Foi no Latitudes – Literatura e viagens que foi dado o pontapé de saída para as comemorações do Ano Magalhânico, a decorrer em vários pontos do mundo entre 2019 e 2022, e que estarão também em destaque na próxima edição do Fólio, em Setembro.
O festival, que decorreu na vila entre os dias 26 e 29 de Abril, promoveu o encontro entre viajantes, escritores e outros artistas que partilharam a sua maneira de ver, percorrer e percepcionar o mundo.
Nascido em Sabrosa (distrito de Vila Real), foi ao serviço do rei de Espanha (depois de um desentendimento com o monarca português D. Manuel) que o capitão da armada Fernão de Magalhães empreendeu a primeira viagem de circum-navegação, que decorreu entre 1519 e 1522. Foi o primeiro a alcançar a Terra do Fogo, no sul do continente americano, a atravessar o estreito que ganhou o seu nome e a cruzar o Oceano Pacífico. No entanto, o comandante português não viria a terminar a viagem (que foi depois chefiada pelo basco Sebastian Elcano) porque foi morto em batalha nas Filipinas.
Cinco séculos depois assinala-se o feito que está na base da globalização e da visão integral do mundo. O pretexto ideal, segundo José Manuel Marques, coordenador da estrutura de missão que organiza as comemorações, para as várias localidades do mundo se colocarem em rede. “É uma janela de oportunidades para todos, especialmente para os territórios ligados à viagem”, disse o também ex-autarca de Sabrosa, numa conversa que partilhou com o embaixador do Chile em Portugal, Gérman Guerrero, no Festival Latitudes.

O Chile é dos países que mais referências tem ao navegador português. Há uma província com o nome de Magalhães, assim como um clube de futebol e escolas, e o objectivo, de acordo com o embaixador, é que um maior conhecimento sobre Fernão de Magalhães se entenda a todo o país. O programa, que está a ser definido, assenta em três eixos: conhecimento, economia e cooperação, e pretende abranger além dos governos e municípios, também as redes de escolas e universidades e agentes culturais.
Também Óbidos, “pela dimensão cultural que tem já está na embarcação da frota da circum-navegação”, disse José Manuel Marques, que já reuniu com Humberto Marques para trabalharem em conjunto. À Gazeta das Caldas o autarca explicou que a próxima edição do Folio será uma espécie de lançamento das comemorações.
“Óbidos também gostaria de ter aqui uma reunião com todos os autarcas do mundo que estão ligados a esta viagem para podermos estabelecer relações entre todos”, acrescentou o autarca, que contará com a ajuda do presidente da estrutura de missão para ajudar nesta estratégia. Além disso, a temática também será abordada pelo município nas suas acções de internacionalização.
Do contacto com o embaixador do Chile em Portugal saiu a possibilidade da vinda de autores deste país para participar no Folio, assim como do Uruguai e do México.

Viagem pelas imagens, música e palavras
A apresentação performativa do livro “Silêncio”, por João Francisco Vilhena e Pedro Oliveira, encerrou esta primeira edição do Latitudes, na tarde de domingo. Imagens, música e palavras unem-se num livro, que está a ser trabalhado há mais de uma década e que levou os autores à Islândia, deserto do Sahara e Serra da Estrela.
“Quando demos o nome Silêncio ao projecto queríamos ir para territórios muito longínquos, onde a presença das pessoas fosse ínfima e a paisagem de alguma maneira fosse agreste, no sentido de não ter uma presença forte em termos de matéria”, sintetizou o fotógrafo João Francisco Vilhena. O amigo de infância e músico, Pedro Oliveira compôs as músicas e Mega Ferreira escreveu um texto, que intitulou de “Longe”.
O mesmo auditório que acolheu o espectáculo, foi mostra dos desenhos do concelho e da vila de Óbidos feitos pelos Urban Sketchers e pelo Grupo do Risco.
Foi também lançado o prémio Latitudes Viagens & Vantagens 2018, destinado a fomentar o número e a qualidade dos blogs sobre viagens e turismo em Portugal.
O galardão vai “eleger e premiar os melhores trabalhos que encontrarmos na literatura digital”, explicou Francisco Sequeira Esteves, director do programa Viagens & Vantagens da Via Verde, entidade promotora da iniciativa. O júri será composto por representantes da Via Verde, Sociedade Vila Literária e Turismo do Centro e avaliará a qualidade dos trabalhos que mostrem os “destinos de forma única e que tenham um cunho pessoal”, acrescentou.
No final do evento o presidente da Câmara, Humberto Marques, mostrou-se satisfeito com o festival. “Nunca tivemos a expectativa de atrair milhares de pessoas pois este não é um evento de massas, mas para um público específico que também queremos em Óbidos”, disse, acrescentando que as várias iniciativas cativaram o interesse dos participantes.

A latitude do olhar
O primeiro andar da Casa Saramago é, até finais de Maio, uma montra do mundo. Pelas paredes estão dispostas cerca de 180 imagens representativas de praticamente todos os continentes. “Só não está representada a Antártida”, disse Pedro Mota, autor, juntamente com o espanhol David Rollán, da exposição “A latitude do olhar”.
Ali podem ser descobertos muitos países, mas essencialmente vários povos, até porque grande parte das imagens são de rostos. Algumas delas com uma aproximação tal que permite que se veja o fotógrafo reflectido na pupila do fotografado. Imagens que só se conseguem depois de terem ganho a confiança destes povos com quem se cruzam, dizem os autores.
“Não somos fotógrafos que passam e tiram a fotografia, nós ficamos, conhecemos a família e só algum tempo depois é que começamos a fotografar”, referiu Pedro Mota, acrescentando que por ganharem esta confiança depois também ficam a conhecer as suas histórias e lendas.
Viajar de forma sustentável
“The Wanderlust” é uma agência de viagens original que planeia autênticas aventuras para quem tem o desejo de conhecer o mundo de forma responsável e sustentável. Entre os “aventureiros” clientes desta agência está o oestino Tiago Fidalgo, que apresentou a viagem que irá liderar, em Agosto, ao Uzbequistão (Ásia Central).
De acordo com o jovem, natural do Paínho e residente nas Caldas, a sua forma de viajar é diferente, primando por coisas menos comerciais e mais autênticas. E isso exige um planeamento rigoroso. O Uzbequistão, por exemplo, é um país com muita burocracia. A obtenção do visto é a primeira dificuldade porque não há embaixada em Portugal e este tem que ser tratado em Madrid ou em Paris. Depois há o problema de, no país, apenas ficar em hotéis registados, assim como da troca de dinheiro.
“A única exigência é que seja alguém com mente aberta, que possa respeitar as pessoas e viver a experiência na íntegra”, disse Tiago Fidalgo, que exorta as pessoas a aventurar-se e a saírem da sua zona de conforto.
A “The Wanderlust” pretende também desenvolver projectos que beneficiam as comunidades locais a nível social, cultural e ambiental. No Uzbequistão ainda não apoiam nenhum projecto em concreto, mas a sustentabilidade está nas práticas do dia a dia, como por exemplo, ao escolher os restaurantes e utilizarem os transportes locais. “Só utilizamos um avião durante todo o percurso”, rematou Tiago Fidalgo que, a nível pessoal, pretende conhecer melhor África.
Celeste Afonso demite-se da ATO
Celeste Afonso demitiu-se de secretária executiva da Associação de Turismo de Óbidos (ATO) invocando motivos pessoais. Mas continua a exercer as funções de directora executiva da Óbidos Cidade Criativa da Literatura, um serviço criado pela autarquia que tem por objectivo dinamizar e dar sequência à estratégia Óbidos Vila Literária.
Celeste Afonso é professora requisitada ao Ministério da Educação para estar ao serviço da Câmara de Óbidos.
A responsável escusou-se a comentar esta decisão. F.F.































