que o realizador queria contar com os meios de que dispunha. “Os meus Maias não são os Maias do Eça de Queiroz, são uma parte” afirmou o realizador, à Gazeta das Caldas.
João Botelho já tinha passado para a tela O Livro do Desassossego (Fernando Pessoa) que considera “o maior romance do século XX”. Depois disso o seu maior desafio foi precisamente realizar Os Maias. Em sua opinião, neste romance o velho Afonso da Maia (interpretado por João Perry no filme) simboliza Portugal. Um Portugal que morre com a morte do próprio Afonso da Maia.
O realizador explicou também que a ideia dos cenários tem uma dupla vertente: artística e económica. Ou seja, a falta de recursos para apostar numa grande produção em termos de recreação histórica levou a uma solução artística que resultou muito bem.
“DÂMASO”
GOSTOU DAS CALDAS
Hugo Mestre Amaro, actor que desempenhou Dâmaso Salcedo deste filme e que tem acompanhado a sua projecção na digressão nacional, não conhecia as Caldas e o que mais o impressionou foi a Praça da Fruta.
Quando chegou à cidade notou, com agrado, a existência deste mercado e não perdeu a oportunidade de ali adquirir alguns produtos. “E também visitámos uma loja de louças onde comprámos alguns presentes de Natal” contou à Gazeta das Caldas.
O actor gostou também de conhecer o café Os Capristanos com a sua porta giratória e todo o movimento de pessoas e autocarros que circunda o café.
Quanto à cidade, “é muito limpinha, muito típica”, disse Hugo Mestre Amaro, queixando-se do frio e da falta de tempo para a conhecer melhor. Para além disso, realçou as condições do CCC e a forma como foram acolhidos. “Este auditório é uma mais valia para as Caldas da Rainha” concluiu.
Estava também prevista uma sessão para as escolas às 14h30, mas devido à grande procura por parte dos agrupamentos escolares caldenses, esta foi antecipada por outra sessão às 11h30. Ao todo, 660 alunos e professores viram o filme no CCC.
Isaque Vicente
ivicente@gazetadascaldas.pt
Cenários do filme foram pintados por João Queirós
O pintor João Queirós foi o responsável pelos cenários do filme “Os Maias”. O artista esteve nas Caldas no passado mês de Novembro, – a participar numa das tertúlias promovidas pelo Casal da Eira Branca e pela Editora Abysmo – e contou à Gazeta das Caldas que aceitou o desafio de fazer os cenários para o filme de João Botelho, “Os Maias”. O tempo em relação aos trabalhos cinematográficos é bem diferente do tempo necessário ao desenvolvimento dos seus trabalhos artísticos. À Gazeta, o pintor comentou que a execução das pinturas dos cenários “foi uma encomenda, que teve que ser feita num curto espaço de tempo”. Este artista também já realizou uma grande exposição no Atelier-Museu António Duarte, no ano 2000, da qual fizeram parte 180 desenhos seus a carvão.
N.N.






























