Obras de arte de Óbidos restauradas em Tomar

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A tela “Lamentação de Cristo Morto”, de Josefa de Óbidos, está a ser restaurada no Instituto Politécnico do Tomar, ao abrigo de um protocolo estabelecido entre essa instituição de ensino superior, a autarquia de Óbidos e a paróquia de Santa Maria. O acordo prevê o restauro de mais 11 obras sendo um importante contributo para a conservação do património obidense, sobretudo o do Santuário do Senhor da Pedra.

Datada de 1670, a “Lamentação” é uma das obras mais importantes da pintora obidense Josefa de Óbidos e uma das várias telas que adorna a igreja de Santo António, em A-da-Gorda. Recentemente foi retirada do templo para ser restaurada no Instituto Politécnico de Tomar, por vários especialistas, no âmbito de um protocolo estabelecido com a autarquia e paróquia de Óbidos. Esta obra emblemática é a primeira, mas o acordo prevê a intervenção num total de 12 peças, que compreendem todo o ciclo de pintura do Santuário do Senhor Jesus da Pedra.
De acordo com Sérgio Gorjão, técnico superior da autarquia e especialista na obra da pintora obidense, a “Lamentação” é uma peça revelante pela sua qualidade e que nunca foi apresentada em qualquer exposição sobre Josefa de Óbidos.
O responsável destaca que a pintora tem vindo a ser valorizada no contexto da arte nacional e internacional nos últimos anos, com a realização de várias exposições nos Estados Unidos, Itália, França e também Portugal. “Neste momento é consensual que ela é uma grande representante da pintura peninsular do século XVII”, disse, realçando que este é um século com uma superabundância de arte.
Sendo Óbidos a terra que acolheu Josefa durante quase toda a sua vida e o local para onde ela produziu bastante, “deve ter o seu património devidamente tratado para poder ser também fruído do ponto de vista cultural”, referiu à Gazeta das Caldas.
Para além desta obra, existem outras da mesma autora, e algumas delas a necessitar de tratamento, espalhadas pelo concelho, nomeadamente nas igrejas do Vau, A-da-Gorda e Santa Maria.
Para além da mais-valia dos restauros serem feitos em contexto pedagógico, existe também a vertente económica, permitindo aos parceiros não despender de grandes custos na intervenção.
“Conservação deve ser um acto contínuo”

Sérgio Gorjão considera que a conservação deve ser um acto contínuo e que é importante que as peças sejam estudadas e que sejam criadas linhas de comunicação para a sua divulgação. “Pode ser através de visitas virtuais, da integração destas peças em exposições temporárias ou da visitação dos locais onde estão expostas”, exemplifica, manifestando que o património da Josefa ainda tem espaço para ser mais divulgado em Óbidos.
“Todo este património precisa de ser tratado para ser apresentado ao turismo, mas sobretudo à comunidade cientifica, aos investigadores, às pessoas que gostam de cultura e arte e ao ensino, senão vamos perder este conhecimento nas novas gerações”, advertiu. Por isso é importante aproveitar e expor todo esse potencial porque é isso que “faz com que Óbidos seja um local atractivo”.
Sérgio Gorjão lembra que em Óbidos existem quatro órgãos históricos (todos pertença da Igreja), mas que neste momento só um é que funciona e, mesmo esse,  precisa de manutenção. Trata-se de uma das poucas terras com esta oferta, pelo que defende o seu restauro e o aprofundamento do seu estudo e interpretação.
Para o responsável, que já foi director do Museu Grão Vasco, em Viseu, os proprietários devem ser os primeiros a dar o passo para tentar encontrar soluções de conservação. Contudo, as instituições públicas não podem deixar de estar ligadas a este género de projectos, até porque são “bastante dispendiosos, exigem vários parceiros e um compromisso e empenhamento das entidades que estão a trabalhar directamente com o património e a cultura”, realça. Sérgio Gorjão considera também que, em muitos dos casos, dizer que a falta de manutenção é devida à falta de dinheiro é “muito redutor”, defendendo a procura de soluções através de parcerias, fundos comunitários, ou mecenas. “E aí se calhar a autarquia está num papel de negociador muito mais activo do que outras instituições”, disse, lembrando que foi o que aconteceu com o protocolo agora firmado.

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Quadro de Josefa de Óbidos leiloado em Nova Iorque veio para Portugal
O quadro “A Sagrada Família com São João Batista, Santa Isabel e Anjos”, leiloado em finais de Janeiro pela companhia Sotheby’s, em Nova Iorque, vem para Portugal. A Santa Casa da Misericórdia do Porto adquiriu a obra de arte datada de 1678 por 228 mil euros,  a qual será apresentada publicamente a 14 de Março, dia de aniversário da Misericórdia.
Em Março uma outra obra de Josefa de Óbidos vai ser exposta, pela primeira vez, no museu do Louvre, em Paris, depois de ter sido doada ao museu por um galerista português, Filipe Mendes.
Este luso-descendente é dono de uma galeria de arte em Paris e comprou o quadro num leilão há um ano, por 240 mil euros.  Esta obra irá integrar uma secção de pintura portuguesa que o museu de Paris irá ter.

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